If world was ending

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https://youtu.be/I1Vacr3kiZc?si=c46LImao99UJNGV2



Estava distraído no trânsito. Sempre no trânsito.

Sem um lar, sem um objetivo ou qualquer motivo que o fizesse se fixar em um lugar, passava os dias na estrada. Vagava pelo mundo em busca de algo, fugindo de algo.

Há um ano atrás o demônio tinha tudo o que queria. Então porque sempre reclamava? Porque tinha sido tão ranzinza? E se tivesse sido mais agradável, teria feito alguma diferença para Aziraphale?

Não adiantava pensar no que poderia ter sido, não quando tudo estava arruinado. Ele mesmo tinha arruinado tudo. Ou fora o anjo?

Teve tudo ao alcance das mãos e deixou escapar, mas Aziraphale tinha pedido demais, não tinha? Como ele pode pedir a alguém como Crowley, não apenas um demônio, mas alguém que realmente se orgulhava de seu trabalho, que abandonasse tudo e voltasse ao céu? Com suas regras sem sentido, jogos de poder e um superior com um ego tão grande que pretendia dizimar toda a humanidade apenas para começar novamente?

Era impossível, principalmente agora, que estavam livres de Céu e Inferno, quando podiam ficar juntos, sem esconder sentimentos. Ou seus sentimentos eram os únicos que precisavam ser escondidos? Aziraphale talvez nem ao menos sentisse aquelas coisas.

— Nós estamos em lados opostos. — o anjo respondeu no banco do Bentley, parecendo ofendido com a insinuação.

— mas não fugiu quando te beijei na livraria. — Crowley respondeu, ainda olhando a estrada.

— Fugi sim, eu fui para o Céu, não fui? E depois você fugiu também.

Ele estava certo, sempre estava. Mas não estava ali, nunca estava, por mais que o demônio invocasse sua imagem, parecia com Aziraphale, mas nunca soava como ele, porque eram as palavras de Crowley, sempre amargas, que o respondiam.

Estava tão distraído na imagem falsa do anjo que não notou o tremor até que os carros diminuíssem a velocidade, então notou as placas e fiações balançando.

— isso é um terremoto? — perguntou ao falso anjo.

— você sabe o que é isso, Crowley. Só estou fazendo o meu trabalho. — Aziraphale deu de ombros, sem se importar com as pessoas que abandonavam os carros e corriam conforme os postes desabavam.

"Terremoto de grandes proporções" dizia o Bentley pelo rádio. "6.9 na escala Richter"

— o que você está fazendo, seu idiota?

Podia imaginar o anjo, um terno feito sob medida para um chefão angelical, bebendo chá e observando pela janela o mundo desmoronar. O mundo deles. O mundo que salvaram juntos, apenas para que Aziraphale o entregasse em uma bandeja para Metatron. E em troca de que? Seu emprego de volta? Uma promoção?

Talvez nem se desse ao trabalho de olhar pela janela, talvez estivesse em sua sala, relaxado em sua cadeira de chefe enquanto assistia tudo pela TV.

Crowley não podia fazer nada dessa vez, e o pior, nem mesmo queria fazer.

— você não vai me procurar? — o loiro perguntou — não vai tentar impedir o fim?

— E qual o ponto disso tudo? Vocês vão acabar com tudo, de qualquer jeito.

— achei que você gostasse dos humanos, afinal, todo esse mundo só é como vemos por sua causa, não é, cobra?

Sim, o mundo era aquele pandemônio por sua causa, mas também era grandioso, vibrante, magnífico, tudo por uma maçã. Se não fosse pela serpente no Jardim, os humanos ainda estavam nús descansando ao sol, mas estavam desvendando os segredos do universo, viajando para o espaço, explorando o próprio mundo.

Tentação - e outros contosOnde histórias criam vida. Descubra agora