Capitulo 2:Lembranças Esquecidas

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Lembranças Esquecidas

Aos poucos, minha consciência emerge de uma escuridão densa, como se eu estivesse despertando de um sono profundo e confuso. Meus olhos piscam lentamente, se ajustando à luz que parece filtrar através das pálpebras. Um frio intenso se infiltra em minha pele, uma sensação que contrasta com o calor daquele lugar desconhecido onde eu estava antes.

Ao abrir os olhos completamente, sou saudada por um ambiente que não reconheço. Tudo é sombrio, úmido e silencioso. Cautelosamente, me ponho de pé, minha mente atordoada tentando entender o que está acontecendo. Pois até um segundo atras eu estava sendo devorada viva. Uma sensação de urgência se insinua em mim, uma necessidade instintiva de encontrar uma saída.

Minhas pernas me levam sem rumo, cada passo ecoando na quietude opressora. A escuridão é tangível, mas não me intimida. Sigo adiante, uma vontade implacável me impulsionando através desse labirinto de sombras. À medida que avanço, o calor começa a me envolver, uma corrente sutil que percorre meu corpo e acende um fio de esperança.

Meus olhos captam algo distante, um brilho fraco e quase imperceptível que corta a escuridão. Sigo esse rastro de luz enfraquecida, me guiando através das trevas. Quase inconscientemente, minhas mãos estendem-se na escuridão, tocando as paredes úmidas que me cercam. A textura áspera e fria confirma minha presença nesse lugar enigmático.

Finalmente, uma abertura se forma à minha frente, como um fio de esperança que me chama para frente. E quando finalmente saio daquela escuridão sufocante, encontro-me diante de um cenário devastado e em ruínas. Um local completamente devastado me cercava, era como se uma tragédia há muito tempo ocorrida estivesse parada no tempo queimando eternamente.

No meio da fumaça e destroços, uma jovem de cabelos longos e negros estava agachada sobre uma poça, entre soluços silenciosos sacudindo seu corpo. Minha curiosidade me impulsiona a me aproximar, mas assim que olho sobre seu ombro, vejo que o líquido envolta dela é sangue, encaro meu próprio reflexo e é uma visão que me deixa sem fôlego. Meus olhos, antes comuns, agora têm uma tonalidade rubra e penetrante. Meus dentes, uma vez normais, agora são afiados como presas de um predador. Sinto uma dor forte no estomago e uma vontade incontrolável de vomitar, como se algo se rastejasse para fora de meu corpo subindo pela minha garganta. Me inclinei para forçar o vomito. Forço para vomitar, mas sinto algo rastejar do meu esôfago até minha garganta, quando mais uma vez meus músculos se mexem involuntariamente para expulsar esse mal-estar, percebo que o que sai de minha boca é uma larva escura cheia de sangue e coágulos, ela cai em uma poça e começa a derreter.

Uma onda de terror me atravessa e começo a me afastar, olho em volta e vejo que lentamente a jovem que estava em silencio se levanta e me encara, ela é a mesma visão do meu reflexo, uma horrível fera sanguinária. Ela salta em minha direção. Cambaleio, uma mistura de desespero e horror ameaçando me derrubar. Meus passos se tornam vacilantes, então me sinto caindo, caindo em um abismo.

Eu mergulho, me afogando naquela escuridão opressora e gelada. A sensação de ser arrastada, de ser consumida, me envolve. E então, a escuridão dá lugar a um vermelho pulsante e luminoso. Sinto um líquido quente e espesso ao meu redor, uma sensação que é tanto perturbadora quanto hipnotizante.

E é quando me vejo presa nesse rio vermelho, afundando cada vez mais em suas profundezas, que finalmente desperto. Meu coração bate com força em meu peito quando meus olhos se ajustam à nova realidade. Estou em um quarto de hospital, cercada por luzes brancas e sons eletrônicos. Minha mente oscila entre o que acabei de experimentar e a sensação de estar de volta à realidade.

CORAÇÃO DE PRATA E SANGUEOnde histórias criam vida. Descubra agora