Vinte

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Noah Urrea

Aquela noite com a Any foi como descarregar um peso imensurável das minhas costas. Ao invés de tristeza, tudo o que eu fiz foi ficar imerso em pensamentos sobre o quanto eu estava mudando ultimamente. Foi difícil ter que admitir que eu estava diferente, mas agora era fácil para mim enxergar isso. E ainda bem que eu estava mudando, porque eu me sentia muito melhor e passava menos tempo estressado comigo mesmo.

Olhei para Any e a observei dormindo logo depois que nós acabamos de transar. Não me admirava o fato de ela ter ficado tão exausta, eu realmente exigi muito dela.

Como era de costume, eu fiquei de pé e procurei as minhas roupas, me dando conta de que elas estavam espalhadas pelo apartamento e a única peça no quarto era a minha cueca. Vesti e olhei novamente para Any, parando um pouco para observá-la melhor. E como já havia acontecido outras vezes, aquela vontade de ficar me atingiu.

O celular de Any, que estava sobre a mesinha de cabeceira, vibrou e eu dei uma breve olhada involuntária.

"Nova mensagem de Mel U."

Bufei e sentei na cadeira que estava ao lado da janela. Eu sabia que seria inevitável trombar com a Melanie por aí, mesmo que Any tivesse prometido que não me pediria mais para fingir ser o seu namorado. A questão era que eu vi nos olhos da minha mãe que ela queria me dizer algo e que em breve me procuraria. Eu só não gostaria que ela importunasse a Any com essa história, porque assim como eu, Any era só uma coadjuvante que não fazia ideia dos detalhes principais e não tinha que lidar com isso.

Fiquei horas ali sentado, pensando sobre tudo e me deixando absorto nas minhas preocupações. Eu tinha que contar ao meu pai, mas como eu faria isso? Quais seriam as melhores palavras? De forma consciente ou não, eu acabei ficando no apartamento de Any mais tempo do que o pretendido, mais do que as nossas regras permitiam.

Ela começou a se mexer e espreguiçar até abrir seus olhos, deixando-os cerrados pelo sono. Any pareceu confusa ao olhar para mim e demorou alguns segundos até raciocinar e dizer alguma coisa.

— Que horas são?

— Três ou quatro da manhã...? — falei um pouco incerto.

Ela sentou na cama, o lençol cobrindo sua nudez.

— Você está bem?

— Em parte. — dei de ombros. — Ah... Any?

— Sim?

— Eu posso... — pigarreei. — Posso dormir aqui?

Any arqueou as sobrancelhas em surpresa, mas assentiu positivamente.

Levantei da cadeira, fui até a cama e deitei ao seu lado, de frente para ela. Ficamos encarando um ao outro, perto demais, porém sem nos tocarmos. Aos poucos, Any tornou a fechar seus olhos devagar de forma sonolenta. A observei por mais alguns minutos até entornar seu corpo com um dos braços e trazê-la para perto, apoiando o meu queixo no topo de sua cabeça. De forma instantânea, ela me abraçou e se aconchegou em meu peito.

Meu sono chegou muito rápido, o que foi surpreendente dado o tempo que eu fiquei apenas pensando sobre a vida, quase deixando a insônia tomar conta dos meus sentidos.

Acabei acordando mais cedo do que ela. Agora estávamos de conchinha. Os cabelos dela estavam espalhados pelo meu rosto e sua cabeça apoiada em meu braço. Respirei fundo sentindo o perfume dela que agora tomava conta do ambiente. Fechei meus olhos novamente só para aproveitar mais um pouco aquele momento, querendo ter mais alguns segundos do corpo de Any junto ao meu.

Decidi sair da cama e a afastei cuidadosamente, evitando que ela acordasse. Fui até o banheiro e comemorei ao ver que Any tinha uma escova de dentes nova que eu poderia usar. Fiz as minhas higienes, saí do quarto e depois de avistar a minha calça jogada sobre sofá, eu a peguei e vesti, indo direto para a cozinha.

Enemies with Benefits ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora