𝐄𝐗𝐓𝐑𝐀 𝟭 : o tempo não para

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  Aquele cheiro de piche na baía de Tóquio continua sendo um dos melhores para o Fushiguro. Não por ser azedo e pungente, ele não é estranho. Está mais para um cara legal: tem um emprego bom no centro, amigos que realmente se importam e um gosto musical melhor que a trilha sonora de muitos filmes. Seu único problema era a indecisão.

  Não conseguia escolher um anel de namoro bonito para sua... Ficante? É assim que os jovens falam que gostam, beijam e tem sentimentos por alguém, certo? Deve ser.

   Por mais que fossem exclusivos, sempre era bom ter compromisso. Só não sabia quantos mil ienes gastaria num Cartier qualquer. Qualquer não, óbvio - um especial para quem gostava tanto.

  Ele e (Nome) estavam mais apaixonados que nunca. E não é exagero. Ele sempre se sentiu atraído por ela, digo, desde que se encontraram no aniversário de Nobara. Agora, só restava visitar mais seis joalherias da metrópole.

  Conforme ia saindo da baía, pescadores ofereciam peixe e moluscos para ele. Isso era cômico, já que ainda estava com o terno do trabalho. Foi aí que ele viu certo alguém na multidão e seu sorriso desapareceu.

  — Itadori?! Fala sério, me seguiu até aqui? — O outro homem se aproxima de Megumi. Os dois estavam vestidos a trabalho e passando seu horário de almoço no grandíssimo píer.

  — Claro! Se você não me fala o que vem fazer aqui, eu descubro sozinho.

  — Bem... não foi a (Nome) que te mandou aqui, certo? — Arqueia a sobrancelha e contrai os lábios, tentando mostrar seriedade. Desde que a garota entrou em sua vida, era certamente mais alegre e mais bobão. 

  Yuji finge estar estupefato e ferido com tamanha acusação. Como não eram verdadeiras, o mais novo continua a falar:

  — Qual foi, vai pedir ela em casamento ou algo do tipo?

  Silêncio, muito silêncio. Isto é, entre eles. A casa de pescadores e mercado municipal continuava a ruir.

  — Cara, vocês se conhecem há só nove meses! Nem eu sou tão emocionado! — Surta.

  O Fushiguro ri e começa a caminhar para fora do local. Tinha visto o tempo no celular e já estava na hora de visitar mais uma joalheria. Convida seu amigo para o acompanhar, aproveitando para explicar seus planos.

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  — E por quê um anel de namoro? — Itadori indaga enquanto os dois esperam um Uber. — Eu prefiro macarons e outros doces de patisserie.

  — Que bom que não namoro com você, então.

  Os dois riem da piada.

  — Você entendeu o que eu disse, nem vem. Se quiser conselho melhor, pergunte pra Nobara ou para a namoradinha dela. Já que você é um topa tudo por buceta...

  — Do que você me chamou? — Atônito, o coitado tenta reagir. Nem pode, já que o transporte chega bem na hora.

  Chegam enfim a joalheria escolhida, onde acham tudo menos peças que agradam o Fushiguro. É, a busca seria árdua e desastrosa, até porque tinham o tempo contado.

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Do outro lado de Tóquio, (Nome) se arrumava para um passeio com seu namorado. No final do dia, iriam para um parque de diversões apenas para comer algodão doce. Era isso o que ela pensava.

  Tomava um banho quente na sua banheira, não conseguindo tirar o namorado dos pensamentos. Tudo bem, estavam apaixonados, só que a mulher não conseguia se levar a sério com esse tipo de coisa na mente. Se sentia infantil demais, mas também não era uma reclamação.

  Após brincar com as bolhas que se formavam, respira fundo antes de sair do banho. Se seca, olha seu reflexo no espelho embaçado, contempla a vida mais um pouco. Coloca suas roupas de baixo, uma saia xadrez e um cardigã. Uma sandália transparente e sonhos jogados por aí.

  Manda mensagem para seu amor para avisar que estava indo. Mal sabia que, do outro lado da tela, ele estava surtando. Conseguira um belo anel, finalmente, porém estava preso no caixa. São oito pessoas na frente dele. Quem compra tantas joias assim?!

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(Nome) chegou ao parque de diversões. Esperou um pouco por seu namorado – e por isso digo mandar mensagem freneticamente. Quando ele finalmente chega, logo vão para a barraquinha de algodão doce. O dela é amarelo e o dele é azul. O corante acaba se misturando entre beijos e deixa suas bocas verdes. Envergonhados por tamanha demonstração de afeto em público, decidem aproveitar as atrações do parque.

  Brincam de pescaria de prêmios, de atirar em balões e até de ir na casa mal-assombrada. Cansados, compram água por um preço absurdo de 150 ienes. Vão para a roda gigante.

Megumi começa a suar frio. Era agora ou nunca. No topo do brinquedo, decide a pedir oficialmente em compromisso.

— Amor, tá tudo bem? Você parece enjoado... — Atenciosa, ela pergunta.

Ele chega mais perto dela, depositando um beijo em sua bochecha.

— Olha, eu não sei como começar isso. Passei semanas pensando no assunto e nem consegui formular uma declaração. — Começa, tirando a caixa com o anel do bolso. — Eu te amo. Eu realmente amo. Por favor, aceite. — Abre a caixinha, mostrando um anel de ouro branco com um pequeno brilho de diamante.

É a vez dela de hiperventilar.

— E-eu... Megumi... Não posso aceitar.

Ele engole seco, um mal estar já se formando no corpo. Tentando acabar logo com isso, continua:

— Por mais que te ame, acho muito cedo para casarmo-nos. — Ela chora, gordas lágrimas correndo pela bochecha. Não queria o rejeitar, mas era o certo a se fazer.

O Fushiguro começa a rir, a puxando por um abraço. Como ela não entendeu nada, agora chegou a vez dele de se explicar.

— Casar? Por mais que eu queira, casar?! Sua boba. Acho que não perdemos o costume de nos desencontramos, hah. Pensei que nem namorando estávamos, por isso que te trouxe até essa roda gigante.

O coração dos dois amolece. Dão um rápido beijo e ficam abraçados até descerem do ar. Foi ali que (Nome) percebeu que vão casar um dia, sim. Que o destino os colocou na hora e lugar certos. Que eram as pessoas certas. E que assim seja.

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SOBER, 2023.
© vmpiee

𝐒𝐎𝐁𝐄𝐑  ᡣ𐭩  megumi fushiguroOnde histórias criam vida. Descubra agora