Capítulo oito: Notificações

3 1 0
                                    

Happy Tears - Victoria Nadine

1440 minutos sem resposta.
Ela havia sido derrotada, juntamente com seu plano fajuto. Observei, ao longo da tarde, como ela olhava para ele, esperando que talvez fosse dizer algo, um belo "eu não gosto de você dessa maneira" ou apenas "vá se foder, querida". Qualquer coisa parecia melhor do que o completo silêncio naquele momento.

Ela estava inquieta, aliás, haviam dois meses que esperara por aquele momento. E de repente, não aconteceu.
As aulas daquela tarde foram tediosas. Sentia que tudo debaixo - e talvez acima - dos céus conspirava a seu desfavor.

Na saída, quando se despedia de seu grupo de amigos, foi supreendida por uma pergunta estranha:

- Por que tu me olhou com uma cara de nojo? - Indagou Lucas, ao encará-la.

- Eu? - Mily franziu as sobrancelhas e indicou o próprio peito com uma das mãos.

- Você. - Respondeu, como quem diz algo óbvio.

- Eu não te olhei com cara de nojo, ué. - Ela gesticulou posicionando as duas palmas das mãos para cima.

- Olhou, sim. - Insistiu ele.

- Não cara, oxe. - Sua voz falhou na pronúncia da última palavra, fazendo um efeito de separação silábica.

Um clima de confusão e constrangimento se instaurou no grupo. Letícia mantinha um semi sorriso nos lábios, e Thiago tentava não esboçar reações.

- Vamos lá então, Mily? - Convidou Vinícius, movimentando os olhos de um lado para o outro.

- Vamos, vamos. Então adiós, hasta luego. - Brincou, acenando para os três que permaneceriam ali e dando as costas.

Em seguida, Letícia e Lucas pegaram o caminho oposto. E Thiago subiu no ônibus, onde o motorista já esperava os alunos com o motor ligado.

Quando haviam se afastado apenas alguns metros da escola, e Mily estava sentindo que não poderia esconder aquilo por muito mais tempo, comentou:

- Eu gosto do Lucas. - Seu timbre mal podia ser ouvido enquanto se equilibrava sobre o meio-fio pensando no que havia acabado de acontecer.

- Que? Do nada assim? - Vinícius virou-se para encará-la, com o cenho franzido.

- Tipo, eu gosto mesmo, sabe? Não acho que seja coisa da minha cabeça. Meu coração não estaria brincando comigo, eu acho... - Completou, encarando os próprios tênis.

- Hummm... - Vinicius levantou as sobrancelhas.

- É. Estou a fim dele desde o início do ano, mas nunca tive coragem de falar nada. Nem sei como ele reagiria. - Admitiu, com os lábios unidos em um sorriso sem mostrar os dentes.
Vinícius emitiu uma risada apertando os olhos.

- Que aleatório. - Proferiu, pausadamente.

A conversa se estendeu até o momento em que ele precisou se despedir, e Mily pediu que ele não comentasse aquilo com ninguém, por mais que Letícia também soubesse, pois ela havia contado algumas semanas antes.

Quando chegou em casa, estava exausta o bastante para ficar estirada no sofá. Por isso, escolheu gastar o tempo terminando de pintar um desenho que começara no dia anterior. E estava muito concentrada em contornar as bordas da arte quando a led de seu celular piscou, indicando uma nova notificação.

Ela largou o caderno e a caneta sobre o próprio colo e pegou o celular, e a única coisa que conseguiu ler foi "foi mal por dar um puta vácuo sem querer". No mesmo instante, seus olhos foram incendiados por faíscas rosa choque.

Se Mily não estivesse sentada no sofá da sala de sua avó, teria gritado um "puta que pariu" a plenos pulmões. Mas a situação não permitia, até porque a culpa era completamente sua. Minha, na verdade, mas não vem ao caso.

Algumas horas antes, quando estava gastando o tempo vendo memes no Pinterest, "por acaso" ela havia encontrado uma imagem com o trecho de uma série estampado pelos dizeres "quando uma pessoa pedir para você escutar uma música, é porque a letra diz tudo o que ela queria poder te dizer".

Era tudo o que ela precisava, e no momento em que ela precisava.
Mily postou a imagem, e ele viu algumas horas mais tarde, quando enviou um pedido de desculpas por não tê-la respondido antes.

A troca de mensagens perdurou por longos minutos, até o momento em que ele se recolheu para dormir. Era um quase sucesso, e Mily estava em êxtase, seu coração não só refletia como ardia, elevando a temperatura de seu corpo inteiro. As pequenas mãos suavam fazendo com que mínimas gotículas de suor fossem deixadas sobre a tela do celular a cada toque, e as maçãs do rosto ficaram ruborizadas.

Sua respiração estava curta e apressada, coração decompassado e músculos tencionados, entretanto, um sorriso inevitável estampava seus lábios. Genuíno. Era aquela mesma euforia que o abraço dele havia proporcionado outrora. Era como flutuar entre as dimensões de algum universo feérico dos livros de fantasia. Era mágico.

E ela adormeceu somente após escrever "Êxtase", que mais tarde dedicaria a ele.

Êxtase

Silêncio
Não está mais chovendo lá fora
Nem mesmo aqui dentro
As vozes silenciaram
E os pensamentos
Nada emite som o suficiente
Para tirar da minha mente a frequência da sua risada
E nada é tão encantador que possa
Tirar de diante dos meus olhos
A imagem do seu sorriso

Eu estou sorrindo como uma boba
Minhas mãos estão suando
Desapareceu o frio na barriga
E o pânico
Nada me assusta mais
Do que precisar ficar longe
Porque tudo o que eu estava buscando
Encontrei nos seus olhos
E na sua risada
A melodia mais bonita

Eu não olho para você
Como olho para eles
Todos estão vivendo presos em seus próprios mundos
E você é um universo diferente
Eu li nos seus olhos
O convite para entrar
Nessa onda de frio e calor

Penso no seu corpo junto ao meu
Envolvidos em fogo
E sinto um arrepio
Preciso parar de imaginar seus lábios tocando os meus
Eu estou obcecada por isso?
O que pode ser mais louco do que amar loucamente?

Corações Astros e Rastros de LuzesOnde histórias criam vida. Descubra agora