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Outro dia amanheceu em nova primavera e com ele a família La Selva também raiou. O reaparecimento de Agatha ainda rondava a cabeça de Irene e Antônio, os dois por motivos diferentes. Agatha deveria aparecer por nova primavera ainda naquela semana, deixando todos na casa com a ansiedade em alta, até o filho deles podia sentir algo diferente acontecendo pois estava muito mais agitado na barriga da mãe. Irene decidiu tentar não pensar muito nisso e começar logo a arrumar o quarto do bebê que logo estaria com eles. Pra isso, ela tinha planos de pedir ajuda a Petra, mas a menina continuava distante, nem tomava mais café da manhã perto dos pais. Decidindo tirar isso a limpo, Irene foi até o quarto da filha e a encontrou mexendo no computador.

"Bom dia filha! Senti sua falta no café da manhã" disse a mulher assustando Petra

"Oh mãe, que isso, aparece assim do nada? Bata na porta pelo menos, o que você veio fazer aqui?" Perguntou a menina

"Que isso Petra? Desde quando preciso bater numa porta aberta pra entrar? Vim te pedir ajuda pra arrumar o quarto do seu irmão, mas parece que você não está num humor muito sociável" respondeu Irene ríspida

"Desculpa mãe, eu só... enfim, o que você precisa? Feijãozinho tá bem? Falando em feijãozinho, quando essa criança vai ganhar nome? Não aguento mais ficar inventando apelidos pra chamar ele" perguntou Petra dando atenção para a mãe

"Queria ajuda pra montar algumas coisas de decoração que chegaram. E eu e seu pai ainda não decidimos, tá dificil achar um nome que nós dois gostamos. Mas eu precisava mesmo falar com você. O que ta acontecendo, filha? Você têm estado distante, já nem toma mais café da manhã com a gente. Sinto falta da minha filha" disse Irene sentando na cama e dando tapinhas ao seu lado pra que a menina se sentasse também

Vindo para o lado da mãe, Petra a encarou por um momento. A verdade é que a menina estava cheia de medos e quanto mais perto chegavam do nascimento do irmão, mais aflita Petra ficava. Ela sabia que não era justo com Irene se afastar sem dizer nada e mais ainda deixar a mãe preocupada quando muita coisa já estava acontecendo. A menina tinha ficado sabendo por Luigi que a mãe de Caio não só estava viva como estava voltando pra cidade e ela sabia que isso não deveria ser fácil pra mãe dela.

"Ah, mãe. Muita coisa, né? Ainda to aprendendo a ficar o tempo todo sem remédios. É uma luta o tempo todo, fora que tô meio preocupada, mas isso vai passar" disse a menina evitando o olhar da mãe

"Preocupada com o que filha?" Dissse Irene enquanto levantava o queixo da filha com os dedos

"Ah mãe... eu tô preocupada com você e o pequeno aí" disse Petra sem se afundar muito no assunto

"Mas porque, filha? Estamos bem, está dando tudo certo" perguntou Irene confusa

"Tudo certo como mãe? Toda semana você tem algum problema com a sua pressão. Tenho pesquisado bastante coisa na internet. Podem acontecer coisas muito sérias antes do neném nascer e até na hora do parto. Não é legal pensar em talvez perder outro membro da família. Pra que vocês foram inventar de ter outro filho? Eu não sou mais suficiente pra você?" disse a menina perdendo a paciência.

Dizer que Irene estava chocada com o que ouvia era um eufemismo. Petra sempre se mostrou solidária e feliz com a gravidez da mãe e o que tinha acabado de sair da boca da menina não combinava com a Petra que ela conhecia. Irene precisava saber de onde vinha a preocupação e mais ainda de onde vinham os pensamentos da filha.

"Petra.. de onde veio isso tudo? Quando eu te contei você ficou feliz. O que mudou? Eu sei que tenho tido alguns problemas mas o médico está controlando isso" perguntou Irene confusa

"Sim mãe, eu tava feliz. Mas eu já tive que levar você pro hospital, você continua tendo problemas. Você teve até problemas pra ganhar peso. Tá tudo errado, era pra ser um momento feliz. E se acontece algo com o feijãozinho? Eu não vou sobreviver a perda de outro irmão. E se você morrer no parto? O papai ja é traumatizado pela mãe do Caio, se isso acontecer como a gente vai cuidar do feijãozinho? Vocês ainda nem deram nome pra ele!! O papai vai tratar mal outro filho? Não era pra ser assim, mãe. Não era." Disse a menina começando a hiperventilar

"Calma filha, respira! Calma! Suas preocupações são válidas meu amor, mas são tantos "e se". Te prometo que não tenho intenção de deixar vocês sozinhos nessa vida. Eu sei que isso não é suficiente mas é o máximo que eu posso prometer. Eu amo demais essa vida, filha. Ainda tem tanta coisa que eu quero viver e fazer. O tempo parece que nunca vai ser suficiente, mas vai dar tudo certo, filha. Precisa dar" disse Irene abraçando e acalmando a filha que chorava

"Petra, olha pra mim. Eu já tive vários desses pensamentos. Mas o que já está feito, não dá pra ser mudado. Estamos juntos nessa jornada, filha. Com fé, chegaremos todos bem até o final" falou a mulher enquanto secava as lágrimas da filha

"Desculpa mãe, eu não quero te deixar chateada. Eu só tô muito preocupada, te amo muito e não quero perder vocês"

"Tá tudo bem, filha. Eu também te amo. Só não se afasta mais, se algo te incomodar, me fala. Seu bem estar também é importante pra mim"

Irene então abraçou a filha e ficaram assim juntas por um bom tempo, com Irene acariciando os cabelos da filha e também pensando na conversa que tiveram. Claro que Irene também tinha medo, mas estava tentando lidar com isso do melhor jeito que podia. Obviamente ela não sabia que a filha também estava com dificuldades para entender os próprios medos. Irene esperava ter conseguido tranquilizar a menina e se tranquilizado um pouco também.

"Agora que esclarecemos tudo.. Quer me ajudar a decorar o quarto? As paredes já estão pintadas e os móveis vão ser montados no fim da semana, mas queria já colocar as decorações de parede. Me ajuda, filha?"

"Claro que ajudo, mãe. O quarto vai ficar lindo! Me conta no caminho o que você quer fazer"

E assim foram as duas conversando, rindo e fazendo novos planos. Passaram a tarde toda no quarto e no final do dia observaram o lindo trabalho que fizeram. Faltando apenas os móveis, Irene já conseguia se imaginar passando lindos momentos com o filho naquele cômodo.

Já de noite, todos jantaram juntos e Irene e Antônio subiram para descansar. Entrando primeiro no banheiro, Antônio fez sua rotina noturna enquanto Irene procurava o que vestir, se sentindo cada vez mais desconfortável em suas próprias camisolas acabou por procurar nas roupas do marido algo mais confortável. Achando uma camiseta grande e mais antiga, esperou o homem sair do banheiro para entrar.

Quando Irene saiu, Antônio só conseguia admirar a mulher. Ele não sabia como, mas ela conseguia ficar ainda mais linda usando as roupas dele. Irene tinha uma baixa estatura, as camisas do homem mais pareciam vestidos nela, mas ela os vestia muito bem.

"Ô Irene, não tem mais roupa não? Não que eu esteja reclamando, adoro te ver nas minhas roupas, mas porque essa mudança agora?" Perguntou o homem

"Ai Antônio, as minhas estão ficando desconfortáveis já, suas camisas são mais largas pra dormir ou pelo menos tentar, já que seu filho sempre escolhe o período da noite pra estar agitado" disse a mulher revirando os olhos

Antônio apenas riu e esperou a mulher subir na cama com um pouco de dificuldade. Logo os dois estavam dormindo, mas não por muito tempo. Antônio acordou com a esposa se revirando na cama, tentando achar uma posição pra dormir. O homem então voltou a dormir apenas pra ser acordado novamente pela esposa, cutucando-o e o tirando do seu sono

"Antônio... Antônio, acorda!" Pediu a mulher

"Hm que foi Irene? Me deixa dormir" implorou o homem meio sonolento

"Eu não tô conseguindo dormir. Me dá seu travesseiro pra eu tentar uma nova posição pra dormir?" Disse Irene

"Meu travesseiro? E eu vou ficar sem, é?"

"Por favor, Antônio. Eu quero dormir, só hoje, por favor" disse Irene implorando

Antônio se deu por vencido e entregou o travesseiro para a mulher, que conseguiu dormir, ao contrário de Antônio que ficou desconfortável a noite toda.

Pela manhã, os dois levantaram juntos. Antônio sentindo uma baita dor no pescoço em decorrência de dormir sem travesseiro e Irene parecia mais descansada do que em dias. Antônio resmungou enquanto se arrumava e desceu para o café da manhã com a familia, estranhando a ausência de Caio.

Avisado por Angelina que o menino tinha saído cedo, começaram a comer, o que não durou muito. Logo todos ouviram o barulho de uma caminhote chegando até a casa deles, a maior surpresa sendo quem adentrou a casa, sozinha.

Ágatha La Selva estava de volta.

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