Uma carta para um anjo - One shot

Para Aziraphele

Soho, Londres xx/xx/xxxx

Anjo,

Quando estava observando a nebulosa nascer, aquela que eu mesmo contribuí a criar, eu era feliz. Quando eu era só um arcanjo ingênuo em relação ao céu, eu era feliz.

Aquele brilho cintilante aquecia meu coração, e você estava lá, desde o começo até quase o fim de tudo.

Passamos eras juntos, e as emoções que eu sentia era algo maior do que eu seria capaz de entender ou descrever.

Era um sentimento que acreditava ser impossível para alguém como eu, alguém como fui.

Um sentimento que nunca imaginei que pudesse ser recíproco.

Meu querido amigo, você me fez fazer coisas que eu não podia fazer, a encontrar razões para apreciar ainda mais a terra, e talvez a apreciar a mim mesmo. Tudo o que eu sempre fiz foi por você, e eu nem sequer questionei o motivo.

Poderia ter sido a gente, ter sido "nós", eu desejei isso. Após impedimos o apocalipse, eu pensei que já tivesse deixado claro em que lado eu queria estar, acreditava que eu já o tinha, pensei que tivesse conseguido fazer você enxergar que não existe o lado certo ou errado quando se trata de céu ou inferno.

Você sempre escolheu as amarras e migalhas do céu, sempre com essa insegurança que eu nunca consegui entender.

Essa fé que você tem sobre todos serem capazes de ser bons, de ser melhores, eu sempre admirei isso em você, mas eu só queria que você enxergasse uma vez na vida, o que está além disto, como enxergar a mim.

Não tento culpar você, por um momento, eu me senti um bobo. Quando eu percebi o que Gabriel significava para Belzebu, percebi que a ideia de tais sentimentos não parecia tão absurda como eu pensava. Contudo, não busco desculpas, não quero seu perdão.

Talvez eu deva me arrepender, mas após tanto séculos, desabafar depois de tanta repreensão, foi o único alívio que eu consegui em toda a minha existência. É egoísta, eu sei, mas eu sou um demônio.

Eu sei que você queria que eu fosse um anjo bom, alguém melhor, sempre foi sua visão sobre mim, e eu queria te dar isso, eu queria mesmo, mas não posso ser que nem você, eu não poderia voltar como se nada tivesse acontecido, não é o meu lugar, mas eu sei que é o seu.

Eu sinto que não fiz o suficiente, sinto que poderia ter feito mais. No entanto, é uma ilusão, uma esperança passageira de que com algum milagre, a gente ainda pode dar certo, tentar de novo, e desta vez, com ambos segurando a balança. Mesmo depois de ver você partir, optando por algo que não sou eu.

Não posso mais manter a balança funcionando sozinha. Você já a soltou muitas vezes, a cada vez vai ficando mais difícil de segurar.

Talvez tenha sido melhor assim. Espero que esteja feliz, eu não posso dizer o mesmo, mas não quero mais esperar por você.

Anthony. J. Crowley.

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