Setembro de 1971
Lily sabia que pessoas estúpidas podiam existir nas escolas regulares, mas por algum motivo, não se viu preparada para lidar com rapazes tão arrogantes em Hogwarts. Nem mesmo havia conseguido processar a rapidez com que aquela conversa se escalonara para uma briga, mas achou que o melhor a se fazer foi puxar Severus para fora daquela cabine, e deixar aquela duplinha a sós.
— Garotos idiotas...Não me espantaria se eles conseguissem o que querem e fossem para a Grifinória... — seu amigo ainda resmungava entredentes, enquanto perambulavam pelos corredores agora menos movimentados do trem.
— Mas afinal, o que foi aquilo?! — a ruiva inquiriu, já não aguentando mais ouvir um minuto sequer daquela picuinha. — Sev, você precisa aprender a ignorar certas pessoas, senão sempre vai se ver caindo na corda delas!
— Mas foi ele quem começou! — o rapaz objetou, batendo o pé firmemente no chão.
— E eu fui quem terminei tudo, então esqueça o que rolou! — ela respondeu um tom mais alto, sabendo que só assim para lidar com seu amigo.
Amava Severus, mas tinha de confessar que seu temperamento irritadiço as vezes lhe dava nos nervos.
— Tudo bem aí? — uma nova voz se fez audível no corredor, seguido pelo som da porta de uma das cabines se abrindo para revelar a cabeça de uma garota.
Ela tinha madeixas loiro-morango medianas e grandes olhos castanhos, que eram realçados pelos cílios. Mas, de todas as características que Lily poderia observar, a que mais parecia ser digna de nota eram seus dentes da frente, que eram ressaltados tal qual o de um coelho e muito valorizavam o sorriso que ela lhes dirigia no momento.
— Não é nada. Nós só meio que estamos sem uma cabine onde ficar. — a Evans dera de ombros, preferindo não ressuscitar a má primeira impressão que Sirius e James haviam causado.
— Ah, vocês podem ficar conosco! Temos vaga para mais dois! — a loira nem mesmo hesitara antes de lhes propor, abrindo ainda mais a porta para que eles adentrassem a cabine.
Foi com esse gesto que Lily pôde anotar mais duas coisas em sua figura que teriam passado desapercebido numa primeira vista: Primeiro, que a menina tinha quadris e cintura mais largos que a ruiva; e segundo que ela também eram uns centímetros mais baixa também.
Nada que de fato surpreendesse a Evans, que tinha na própria família o costume de serem mais altos e esguios do que a maioria das pessoas. Petúnia mesmo era uma que estava se encaminhando para ser mais alta que a mãe das duas, e caso não o conseguisse até o próximo verão, certamente a puberdade trataria de ajudá-la nessa conquista.
Mas, para além da loira que os cumprimentara, ainda havia mais uma menina encolhida no canto de um dos sofás da cabine, com as mãos escondidas no interior de seu casaco de lã. Era morena, esbelta, de olhos grandes, mas repuxados; e, mesmo que nada em seu semblante denunciasse alguma presunção, ela também não parecia muito à vontade para puxar assunto com eles.
— Esses são... — a loira tentou apresentar a dupla de amigos à colega, mas logo freara, voltando sua atenção para eles, em busca de uma resposta que ela percebeu não possuir. — Perdão, qual é o nome de vocês mesmo?
— Eu sou Lily Evans, e este é o meu amigo, Severus... — a menina já ia os identificar, quando fora interrompida.
— Prince, sou Severus Prince! — a cara do rapaz nem mesmo tremera diante da mentira contada.
Ou melhor, “meia-verdade” já que até onde Lily sabia, aquele era o nome de solteira da mãe dele.
— Um Prince?! Pensei que a linhagem de vocês tivesse sido extinta após a deserção de Eileen Prince! — ela apontara, parecendo mais chocada do que indignada. — Você sabe, dizem que ela havia sido prometida a um Black, mas preferiu fugir e viver sua vida com um trouxa. Não que eu a julgue, é claro, já que os Black são tão...estranhos.
— Black?! — Lily exclamou, percebendo que o sobrenome não lhe era tão estranho, após ter conhecido um dos possíveis membros da família. — O que tem eles?
— Você sabe...ou não. — ela arregalara os grandes olhos castanhos. — Digo, pelo seu sobrenome devo imaginar que não seja do Mundo Bruxo, né?
— Pode se dizer que não... — Lily admitiu, meio acanhada.
— Não tem problema, Mary também é nascida-trouxa! — ela assegurou, apontando para a outra garota encolhida na cabine. — Venham, sentem-se, e eu lhes contarei os pormenores. Aliás, sou Marlene McKinnon, e é um prazer conhecê-los! — concluiu, lhes estendendo a mão e os ofertando mais um de seus sorrisos de dentes salientados.
Passadas as formalidades, e após Lily e Severus terem guardado suas malas e se assentado no sofá oposto ao de Marlene e Mary, a dupla permitiu que a menina lhes contasse a história de como os Black, apesar de serem uma família muito respeitada entre os Sagrados Vinte e Oito, também eram tido como bruxos um tanto peculiares.
— Dizem que o herdeiro deles irá ingressar este ano em Hogwarts. — ela concluíra. — Provavelmente ele cairá para a Sonserina, já que a família tem o costume secular de cair nesta casa.
— Não foi o que ele disse. — Severus bufara, cruzando os braços em desgosto. Dos três a ouvirem aquela história pela primeira vez, era evidente que tivesse saído como o mais desgostoso, já que parte daquela fofoca partira de sua própria mãe.
— Vocês falaram com Sirius Black?! — a surpresa de Marlene chegava a ser cômica. — Bom, meu pai me disse para tomar certa distância dele, já que andam tendo rumores dentro do ministério, de que talvez a família dele esteja se filiando a grupos de ideais...condenáveis. Mas eu não sei se gosto de pensar que uma pessoa seja má, só porque sua família é má.
— Mal ou não, ele foi no mínimo rude. — Lily viera em protesto, mesmo que não quisesse dar margem para Severus voltar a resmungar sobre aqueles garotos. — Mas que tipos de ideais poderiam ser condenáveis, no Mundo Bruxo? — procurou entender, já que fora o que seu amigo lhe contara, de nada sabia sobre aquele mundo.
Entretanto, não houvera tempo para sua dúvida ser sanada, pois ao som de um alerta que os sinalizara de que estavam próximos de Hogwarts, o grupo só tivera tempo de trocar suas roupas pelo uniforme escolar.
— Que gracinha o seu bichinho! — Lily sorrira para Mary, ao notar a bolinha de pelos pintada entre caramelo, branco e cinza em suas mãos, e que agora era muito bem acomodada num dos bolsos internos de sua capa.
— Esse é o Canelinha. Meus pais me deram de presente de aniversário, quando descobriram que eu viria para cá. — a garota respondeu, num misto de acanhamento e doçura. — Disseram que serviria de boa companhia durante o período letivo.
— Gostaria que meus pais tivessem tido a mesma ideia. — Lily lamentou consigo mesma. — Mas é legal ver que seus pais apoiaram sua vinda à Hogwarts!
— Na verdade, eu fui convidada a duas escolas de magia. — Mary a corrigira, menos por presunção e mais para explicar-lhe os fatos. — Acontece que minha mãe é japonesa, e por isso a Academia de Mahoutokoro, no Japão, achou que valeria à pena me convidar também. Mas, como fica muito distante, e eu ainda teria de viajar diariamente para estudar, eles preferiram que eu ficasse em Hogwarts, fora de casa durante o período escolar, mas infinitamente mais perto. — ela concluiu, checando mais uma vez o Porquinho-da-Índia que tremelhicava o focinho para fora de seu bolso.
Lily não pôde ficar nada além de impressionada com o leque de oportunidades que Mary teria tido, além de se perguntar quais seriam as grandes descobertas que ainda viria fazer naquele novo mundo, que parecia cada vez mais se expandir.
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Sisterhood - Marauders Era
FanfictionNuma escola de magia, cinco garotas têm seus destinos cruzados pelos próximos sete anos letivos, onde, para além das magias convencionais, elas descobrirão algo a mais: o valor amizades duradouras. [Marauders Era] [Sisterhood] [Focado nas meninas da...