Destino do amor

Capítulo 7:Armadilha

Ele continuou cavalgando para frente, convencendo-se a não olhar para trás.  A noite caiu cada vez mais rápido até que finalmente, ao ouvir o ronco cansado de seu cavalo, ordenou que parasse, percebendo o quão fundo havia entrado na floresta.

 Por alguns segundos, Yan Song observou aquela escuridão, a vegetação que o cercava e tentou se acalmar para pensar em algo.  À noite, muitos cultivadores aproveitavam para caçar uns aos outros.  Ela teve que se esconder e deixar esta noite sangrenta passar.  Ele desceu do cavalo e pegou as rédeas, caminhou da forma mais silenciosa que pôde considerando que tinha um cavalo atrás dele.

Ele atravessou parte da floresta e, depois de caminhar por mais de vinte minutos, chegou ao que pareciam as ruínas de um antigo templo.  Ele estalou os lábios em desgosto, sentindo o frio tomar conta de seus ossos.  Ele não poderia acender uma fogueira nessas condições, com a escuridão ali, o fogo chamaria a atenção de todos os caçadores da área e as ruínas também não eram um lugar seguro.

 Aquele local era o único capaz de proteger do vento e que ao menos, apesar de suas ruínas, teria um local coberto, porém... por isso mesmo o tornava um local vulnerável.  O resto dos cultivadores saberiam que queriam se refugiar ali.  Seria o primeiro lugar que procurar.  Ele tentou pensar por um segundo no que Chen gege ou o próprio Zhao Cheng teriam feito.  A resposta foi clara... uma armadilha.

 - Fique aqui – ela apontou para o cavalo com um sorriso enquanto ele entrava lentamente na planície aberta para ir até as ruínas do templo.

 Ele engoliu em seco enquanto se aproximava. Ele estaria mentindo naquele momento se dissesse que não estava com medo, estava com medo, mas não teve escolha a não ser ir.  Se ele conseguisse colocar as armadilhas neste lugar, era possível que ele ainda pudesse sobreviver caso fosse emboscado.

 Felizmente para ele, não parecia haver ninguém.  Ou eles não haviam chegado ou os competidores mais avançados decidiram pressionar sem parar para os que estavam mais atrás.

 Naquela noite, enquanto Yan Song preparava as armadilhas, ele não conseguia parar de pensar em Zhao Cheng.  Ele sentiu frio e muitas vezes teve que soprar seu hálito quente nas mãos congeladas para dar os nós nas cordas.  Seu corpo inteiro doía, mas suas mãos mal sentirão mais.  O frio estava acabando com ele e a culpa por ter deixado o Zhao para trás sozinho também não o deixava pregar o olho.

 "Droga" Yan Song reclamou quando a corda escorregou de seus dedos fracos e congelados, liberando o tronco que ele estava escalando para a armadilha.  Olhando para sua mão, ele observou como a ferida que Zhao Cheng havia cuidado horas antes começou a sangrar novamente.

 Ele olhou para a esplanada.  Seu cavalo ainda estava escondido na vegetação, mas seu pelo dourado estava totalmente visível.  Ele suspirou mais uma vez e terminou de montar a armadilha antes de ir buscar seu cavalo.  Ambos passaram a noite abrigados atrás das paredes frágeis daquelas ruínas, cobertos com o cobertor debaixo da sela.  Vendo seu cavalo fechar os olhos, ele sorriu.

Ainda se lembrava do dia em que ganhou aquele cavalo.  Um carregamento de cavalos havia chegado ao porto.  Vieram de barco de terras distantes para serem vendidos, mas este em particular, com apenas um ano quando o viu pela primeira vez, era teimoso e ninguém o queria ali por causa da sua cor estranha.  Ele foi praticamente condenado a virar mera carne em algum açougue da cidade.  Ele nem sabia como conseguiu convencer o pai a comprá-lo para ele, porque eles mal tinham dinheiro.  Talvez tenha sido sorte aquele cavalo não ser especial para ninguém e eles baixaram o preço para levá-lo embora.  Desde aquele dia, eles eram inseparáveis.

 - Naquele dia um grande céu estrelado surgiu a noite –  e Yan Song olhando para o céu, tocau a crina de seu cavalo – você sempre será “minha noite estrelada”, aquele que me mantém alerta, que nunca falha na intuição.

 Acariciando-o e aquecendo-se graças ao apoio de "Xingye", Yan Song conseguiu dormir algumas horas antes do amanhecer.  Quando os primeiros raios de sol atingiram seu rosto, ela se recusou a abrir os olhos.  Ele precisava descansar, estava exausto e ainda assim, sentindo como "Xingye" se movia abruptamente, abriu os olhos sem pensar duas vezes.  Aquelas orelhas duras de seu cavalo só podiam indicar uma coisa, ele tinha ouvido algo ou alguém.  Ele tinha um instinto maior para esses sons.

 Sua mão se moveu instintivamente para o saco de adagas amarrado nas costas e ele jogou uma rapidamente para a direita, ouvindo enquanto ele batia contra a parede de pedra ao fundo.  Seu cavalo ainda estava tenso, tanto que até havia se levantado, então ele o imitou apesar da pouca força que tinha naquele momento.

 Observou tudo ao seu redor até ouvir o silvo de algo cruzando o ar.  Com o punho de sua adaga, ele pegou a que vinha em sua direção, inserindo a ponta da que foi arremessada na abertura circular na ponta da sua.  Uma vez parado praticamente a poucos metros de seus rostos, ele pegou a adaga  que havia sido lançada contra ele, percebendo que era dele.  Ele olhou para a parede onde a havia fixado anteriormente para descobrir que sua adaga realmente não estava mais lá.

 - Você é rápido em descobrir a presença do inimigo – confirmou o Qin saindo de seu esconderijo – vejo como você demorou para se livrar do Zhao.  Bem… pelo menos agora vocês estão.

 -Foi uma emboscada para nos separar ?! - comentou Yan Song.

 - Não exatamente.  Eu vi um ninja estúpido seguindo você.  Eu só tive que esperar o momento oportuno que Zhao Cheng queria ficar sozinho para a luta e então, deixei aquele ninja com ele e segui você.  A essa altura ele já deve estar morto – o Qin sorriu – você tem que ser um idiota para mexer com um Zhao tão levianamente. Porra, Song-er... Achei que você nunca iria se separar dele e que não poderíamos nos divertir sozinhos - ele sorriu com luxúria.