Capítulo 3

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— Bom — Ramiro coça a barba, apreensivo — É isso aí que cê acha que aconteceu mesmo. — Confessa tão rapidamente que Caio quase não entende o que ele diz.
— Ah, então é por isso que cê tá estranho. — Caio conclui pensativo — Mas vem cá, Ramiro, foi tão ruim assim pra cê tá tão estressado? O Kelvin fez alguma coisa que cê não gostou? — Ramiro apenas balança a cabeça em negação — Ah…Entendi. — Ramiro está envergonhado demais para olhar para o rosto de Caio, mas consegue ouvir seu sorriso.
— Ô Caio, eu não quero falar disso não. — Revoltado, Ramiro se levanta e volta a entrar na caminhonete, então Caio levanta calmamente e vai até ele, apoiando seus braços sobre a janela aberta.
— Ramiro, tá tudo bem, cara! Não tem nada de errado em ocê e o Kelvin se gostarem, eu super apoio. — Ramiro balança a cabeça em negação mais uma vez.
— Ocê não entende, Caio…É difícil!
— Difícil é sofrer por amor, Ramiro — Aquelas palavras o atingem fortemente, porque é a verdade — Difícil é querer estar perto de quem a gente ama e não poder e…Não é só por causa dos comentários dos outros não, têm impedimentos muito mais difíceis de controlar, pensa nisso meu amigo. — Caio dá duas batidinhas leves no ombro de Ramiro e se afasta. Ramiro liga o carro e vai embora…Sem saber pra onde, sem rumo, como tudo o que tem feito nas últimas semanas, apenas na tentativa inútil de tentar esquecer Kelvin, mas as palavras de Caio continuam ecoando em sua mente, porque é verdade, cada dia longe de Kelvin é pior, a dor e a saudade aumentam tanto que Ramiro se sente sufocado, ao mesmo tempo em que ele sente um vazio imenso, como se estivesse totalmente sozinho no mundo. Ele está perdendo o controle, tanto que as ligações diárias para a sua mãe tem sido cada vez mais curtas, pois é difícil mentir pra ela sempre que ela pergunta como ele está e controlar as lágrimas quando ela diz que sente que ele não está bem, ele se sente tão culpado e tenta encontrar nas palavras de sua mãe algum sinal de que talvez ela possa aceitar o que ele sente por Kelvin, mas…Não! É impossível! Sua mãe é muito conservadora.

— Ai Kelvin, eu te entendo tanto — Anely acaricia a mão de Kelvin sobre a mesa — É tão fácil pra gente se entregar…E tão difícil pra eles assumirem o que sentem. — Kelvin assente.
— Eles sempre tem uma desculpa, um impedimento…Como se pra gente fosse fácil assumir esse amor. — Anely assente enquanto seca o canto dos olhos com um guardanapo. — É exaustivo demais esperar um mísero sinal de que o sentimento deles é recíproco.
— Nossa! Agora você disse tudo…Exaustivo! Essa é a palavra. — Kelvin e Anely conversam por mais um tempo, ele se sente melhor com essa conversa, apesar do assunto ser justamente sobre o que está o machucando tanto, ele se sente bem por conversar com uma pessoa que lhe entende perfeitamente, além de Luana.

Como se não bastasse seu sono desregulado por conta do seu horário de trabalho, Kelvin passa a ter dificuldades para dormir, quando os clientes vão embora, a música para, o bar fecha e cada um vai para o seu quarto, o silêncio é ensurdecedor, tantas perguntas(e praticamente as mesmas todos os dias) rondam a sua mente, será que ele e Ramiro não vão mais se ver? Será que tudo o que eles construíram(por pouco que fosse) acabou assim? Será que ele deveria fazer alguma coisa? Kelvin sentia seu coração dar um salto cada vez que ouvia um carro passar em frente ao bar, às vezes ele corria até a porta pra saber se era ele, mas quando estava com um pouco menos de esperança, apenas checava em seu celular se havia alguma mensagem de Ramiro, o chamando para ir ao seu encontro, mas não…Nada. Kelvin se amaldiçoava tanto por isso, por ainda desejar estar perto de um homem que nesse momento já deve estar até nos braços de outra pessoa. "Por que foi se apaixonar justo por Ramiro?" pensava inúmeras vezes.

No dia seguinte, eles haviam marcado uma aula de Krav Magá para o horário da manhã, bem cedinho, pois à tarde iriam receber alguns fornecedores no bar. Apesar de ser na primeira hora da manhã e todos terem dormido pouco(Kelvin principalmente), ele estava animado, havia decidido de uma vez por todas focar em sua vida, em seu bem estar, e os exercícios do Krav Magá o faziam "colocar pra fora" o que estava sentindo e depois da aula ele se sentia muito leve.

Kelmiro - Midnight RainOnde histórias criam vida. Descubra agora