1 - na caixa de areia

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Eu lembro da primeira vez em que o vi. Absurdamente pequeno, com olhos que iluminariam o mundo inteiro.

Ele estava na caixa de areia. Sozinho. As outras crianças no playground estavam focadas em se dividirem no escorrego. Mas ele estava na areia mexida, com seus carrinhos de plástico e sorriso brilhante.

Lembro de que a governanta do orfanato estava brigando comigo. Algo sobre não poder empurrar os outros no brinquedo. Eu lembro nitidamente de ouvir gritos, mas não lembro do que foi dito.

Eu estava concentrado no menino na caixa de areia. Ele brilhava sozinho, como se irradiasse luz e paz. E eu me vi completamente atraído.

Eu tinha algo perto dos sete anos quando o vi na pracinha, num dos passeios externos que o orfanato permitia.

Sempre lembrarei do dia que conheci Jimin, o menino da caixa de areia.

Nunca falei com ele, nunca mesmo. Mas observava, ele sempre ia na pracinha, e conforme eu o encontrava, observava.

Até que ele parou de aparecer, e eu tive meu coração partido.

Quando fiz quinze anos, ainda sonhava com ele. Era diferente de quando criança. Era mais apaixonado. Os hormônios ajudavam.

E no auge dos dezesseis, nos corredores da escola, eu o encontrei de novo.

Os cabelos mais claros, loiros, caiam em ondas perfeitas, embelezando ainda mais seu rosto delicado. Seus olhos ainda carregavam o mesmo brilho, e seu sorriso era ainda mais gracioso.

Ele cresceu, não muito, mas estava mais alto. Mais bonito, mais perfeito. E vê-lo passar por mim com aquele sorriso doce foi como voltar a ser criança. Voltar no tempo e o encontrar naquela caixa de areia.

Mas ele não me conhecia. E não deveria querer me conhecer.

Nunca fui uma criança calma. Era um pentelho, confesso. Sempre metido em confusões. Sempre brigando. Já estive em diversos castigos no orfanato, as senhoras tinham pesadelos só de ouvir meu nome.

Meus pais me abandonaram quando eu ainda era um bebê. Eu nunca soube quem são ou o que os levou a me deixar, e também nunca desejei saber.

Quando perguntei por eles, não havia resposta, mas eu sabia que se não estavam ali, era porque não me amavam. E isso me fez entender quem eu era naquele mundo.

Um órfão com temperamento forte.

Eu gostava do orfanato, mas ver os mais novos indo embora com novas famílias, me fez sentir ainda mais o abandono. Nenhuma família adota as crianças birrentas e elétricas. E eu era uma delas, fui o menino na prateleira de cima, esquecido.

E com quinze anos decidi que queria sair. Fiz um trato com a diretora. Eu ajudaria na limpeza, na cozinha e nos eventos de arrecadação em conjunto da Igreja. Em troca, eu seria emancipado aos dezesseis.

Além dos afazeres, eu achei um trabalho de meio período. Ganhava pouco, trabalhava sem carteira, mas ainda era alguma coisa.

Com dezesseis, enfim emancipado, consegui arranjar um lugar com a ajuda da diretora. Era um lugar pequeno, com uma divisória entre quarto e cozinha/sala, e um banheiro. As contas e o aluguel me deixaram maluco nos primeiros meses, mas eu me virei.

Arranjei outro trabalho. Melhor, que pagava bem. Numa mercearia. Trabalhei no caixa, no estoque, com entregas e tudo mais.

Era a minha vida. Complexa e solitária.

-Fez a lição de matemônio? - Taehyung falava do meu lado.

Hoje, sou um formando. Irei completar dezenove anos em algumas semanas.

SunshineOnde histórias criam vida. Descubra agora