Capítulo 1

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Ano 1903


            Ingleses.


            "Tudo que há de ruim, você pode ter certeza que um inglês trouxe em seu navio."


            "Cuidado ou os ingleses irão nos roubar e colocar nossos bens em um museu."


            Eram algumas das muitas frases pejorativas que o falecido avô de Julia dizia desde que ela se lembrava. Infelizmente, lembrava-se pouco dele. Morreu velho para um trouxa: 60 anos, velho até demais. Odiava britânicos, em especial, os ingleses, como todos podiam reparar. Nunca pisou na ilha, e nem queria, a única coisa que tinha certeza: o pai dele morreu pela mão de um nas Guerras Napoleônicas, e assim, remoendo seu sentimento de perda por anos e mais anos, feito a criança que esperou na janela seu pai voltar, ele prometeu que sempre que pudesse, diria ao mundo como os britânicos eram. E tinha mais: garantiria que seus filhos pensassem a mesma coisa, se possível, os filhos de seus filhos e por aí em diante.


            O pai de Julia seguiu bem o exemplo, o máximo que chegou perto de ares ingleses foi para socar um rapaz em um bar.


            "Aquele desgraçado olhou torto para sua mãe. O que mais a gente esperaria de gentinha feito eles?" gabava-se ele.


            Julia, sinceramente, não se importava.


            Achava britânicos, ou ingleses, tão importantes quanto quaisquer outros, ou seja, não mereciam sequer um pingo de sua atenção.


            Pensou poucas vezes naquilo durante sua infância.


            Teve pouco espaço para a oportunidade: principalmente depois que recebera uma carta de Beauxbatons dizendo que era uma bruxa.


            Uma bruxa!


            Seu pai ficou assustadíssimo.


            Demorou meses para aceitar a informação.


            Mas a perdoou quando já em seu primeiro ano, nas férias de Natal, Julia disse que havia uma escola na Inglaterra: Hogwarts. E que lá ficavam os bruxos maus.


            Beauxbatons era lugar de bruxos íntegros. Um lugar para impedir que os maus florescessem.


            O pai dela suspirou aliviado. Sabia que a filha estava destinada à coisas grandes. Faria o que o próprio pai não conseguiu em sua carreira de policial: esmagaria os ingleses com o poder da justiça.


            Julia nunca contaria a verdade, que na verdade Hogwarts era tão normal - dentro da normalidade dos bruxos - quanto Beauxbatons. E que não ficava exatamente na Inglaterra, e sim na Escócia. De fato, era mais comum ouvir sobre bruxos problemáticos que estudaram em Durmstrang - uma escola que além de só aceitar puros-sangue, também ensinava artes das trevas - do que em Hogwarts.


            De Hogwarts ela sabia o que seus colegas e professores falavam: fortes, um pouco esnobes, viviam num castelo gelado e eram grandes rivais de Beuxbatons em competições interescolares - o extinto torneio tribuxo uma delas.


            Ainda assim, conseguiu manter aquela mentira até quando o pai faleceu. Julia estava no sétimo e último ano de escola e prometeu ao lado do túmulo recém fresco do pai, com um sorriso brincalhão e lágrimas nos olhos, que em algum momento prenderia um bruxo inglês mau. Era a grande vontade que ele sempre repetia e seria seu último presente para o pai.


Bruxo, britânico, mas não um malfeitorOnde histórias criam vida. Descubra agora