Capítulo Um

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° Capítulo 1 °

Um Lar?

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Frio. Eu sempre amei o frio, pois desde sempre o calor me perseguia todos os dias, o fogo ardia em minha pele, em meu sangue Quileute, em minha raiva desregulada e em minha pelagem escura.

- Senhorita! Chegamos. - O taxista chama minha atenção quando finalmente chegamos até a entrada da aldeia. Lhe dou um sútil e educado sorriso saindo do carro. - Não vai querer ajuda? - Ele pergunta depois de ter saido do carro e aberto o porta malas.

- Não, eu agradeço, surpreendentemente minha família veio me receber! - Falo de forma divertida ao ver os cabelos longos do meu irmão mais novo e seu sorriso contido.

Não esperava que viessem após tudo o que aconteceu a 3 anos atrás. O rosto de meu pai era duro, ele não parecia tão feliz, mas era perceptível um brilho em seus olhos ao me ver.

- Como vai a vida, curiosa? Os franceses ocuparam tanto o seu tempo que nem sequer uma mensagem conseguiu enviar? - Jacob se aproxima tentando manter uma seriedade que, sinceramente, não combinava consigo.

- Sim, confesso que eles são extremamente... chaud ''quentes''! - Falo de forma sorridente enquanto pego minha mala e a coloco no chão. Não conseguia encara-lo por muito tempo sem sentir culpa, havia o deixado quando ele tinha apenas 12 aninhos, só visitei ele uma vez durante esses 3 anos, não sabia como ele ainda tinha maturidade para falar comigo tão gentilmente após tudo o que houve em minha última visita, ele não sabia de tudo, porém pelo o que ele já sabia já tinha como me odiar por simplesmente fugir.

- Você vai me ajudar a personalizar no mínimo umas... Quantas motos e carros eu desejar, e vai me ajudar a consertar a caminhonete de Bella, ela está voltando para Forks, provavelmente chegará amanhã. - Jacob fala engrossando a voz, me seguro para não rir de sua postura quase militar, porém um pouco desajeitada.

- Com toda a certeza, irmãozinho! Dou uma palavra de irmã mais velha. - Coloco minhas mãos para cima mostrando que não havia cruzado os dedos.

Jacob solta finalmente seu grande sorriso me abraçando como se fosse um enorme urso quase me tirando do chão, mas ainda não era forte o suficiente, não como eu. Meu pai finalmente se aproxima limpando a garganta para chamar nossa atenção.

- Bem vinda de volta, Lilian. Vamos fazer uma reunião para comemorar sua volta. - Billy fala com a mesma expressão dura, logo saindo com sua cadeira de rodas até o carro esperando por nós.

Reunião, reunião significava concelho, concelho significava Sam, significava passado, significava brigas. Aquilo não cheirava bem, porém não sentia nada de diferente...

- Não liga para ele, vai demorar um pouco para ele te perdoar, vai fazer um ano desde aquele dia... Você não mandou mensagem, você não voltou, não pediu desculpas, não olhou para trás. Faz quase um ano... - A fala de Jacob era pensativa, distante e baixa. Ele também não tinha me perdoado completamente, eu podia sentir.

A viagem até nossa casa apenas não foi silenciosa por conta do rádio que tocava algumas músicas antigas e ultrapassadas. Casa, por muito tempo não conseguia nem sequer visualizar essa casa em minha mente sem sentir o mesmo sentimento tenebroso que senti aquela noite, olhar para aquela casa é como sentir meus ossos quebrando repetidas vezes sem parar, sentir a raiva em minha pele fervente, as vozes misturadas, aquela voz, o barulho de corpos se batendo, ossos se partindo...

. . .

- Eu não compreendo, não deveria acontecer com ela, as lendas não falam sobre haver mulheres, nem sequer dessa forma... - Sam falava de forma desesperada enquanto via a melhor amiga de sua ex namorada se debatendo, gritando enquanto tinha seus ossos se quebrando de forma terrível, não era assim a transformação de um lobo normal. Ele não sabia o que fazer, fazia pouco tempo que havia se transformado, tantas coisas tinham acontecido, eram tantas coisas que ele tinha que lidar, tantas pessoas se decepcionando, o julgando por conta de Leah, ele não sabia como ajudar Lilian.

- Mande ela se acalmar, mande ela parar de lutar, faça ela parar! - O desespero de Billy era visível, ele não suportava, não conseguia olhar, ele se amaldiçoava por ter pedido a Lilian para que ela o visitasse, se amaldiçoava por não tê-la apoiado, por não ter cuidado dela, por ter deixado ela ir por não conseguir lidar com a dor de sua própria filha na ausência da mãe, se amaldiçoava por não poder fazer nada enquanto sua pequena filhinha se debatia em agonia.

Lilian se contorcia sem parar, sua garganta ardia feito chamas por conta dos gritos agudos e altos que emitia, ela podia ouvir o barulho de seus próprios ossos se partindo, era como se houvesse algo dentro dela, algo se expandindo a cada instante, algo que queria sair para fora e ela não podia deixar, não podia permitir, mas não havia como, era como se explodisse dentro de si.

- LILIAN, NÃO! - A voz de Sam nunca tinha soado tão desesperada...

. . .

Lilian balança sua cabeça tentando espantar as memórias de seu aniversário de 16 anos, sentia seu coração apertar ao olhar para aquela casa. Poderia até ser sua casa, mas a muito tempo tinha deixado de ser seu lar. Depois de tantas mentiras e rejeições, Lilian sabia onde era seu verdade lar, a única pessoa que deveria confiar... Nela mesma.

- Lar, doce lar! - Diz Jacob colocando as malas de sua irmã em seu quarto antigo, tinha tentado deixar tudo da forma como ela gostava, ele tinha se importado com cada detalhe.

Lilian olha pro quarto em pura nostalgia, mas logo se sente claustrofóbica, como se tivesse desaprendido a respirar, porém logo ouve as madeiras rangendo e a voz de seu velho pai.

- Jake, deixe eu e sua irmã sozinhos por um momento. - Após ouvir a voz tão dura de Billy, Jacob não ousa contrariar saindo do quarto depois de dar um suave beijo na testa de sua irmã mais velha. Billy espera ouvir o barulho de Jake saindo pela porta antes de começar a falar. - Os Lençóis, a cama, o colchão, o travesseiro, os tapetes... É tudo novo, fiz questão de queimar tudo o que ele encostou a mão. Você é minha filha, nada que você faça ou deixe de fazer vai mudar isso, não importa suas decisões. Mesmo que eu não concorde, mesmo que eu odeie, mesmo que eu demore meses para aceitar, ainda vou amar você. Você está segura aqui, eu prometo e essa promessa eu não pretendo quebrar.

Um leve tremor atinge Lilian, não era raiva, não era febre, era apenas ansiedade, um leve pânico e uma grande porcentagem de culpa.


Alma Quente E Pele Fria - Rosalie HaleOnde histórias criam vida. Descubra agora