Zumbido...Tudo o que podia ser ouvido pelos sentidos auditivos de Richarlison naquela hora era um forte zumbido dentro de sua cabeça.
Estava em choque.
Seus batimentos cardíacos estavam acelerados, sua boca estava entreaberta, seus olhos estavam arregalados... tudo parecia irreal demais para ele.
— Meu Deus... matei o cara... — disse, com os olhos vidrados no para-brisa.
Emerson, ao seu lado, engolia em seco repetidas vezes, tentando encontrar forças para descer do caminhão e ao menos checar como o homem estava. Morto, né? Deve tá morto... o rapaz logo pensou. — R-Richarlison, vamos sair do caminhão, cara...
Richarlison fechou a boca, ainda respirando compulsivamente.
— E se ele tiver morto, Emerson? — relutou, encarando o amigo com uma séria apreensão no olhar. — Eu vou ter matado uma pessoa, cara, eu vou ter matado algúem! Meu Deus, não, não, não! — botou ambas as mãos na cabeça.
— Calma, cara! — Emerson o sacudiu, dizendo aquilo mais para si mesmo do que para o rapaz de cabelos descoloridos. — Precisamos descer logo! Uma hora a gente vai ter que sair daqui de qualquer jeito mesmo, bora logo! — empurrou o amigo, o instigando a sair pela porta do motorista.
Richarlison estava tão perplexo que ao menos relutou dessa vez. Apenas abriu a porta do caminhão e botou o pé direito na escada que tinha ali, descendo lentamente, ainda vidrado, até se colocar de pé no asfalto. Emerson surgiu ao seu lado —após descer do lado do passageiro— e botou uma mão no ombro do amigo, sem saber bem o que dizer.
Ao ver que as várias pessoas que estavam na rua encaravam os dois, Richarlison pareceu, finalmente, ter acordado do transe. Olhou rapidamente para a frente do caminhão e viu que o corpo não estava lá.
Arregalou os olhos.
— Jesus, Maria, José, cadê o cara?! — gritou, desesperado, correndo para a frente do caminhão. — Onde é que ele foi parar?!
— Onde é que ele foi parar!? Do jeito que você atropelou, deve ter parado em cima do telhado! — um senhor que trabalhava na padaria e que viu tudo, alegou.
— Não parou em cima do telhado, não. Se não eu tinha visto — uma moça que voltava do trabalho confirmou. — Deve ter matado o rapaz, do jeito que esse Richarlison é... — cochichou com uma outra mulher.
— Acho que eu vi coisa voando sim... — um bêbado que estava numa esquina próxima deduziu.
O senhor da padaria bufou. — Do jeito que você tá você viu uma vaca voando! — respondeu ao bêbado.
— Não, eu tava vendo! Ele tava aqui, ai do nada, sumiu! — um garotinho que jogava bola ali perto disse.
Richarlison botou ambas as mãos na cabeça, esfregando-as pelos cabelos curtos.
— Meu Deus do céu, gente, eu não posso ser preso! — desabafou. — Eu não posso ser preso de jeito nenhum, foi sem querer!
— Calma, rapaz, se ninguém achar nenhum pedacinho dele vai ficar tudo bem... — uma senhorinha se meteu na conversa.
— Vem cá, mas alguém já viu este louco aqui antes? Alguém já viu este idiota por aqui na cidade? — o velho da padaria questionou.
"Eu nunca vi", "nem eu" algumas pessoas responderam.
— Mas vocês viram, ele atravessou a rua sem nem olhar pros lados! — Emerson alegou, desesperado.
— Verdade! Parecia que tava andando dentro da casa dele! — Richarlison completou, apontando para a rua. — Vocês viram, não viram?!
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Capixaba Boys (2son)
FanfictionEm uma colônia de férias em Nova Venécia, cidade do Espírito Santo, o pequeno paulistano rico e hipocondríaco Son conhece o jovem corajoso e capixaba Richarlison e, desde então, viram melhores amigos. Porém, com o fim das férias e a volta às aulas...