Todos olhavam boquiabertos a mulher que estava parada no meio da sala de jantar deles. A maioria a reconheceu por ter visto a mulher por fotos, mas não Antônio. O homem sabia quem era por suas lembranças. Ela não havia mudado muito, o jeito era o mesmo e o rosto quase não tinha envelhecido. Por um momento, Antônio se permitiu ser transportado para suas lembranças, deixando todas elas passarem diante de seus olhos. Vê-la ali solidificou o que ele já sabia: ela estava realmente viva.
Trocando olhares com a atual esposa, Antônio percebeu seu desconforto. Sabia que não era justo que o passado fosse esfregado na cara dela do jeito que estava sendo. Ele sabia que aquele era um dos grandes medos de Irene e que ela calmamente esperava pra saber qual seria sua reação.
"Olá, Ágatha. Eu até tomaria um susto te vendo se já não soubesse que você estava viva. O que faz aqui?" Perguntou o homem tentando não demonstrar emoção
"Olá Antônio. Você sempre foi um homem precavido. Eu queria falar com o Caio, mas vejo que ele não está aqui. Posso falar com você em particular? Acredito que a gente tenha alguns assuntos para resolver" disse a mulher
Tentando a dar uma resposta ríspida, Antônio não teve a chance de abrir a boca antes de Irene segurar o braço dele. Dando um voto de confiança para o marido depois de lembrar das palavras de Caio, Irene apenas declarou
"Vai, resolve o que você precisa resolver e depois volta pra gente"
A mulher deu um rápido beijo no marido para tranquilizá-lo e se levantou para deixar a mesa. Ao se levantar olhou para a ex mulher do marido que a observou de cima a baixo em choque ao ver a barriga da mulher.
"Você deve ser a esposa atual dele. Você.. está grávida?" perguntou Ágatha em choque
"Você pode claramente ver que sim, para ambas as perguntas" Irene respondeu de maneira ríspida, se virando e saindo do cômodo
Antônio ficou surpreso com Irene. No mínimo, esperava algum tipo de escândalo ou uma proibição de estar sozinho com a ex. Ele não sabia o que tinha acontecido com sua mulher, mas ele certamente faria de tudo para merecer o voto de confiança que ela lhe deu. Pedindo licença para os presentes na mesa e recebendo um olhar ameaçador de Petra, Antônio apontou para a mulher qual direção seguir, levando os dois direto para o escritório.
Olhando um para o outro, ninguém sabia por onde começar. Antônio tinha muitas perguntas que queria fazer, mas tinha medo das respostas. Já Ágatha estava recalculando sua rota. Tinha planos diferentes quando tinha chegado a mansão dos La Selva naquela manhã, mas ver a esposa de Antônio grávida tinha mexido muito com ela. Perdendo a paciência, Antônio pressionou:
"Diz Ágatha. Fala o que você quer. Veio fazer o que aqui?" perguntou o homem impaciente
"Eu já disse, queria ver o Caio. Ele tá fugindo de mim desde que cheguei. Achei que teria chances melhores vindo até aqui, mas me enganei. Além disso, sei que precisamos conversar. Só não esperava por encontrar sua esposa grávida. Não posso negar que me surpreendeu muito" disse a mulher curiosa
"Ué, mas é claro que ele tá fugindo de você. Não foi isso que você fez com ele anos atrás? Tava esperando balões e uma recepção chorosa? E sim, minha mulher tá grávida, mas o que você tem a ver com isso?" Disse Antônio desconfiado
"Óbvio que não, Antônio, mas queria uma chance de me explicar. E eu não tenho nada a ver com a vida, só fiquei chocada de saber que você vai ter outro filho... nessa idade. Você e ela né."
"Vamo parar de falar da minha mulher? Fala logo o que você veio falar e vai embora"
"Antônio, eu sei que você tem perguntas, a maior delas provavelmente é "Por que?" e eu entendo. Eu queria te dizer, olhando na sua cara o motivo da minha ida. Sei que não foi justo com o Caio, nem com você e talvez você nunca entenda os meus motivos mas eu quero dizê-los. Você sabe como era naquela época. Ciumento, possessivo, até me ameaçou de morte por querer te deixar. Não era aquilo que eu queria pra minha vida, eu ainda tinha esperança de sair daquele casamento, mas eu engravidei do Caio e meu mundo praticamente ruiu. Eu não sabia o que fazer, só sabia que eu não podia continuar ali, me sentindo presa. Eu combinei com o meu médico a minha morte, mas logo nos primeiros dias já tinha me arrependido do que tinha feito. Eu queria voltar, mas tive medo da sua reação. Quando enfim tomei coragem, fui acusada injustamente de um crime e fiquei presa, só consegui voltar agora. Sei que não é a melhor explicação, mas é a única que tenho pra te dar" disse a mulher já sem fôlego ao final de tudo
