Era segunda de manhã, dia cinco de junho, um dia antes das tropas aliadas invadirem a França. Grace havia saído para comprar uma escova de dentes nova e tinha deixado suas coisas todas jogadas encima da cama. Wendy lutava com a vontade de espiar tudo, ela não podia fazer isso com a amiga. Ou podia? Estava curiosa com todo esse mistério que fazia sobre a família, talvez ali houvesse alguma pista sobre eles. A moça aproximou-se da cama e começou a bisbilhotar as coisas de Grace como uma mau educada! Ela parou quando viu uma foto, pegou e examinou-a de perto. Não poderia ser o que pensava. Não acreditava no que estava vendo. A amiga entrou no quarto na hora, ela estava pálida.
- Wendy... - Gaguejou.
- Você é uma espiã nazista? - Ela aproximou-se mostrando a fotografia que tinha em mãos, a moça estava estática e não a respondeu - Me responda Grace! Você é uma espiã nazista?
- Não! Deixe-me explicar. - Grace tentou tomar a foto da mão de Wendy mas não teve sucesso.
- Explicar o que? Que a senhorita é nazista? A fotografia não mente Grace, olhe seus pais e irmãos com a suástica. - Ela apontou para a foto indignada - Por isso você não quis falar sobre sua família, porque vocês são todos nazistas! Sua traidora.
- Pare de falar alto Wendy, por favor. Eu não sou nazista! - A moça finalmente conseguiu tomar a foto da mão da amiga - Meus pais são, eu não!
- Grande coisa, a senhorita cresceu com nazistas. O seu nome é mesmo Grace Collins? - Wendy cruzou seus braços enquanto a olhava séria.
- Não. É Grace Müller, mudei meu nome para não ser mais ligada a minha família Wendy, me escute por favor. - Ela tremia de nervoso com medo de que a amiga à dedurasse - Por favor deixe-me explicar.
A inglesa relutava com a vontade de gritar para meio mundo que tinha uma alemã em seu quarto. Mas não fez o que sua mente queria, apenas rendeu-se ao seu coração deixando-a falar.
- Eu vou te dar uma chance para explicar-se.
- Ótimo, eu juro-te que falarei a verdade! - Olhou para a foto em suas mãos.
As duas sentaram-se em suas respectivas camas, olhando olho no olho. Grace suspirou tomando coragem para contar toda a história.
- Eu nasci em Berlim mas vim para a Inglaterra estudar, depois de um tempo voltei para a Alemanha quando Adolf Hitler assumiu o comando do país. Mas já era tarde, meus pais e meus irmãos estavam contaminados com a ideologia nazista. Eu tentei levar a vida sem exaltá-lo, sem pronunciar minha opinião sobre aquele governo nojento senão meus pais seriam mortos! - A moça tinha os olhos cheios de lágrimas - Mas um dia, eu me apaixonei por um rapaz judeu, minha família não gostou e tivemos uma briga feia. Eu falei tudo o que eu pensava sobre aquela ideologia ridícula deles e naquele dia meu pai me expulsou de casa. Tinha algumas economias graças a minha estadia aqui na Inglaterra, então fui até o porto e comprei uma passagem de barco para Londres. Eu só trouxe uma mala cheia de roupas e essa fotografia, que era a única que tinha deles, mudei meu nome e minha nacionalidade. E então como forma de agradecimento por a Inglaterra ter me recebido tão bem, decidi voluntariar-me como enfermeira para ajudá-los na guerra.
- E o rapaz judeu? Ele ficou bem? Qual o nome dele? Talvez possamos encontrá-lo. - Wendy segurava a mão da amiga.
- Não. O nome dele era Uri Amiel, ele foi morto pelos nazistas. - Grace não aguentou e desmanchou em lágrimas - Uri foi o grande amor da minha vida.
A jovem alemã nunca havia dito isso para alguém, era a primeira vez que falava sobre Uri.
- Eu sinto muito minha amiga, sinto muito mesmo.
Ela beijou a cabeça da amiga enquanto acariciava suas costas em forma de conforto. Relembrar essa história sempre mexia muito com Grace, principalmente quando ela lembrava que sua família estava sendo conivente com as maldades de Adolf Hitler. Wendy prometeu a si mesma e a amiga que nunca mais tocaria neste assunto, seria um segredo que levaria pra o túmulo.
- Precisamos voltar a trabalhar. - Gracie limpou as lágrimas e levantou-se.
- Quer que eu te cubra hoje? Você pode ficar descansando, farei seu trabalho. - Ela sorriu enquanto também levantava-se.
- Não precisa Wennie. - Elas se abraçaram novamente - Obrigada por me entender e não me denunciar.
- Somos amigas, seu segredo morrerá comigo Gra Gra!
"5 de Junho de 1944, Oceano atlântico (quase na costa francesa).
Wendy, amor da minha vida, como está? Meu coração quase explode de tanta saudade.
Amanhã atacaremos as tropas alemãs de surpresa, estamos confiantes com o resultado da batalha, vamos conseguir!
Hoje passei o dia organizando meus materiais cirúrgicos e fumando alguns cigarros com Bennett enquanto pensava em você. Dentro de minha blusa o medalhão o qual me deste fica ao lado do meu coração, para que ele possa matar um pouco da saudade que é ter de tu deitada em meu peito escutando-o bater. Em meu bolso, com todas as cartas a qual escrevo, fica a foto de nossa casa, já planejei tudo o que faremos nela e já imaginei nossos filhos correndo e pulando naquele grande gramado verde que nos aguarda.
Ah meu amor, só Deus sabe o quanto quero beijar-te novamente!
Caso algo aconteça comigo nessa batalha eu lhe digo: eu te amo com todas as minhas forças e morrerei feliz sabendo que você me amou também. Para mim, apenas teu amor basta.
Bennett está rindo ao meu lado, ele acha bobeira minhas declarações de amor, ele as acha ridícula. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas e por isso são especiais. Por mais que ele diga isso, tenho medo que ele se apaixone por você de tanto que eu falo de ti. Ben é um bom rapaz.
Irei dormir pensando em ti, como em todas as noites desde que eu lhe conheci. Eu te amo minha princesa, amo-te até meu último suspiro.
Com amor,
Ethan."
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Com amor, Ethan
RomanceSinopse: Era a década de 30, a europa vivia em alerta por conta do expansionismo alemão comandado por Adolf Hitler. Os jovens viviam fazendo planos para o futuro, mas os mais velhos tinham medo do que os aguardava no dia seguinte. Ethan Hicks, um j...