Capítulo 9

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No dia 6 de junho de 1944, que ficou conhecido como o Dia D, como parte de uma operação militar massiva, mais de 150.000 soldados das forças Aliadas desembarcaram na França na região da Normandia para, então, iniciar a retomada da França, território ocupado pelos alemães desde 1940. 24 mil paraquedistas saltaram atrás das linhas de defesa alemãs.
Ao final daquele dia, as forças Aliadas haviam desembarcado em todas as praias, onde conseguiram criar um perímetro de até 5 quilômetros. A conquista das praias permitiu que os Aliados conseguissem posicionar mais 300 mil soldados na Normandia até o final do dia 7 de junho. Com isso aumentou a pressão dos Aliados no lado ocidental para empurrar os nazistas até Berlim, enquanto a frente soviética fazia o mesmo procedimento a partir do Oriente.

Ethan segurava uma arma e nas costas uma mochila cheia de remédios e ferramentas da primeiros-socorros, ele andava no meio dos soldados mortos e feridos procurando alguém que estivesse tão debilitado que não conseguiria ser levado imediatamente para o hospital dentro do navio. Era uma cena de terror, haviam muitos corpos jogados no chão, ao todo mais de dez mil homens das tropas Aliadas morreram naquela batalha do dia 6 de Junho de 1944.

- Alguém ajude! - Alguém gritou - Eu não vou aguentar!

O médico correu até o soldado que gritava em agonia.

- Olá senhor, sou o doutor Hicks e irei te ajudar. - Ele tirou a bolsa de suas costas e começou a examina-lo - Pode dizer-me seu nome?

- Anthony, Anthony Robert. - O rapaz gritou agoniando de dor.

- Quantos anos tem senhor Robert? - Ethan fazia perguntas para distraí-lo enquanto suturava a ferida aberta sem anestesia.

- Vinte anos! - O jovem americano agonizava - Por favor faça parar!

- Já estou terminando, respire fundo. Me diga, o senhor tem namorada?

- Noiva, tenho uma noiva. - Anthony olhou para um colega que se aproximou - David, que bom vê-lo, se eu não sobrevier diga a Diana que a amo muito!

- Não será necessário Tony. Doutor, ele irá sobreviver? - O colega tinha os olhos castanhos arregalados.

- Claro que vai, terá apenas uma cicatriz gigantesca mas será história para contar. - Ele piscou enquanto higienizava o local - Leve-o para a enfermaria e diga que o doutor Hicks mandou injetar morfina para melhorar a dor. Você verá sua doce Diana novamente.

- Obrigado doutor, muito obrigado mesmo. - David respondeu enquanto pegava o amigo, que agonizava de dor, no colo.

Ethan sentia seu coração doer enquanto via aquela cena apocalíptica de jovens estirados no chão como se fossem apenas um pedaço de carne. Ele andava no meio dos corpos procurando alguém necessitado, mas pensava em quantas esposas, noiva e namoradas não teriam mais seus amores em casa. Quantas mães chorariam pela morte do filho.

- Onde estará Bennett? - Olhou em volta procurando um sinal do amigo.

- Ethan? Ethan Hicks! - Alguém gritou, era Ben.

- Aqui! - Ele correu até o amigo - Precisa de primeiros-socorros?

- Não. - O rapaz suspirou enquanto colocava as mãos no rosto - Que pesadelo.

- Eu sei... Que bom saber que está bem, vá para o acampamento, irei à procura de homens que precisam de meus cuidados.

- Cuidado irmão, não avance demais. - Advertiu preocupado.

- Não irei.

Bennett e Ethan se abraçaram e seguiram lados opostos.

O inglês agachou-se ao lado de um soldado americano que tinha uma carta em mãos, ele estava morto. Abriu-a e leu, era uma carta de amor, como aquelas que ele escrevia para Wendy. Pela primeira vez em meses seus olhos lacrimejaram, se imaginava naquela situação. Levantou-se e caminhou até o alojamento com aquele pedaço de papel na mão. Antes de entrar, afastou-se um pouco e apoiou-se em um toco de madeira. Acendeu um cigarro e pegou a foto de sua futura casa que carregava em seu bolo. Mentalmente ele estava ali com Wendy.

Ethan pegou o medalhão que estava dentro da camisa, abriu e viu a foto de sua amada sorrindo, aquilo foi como um energético para ele. Iria salvar todas as vidas que pudesse e voltaria para ela novamente.

***

- Ai Gracie, estou com meu coração apertado. - Wendy abaixou o volume do rádio - Será que Ethan está bem?

- Com certeza está Wennie, ele é médico então não está lutando na linha de frente.

- Mas tudo pode acontecer, estamos falando daqueles alemães nojentos. - Ela colocou a mão na boca enquanto arregalava os olhos - Desculpe.

- Tudo bem Wenny, eu concordo com você. - Grace caminhou ao lado da amiga pelo corredor do hospital militar - Mas tenho certeza que Ethan está bem!

"07 de Junho de 1944, Normandia.
Wennie, meu amor, como está? Minha saudade aperta cada dia mais.
Hoje pensei muito em você. Nós atacamos de surpresa os alemães que residiam na França, tomamos quase todo o litoral francês! Mas não é por isso que pensei em ti. Percebi como a vida passa rápido e como nós não somos nada, um tiro é capaz de nos matar. Vi tantos noivos, maridos e namorados mortos mas um em especial chamou minha atenção, ele tinha uma carta em mãos para sua esposa. Era uma carta de amor, dessas as quais te escrevo. Percebi também que posso não estar mais aqui amanhã e as minhas cartas podem nunca chegar em tuas mãos, mas se chegarem você saberá que eu te amei até a última batida do meu coração!
Somos tão frágeis, tão pequenos e tão fáceis de matar. Talvez seja por isso que escolhi a medicina, não só porque eu quero ajudar pessoas mas também porque eu queria sentir um pouco do poder de salvar a vida de alguém.
Espero que esse pesadelo acabe logo e eu possa voltar para seus braços onde é o meu lugar seguro. Sua foto me dá forças para continuar, você é minha fonte vital.
Eu preciso ir descansar um pouco, amanhã teremos mais uma luta mas fico por aqui te deixando o recado mais preciso que poderia dar. Eu te amo demais Wendy!
Com amor,
Ethan."

Com amor, EthanOnde histórias criam vida. Descubra agora