Final

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4 meses se passaram e uma coisa que a família não desfrutou nesse meio tempo foi paz. Entre planejar uma festa de renovação de votos e lidar com os saltos de crescimento do Benji, a celebração que era pra acontecer em 3 meses teve que ser adiada por mais um. O menino mais novo já era naturalmente grudado na mãe, mas nos últimos tempos estava quase impossível para Irene respirar, enquanto Antônio era quase ignorado pelo menino.

Na semana da festa muita coisa voltou a dar errado, fazendo com que Irene e Antônio se perguntassem se aquilo seria uma boa ideia. Depois da renovação, os dois tinham planos de levarem Benji pra viajar, o menino precisava conhecer o mundo fora de Nova Primavera, mas se viajar a dois era difícil, tendo uma criança como terceiro era pior ainda. Pra sorte de Antônio e Irene, Caio e Petra decidiram levar Benji pra passear a noite pela cidade, deixando o casal mais velho ter um tempo a sós.

A parte mais engraçada é que os dois não sabiam o que fazer. Depois de Benji nascer, a vida nunca mais foi a mesma. O tempo que eles passavam sozinhos tinha o pequeno no fundo do pensamento dos dois e quando estavam em casa tinham 100% do tempo ocupado por um bebê exigente, que tinha adicionado uma palavra ao seu finito vocabulário: mama. Se era um aviso de fome ou ele chamando pela mãe era impossível de saber, mas Irene gostava de dizer que pelo menos um dos filhos chamou "mamãe" primeiro. A primeira palavra de Daniel foi "Caio" e a de Petra foi "papa". Não era preciso dizer que as apostas eram altas quando se tratava de Benji, já que ele estava sempre grudado nela.

"A casa fica vazia sem o Benji. É a primeira vez em meses que tenho tempo pra mim, mas só consigo pensar que vou dormir sem dar um beijinho nele" disse Irene, que estava sentada do lado de Antônio, segurando um copo de bebida qualquer para aliviar o estresse

"Realmente. Consigo imaginar ele engatinhando aqui na nossa frente. Você já pensou como vai ser na viagem e amanhã na festa? Certeza que ele vai arrancar aquela gravatinha que fizemos pra ele em dois segundos" replicou Antônio enquanto caía na risada ao pensar no filho.

Ficando em silêncio, os dois se perderam em pensamentos. 30 anos. Eles chegaram aos 30 anos. Quando Antônio pensava nos anos que viveram juntos, ele quase não podia se lembrar do que era a vida antes dela. Irene tinha uma chama diferente, tinha trazido certa audácia pra vida dele. Ele ainda se lembra de quando a viu pela primeira vez. A maior parte do tempo, o homem pensava ser clichê dizer que quando olhou pra ela, algo mudou nele. Hoje ele entendia o que era: as chamas do destino. Ele não se arrependia de nada na história deles, talvez se arrependesse de certas atitudes ou palavras que foram ditas com a intenção de machucar, quando ele queria tudo menos ferir a mulher que o ajudou a reconstruir as fundações de sua vida. Ali, olhando pra ela, Antônio podia jurar que reviveu em um flash todos os momento que os dois passaram juntos. Ele não era um homem de chorar, não mesmo, mas de repente sentiu lágrimas de gratidão e felicidade encherem seus olhos, transbordando o amor que ele tinha por aquela mulher de 1,60m de altura, com uma personalidade do tamanho do mundo, mãe dos seus últimos três filhos e que passou pelo inferno com ele, mas que nunca teve medo de se queimar.

Enquanto isso, os pensamentos de Irene eram similares. Ela sabia o que todos disseram quando ela casou com Antônio: que eles não durariam, que ela não se encaixava no mundo dele. E lá estavam eles, 30 anos depois e com três filhos pra completar a família que eles lutaram pra construir. Quando ela chegou no bar pela primeira vez, todos os seus sonhos estavam arrasados, a vida que ela idealizava parecia cada vez mais longe de se tornar real, mas a medida que o tempo passou e ela conheceu Antônio, Irene se permitiu sonhar outra vez. Sim, ela tinha um amor absurdo por ele, mas o sentimento que quase podia equiparar-se ao tamanho do seu amor era a gratidão. Não pelo motivo que todos pensavam, sim, ela era grata por ele tê-la tirado daquele bar e ajudá-la a recuperar sua dignidade, mas era mais que isso. Quando tudo estava perdido e ela nem sabia mais se queria continuar, ele apareceu. Com ele, a vontade de voltar a sonhar ressurgiu, e ela voltou ao tempo em que era uma menina cheia de sonhos e expectativas, que encontrou nele um amor que a fez renascer. Ás vezes, amar Antônio era como colher rosas de um jardim. A superfície era linda, mas por baixo certos espinhos ameaçavam arrancar sangue dos dedos. Alguns dias eram quase demais pra lidar, mas ela agradecia aos céus por ter escolhido ficar, ter se permitido amar aquele homem até que ela não soubesse onde ela terminava e ele começava.

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