Capítulo 3

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Horas depois pousamos no aeroporto de Detroit e pedimos um taxi. O taxista, homem de cabelo e bigode grisalho que usava uma boina surrada, gostava muito de conversar e contar sobre sua vida e experiência. Ele foi muito gentil e a corrida terminou após pararmos em frente a um prédio amarelo cheio de janelas com uma placa luminosa escrito Hampton Inn, um hotel de Detroit. Após fazermos o check-in, minha mãe convocou uma reunião com todas as filhas.

- Vou explicar como tudo vai funcionar: A partir de agora faremos parte da família Conway, uma família rica e bastante competitiva. Serei Elizabeth Conway, mais conhecida como Liza. Consegui que a agência me incluísse na lista de pessoas que tem um cargo alto de advocacia, então supostamente serei uma advogada bem sucedida, assim posso cumprir minhas missões sem precisar levá-las comigo, deixarei-as mais seguras. Vocês estão crescendo e é essencial terem uma vida fixa nessa fase, sem mudar de escola e principalmente, se adaptarem a nossa cultura novamente.

Olhei para minhas irmãs e não havia sequer uma expressão surpresa, empolgada ou mesmo revoltadas com tudo isso, elas apenas aceitavam como algo normal em suas vidas cotidianas. Resolvi fazer o mesmo, guardei para mim todas as dúvidas e qualquer coisa que achasse aquela vida que eu levaria "fora do comum".

- Tenho uma surpresa especial para vocês - disse minha mãe entusiasmada - teremos mais um integrante para dividir a casa e a vida dupla com a gente. Espero que o recebam com o carinho que ele merece.

Os olhos de Anna brilharam quando ela se deu conta de quem estaria lá.

- Não acredito! Ele estará lá? - perguntou esperançosa. Minha mãe respondeu com um aceno de cabeça, o que a fez vibrar de alegria junto com Ayla e sair da sala deixando-nos a sós.

Eu estava confusa, quem estará lá? Quem é capaz de deixar Anna saltitante?

- Filha, preciso te contar uma coisa... - disse ela hesitante, a tenção em seus ombros era notória. Respirei fundo, sabia que depois daquela frase viria uma bomba - quero te contar algo que deveria ter dito a muito tempo. Lembra do seu pai? - fiz que sim com a cabeça - ele era um agente do FBI, um dos melhores, assim como eu. Naquele dia ele não saiu em missão com o exército, ele saiu para solucionar um caso, fomos escalados para casos diferentes e por esse motivo ele foi sozinho. Para não comprometer nossas identidades, decidimos que seria melhor avisar a todos que ele havia morrido. Na realidade, ele está vivo e nos espera ansioso para seguirmos nossa nova vida como família feliz de novo.

Eu entrei em choque, mais uma mentira... Como eles conseguiam viver assim por tanto tempo.

- Não é possível... Como você foi capaz de esconder isso de mim? - gritei aos prantos - você viu o quanto eu sofri, eu parei de patinar, eu desisti dos meus sonhos por não suportar a dor da perda!! Como você pôde fazer isso com sua própria filha?

Desabei no chão

- Só eu não sabia, como eu fui tão ingênua de acreditar...

Corri para fora, precisava espairecer e absorver tudo aquilo. Não pode ser, ele não pode tá vivo esse tempo todo... Uma parte de mim está muito feliz com a notícia, só de saber que poderei abraça-lo novamente meu coração já aquece. A outra parte está completamente destruída, sinto-me traída, a confiança foi quebrada, logo as pessoas que eu confiava minha vida, me decepcionaram a ponto de pensar se pelo menos o amor deles por mim é real ou sou apenas parte de mais um plano.

Corri até o parquinho do hotel, havia crianças se divertindo na caixa de areia. Passei longe deles e fui até o balanço para processar o que havia sido dito. Estava olhando para o horizonte, o sol estava se pondo e o crepúsculo era visível de qualquer lugar daquela cidade. Assustei-me quando ouvi uma voz doce e infantil perguntar:

- Moça, qual motivo da sua tristeza? - um menininho de cabelos loiros aproximou-se e sentou no balanço ao lado, ele aparentava não ter mais que sete anos.

- É complicado. Não é assunto para se falar com uma crian... um desconhecido.

- Pessoas grandes, problemas grandes. É o que minha mãe costuma dizer, mas não há problema sem solução - continuou o menino remexendo seu bolso - abre a mão.

Obedeci como se alguém superior estivesse falando. Ele tirou um bombom de chocolate amassado como se tivesse guardado desde o almoço.

- Eu não tenho a solução do seu problema, mas doces sempre me alegram, espero que ajude você também - ele sorriu e correu para dentro do hotel.

Aquele pequeno garoto conseguiu tirar um sorriso do meu rosto, torci para encontrá-lo novamente e agradecer o imenso gesto que mudou meu dia, talvez até mesmo minha vida permanentemente.

Voltei para o hotel, agora conformada e deixando o sentimento de alegria tomar conta do meu ser, afinal eu iria rever alguém que amo, alguém que me inspirou a vida toda e que sorte a minha ter essa oportunidade.

- Filha!! - minha mãe correu para me abraçar, logo depois minhas irmãs fizeram o mesmo - Me desculpa por...

- Tudo bem - a interrompi - Eu já entendi que teve seus motivos. Quando iremos para nova casa?

- Amanhã mesmo, a agência ainda está decidindo se ficaremos aqui em Detroit ou partiremos para Toledo. Independente da escolha, já temos o imóvel em ambas as cidades.

Ao acordar no dia seguinte, minhas irmãs já estavam arrumando suas malas e não encontrei minha mãe no quarto.

- Olha só quem acordou - Disse Anna ao me ver remexendo na cama.

- Bom dia para você também, maninha! - levantei e fui até o banheiro.

- Vocês não vão começar logo cedo não é? - Disse Ayla enquanto levava o secador até sua mala - A mamãe falou que ficaremos em Detroit mesmo, partiremos após o café da manhã. Arrumem-se rápido que ela está nos esperando lá em baixo.

Descemos para o café e logo depois partimos para o que chamaríamos de casa, pelo menos por um tempo. Depois de horas dentro de um táxi, comecei a avistar pela janela casas diferentes, essas ocupavam um maior espaço de terra e tinham um grande gramado verde em sua frente, uma mais linda que a outra, adentramos em um bairro nobre", pensei.

Eu estava encantada. Paramos frente a um casarão branco com grandes alamos na frente e uma estrada de pedra formando um caminho até a porta, o portão da mesma se abriu para nós. Não consegui acreditar que moraíamos nesta mansão, talvez ser do FBI tem as suas vantagens.

Começamos a descer as malas do carro e logo duas moças com trajes de arrumadeiras vieram nos ajudar a carregá-las para dentro. Olhei para a porta, e logo avistei a silhueta de um homem que me parecia familiar, era quem eu estava pensando?

Minhas irmãs correram em sua direção como duas crianças gritando:

- Papai!

Logo minha mãe fez o mesmo. Fiquei ali parada observando-as, ainda não conseguia acreditar que ele estava em carne e osso na minha frente esperando por um abraço.

As mulheres da família, ao perceberem que eu não corria para abraçar o homem, ficaram imóveis me encarando, esperando que eu reagisse. Meus olhos ameaçaram marejar a qualquer instante, foi então que a ficha caiu e eu me dei tive a lágrimas enquanto corria na direção daquele homem. Eu abracei, não disse nenhuma palavra, apenas o abracei e me mantive ali por alguns instantes. Tudo que eu queria era sentir a presença dele novamente.

Patinando nas EntrelinhasOnde histórias criam vida. Descubra agora