Prólogo: Férias Inesquecíveis

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Nova Venécia, Espírito Santo.

Junho de 2007.

Era uma bela tarde ensolarada na pequena cidade do interior do Espírito Santo. As crianças brincavam livremente, correndo, pulando e se divertindo pelo grande sítio do fazendeiro tio José.

Alguns raios de sol do fim de tarde já espreitavam o belo gramado verde do lugar e alguns animais já estavam se preparando para dormir.

José Mourinho —ou somente "tio José"— era um velhinho com Alzheimer que às vezes dava alguns surtos e pensava que ainda estava no meio da Segunda Guerra Mundial. Era chamado por todos do bairro de ''tio", mas na verdade ele só era tio biológico de Son.

Bom, e quem era Son?

Son era um garoto metade asiático, metade brasileiro que nasceu no Brasil, mas a mãe é da Coréia do Sul, tem família no Rio Grande do Sul, mas mora em São Paulo e agora, descobriu um tio idoso e mais dois primos sulistas que moram no interior do Espírito Santo.

E além de tudo isso, Son era o garoto que tanto confundia a cabeça de Richarlison.

Por que ele continuava insistindo em tentar acertar aquela bola no gol? O garoto capixaba não sabia. Richarlison provavelmente nunca tinha visto alguém ser tão ruim no futebol igual o Son.

Ele era desengonçado, pálido e meio gordinho... usava óculos quadrados de fundo de garrafa e não sabia correr. Richarlison o observava de longe enquanto esperava aquela partida terminar para entrar com o seu time. Son estava tentando ser o camisa nove do time dele, o atacante, mas não conseguia nem dominar a bola e quando finalmente conseguiu, correu com ela desesperadamente na expectativa de mandá-la pro gol de novo.

Só que dessa vez, travou o pé no gramado e se desequilibrou, caindo de cara no chão logo em seguida. Aquilo estava começando a ficar hilário.

Sem conseguir mais segurar a risada, Richarlison desabou completamente quando olhou para o lado e viu Emerson com as bochechas infladas, tentando não rir também. Os dois não aguentaram e começaram a rir escandalosamente, como se estivessem segurando há horas e realmente estavam.

Na verdade, Richarlison se esforçava para não rir de Son desde que ele chegou na colônia de férias, na tarde de ontem.

Ele lembra que o garoto desceu de um carro preto com vidros fumê e a primeira coisa que fez foi colocar um dos pés —calçado com um tênis Olympikus cinza e uma meinha branca— no chão, afundando-o, involuntariamente, na mistura de lama e cocô de vaca que havia ali.

Son tinha os cabelos escuros e vestia uma calça jeans branca com uma camisa de gola polo verde escura num calor de cerca de 30 graus célsius. Algo nele era muito engraçado. Será que ele não sabia que tava indo para uma colônia de férias num sítio? Richarlison logo pensou.

Ouviu os boatos de que a colônia de férias daquele ano ia ser no sítio do Tio José, vizinho do seu bairro, e descobriu também que ele tinha um sobrinho rico em São Paulo que viria passar as férias ali pela primeira vez.

Parece que o tal sobrinho era esse ai e, de fato, ele parecia ser rico. Suas roupas e o carro que o deixou ali contrastavam com todo o cenário da cidade.

Quando finalmente se pôs de pé, Son retirou seus óculos escuros e fez meio que um raio-x na estrutura do sítio.

Richarlison, Emerson e mais dois amigos ficaram parados, encarando o estranho garoto que acabara de chegar como se estivessem vendo um ET. Emerson estava embasbacado com as roupas dele, mas Richarlison só conseguia achar tudo aquilo extremamente brega.

Capixaba Boys (2son)Onde histórias criam vida. Descubra agora