Capítulo dois: Instantes

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Heartbeat - BTS

Alguns dias se passaram desde o momento em que as luzes cor-de-rosa passaram a se manifestar. No entanto, não havia nada de novo debaixo do céu, afinal, Mily sequer havia notado a presença das luzes.

Seu mundinho cinza continuava a resumir-se em escrever poemas sobre a falta, fazer fotos e ouvir músicas sobre desilusões amorosas, como Drivers License de Olivia Rodrigo, que ela fazia questão de aumentar o volume quando começava.

Certo dia, noutro final de tarde, enquanto esperava seu irmão em frente a escola, Lucas aproximou-se dela, por acaso.

Eles não haviam mais trocado palavras desde o dia do jogo de enigmas.
- Tchau, Jamily - Ele estendeu a mão, como se estivesse acostumado àquilo.
- Ah, tchau. Até amanhã - Sua voz soou suave, menos grave do que o normal, e baixa como se estivesse desaparecendo.

Embora tivesse quase certeza de que ele apenas estava sendo educado ao não ignorar sua presença - como os demais costumavam fazer -, no fundo, uma parte de si queria acreditar que não era apenas isso, e que Lucas estava tentando ser gentil com ela.

A interação entre os dois durou menos de um minuto, mas fora o suficiente para despertar uma terceira faísca rosa, dessa vez um pouco mais brilhante que as anteriores.

Depois que apertou a mão dele, esqueceu-se completamente do que estava fazendo ali. Perguntava, para si mesma: por quê? E apenas não era capaz de entender o que havia nele que fazia com que ela se sentisse eletrizada. Em choque. Mas de uma forma boa. Confortável. Tanto que fazia com que ela não desejasse o fim daquele toque.

Mily passou o restante da tarde pensando em como aquilo aconteceu, em como ficara sem jeito de repente, falando baixo demais, pouco demais, sentindo demais.

Todas essas indagações ficaram sem respostas. E no fim, ela adormeceu sem notar, outra vez, um fio cor-de-rosa deixando o seu peito como um feixe de luz adentrando a janela.

Mas não importava quanto tempo ela demoraria para vê-los brilhar, porque desde o começo, aqui do alto, eu fui testemunha.

Era outono, mas o clima parecia de verão no dia em que Mily sentiu algo diferente, especialmente incomum.
Lembro-me que ela retornava para a sala de aula quando deparou-se com ele.

Estava há alguns metros dela, não saberia dizer quantos, e sorria. Um largo sorriso, estreitando um pouco os olhos, parecia descontraído, alegre, como ela nunca havia visto.

Estranheza. Essa foi a sua primeira impressão. Ele não estava sorrindo para ela, de jeito nenhum. E ela tinha certeza disso.

Ou será que estava?, cogitou. Talvez ela não tivesse tanta convicção assim.
Balançou a cabeça para dispersar os pensamentos, sentou-se na carteira que costumava ocupar e tentou focar no tema da próxima aula.

Dez minutos se passaram e o sorriso dele permanecia intacto em sua memória, vívido. Quase palpável.
Ela até tentou pensar em coisas menos desconcertantes, como o que faria quando chegasse em casa, mas a imagem do rosto de Lucas era insuperável. E ela não pôde deixar de pensar em como se sentiria se aquele sorriso fosse para ela.

"E se..."
"Por que não?"

Corações Astros e Rastros de LuzesOnde histórias criam vida. Descubra agora