Endora: Uma busca por um Coração Flamejante.

Prazer e Dor.

Não demorou muito para que Sebastian aparecesse no banheiro feminino usando o feitiço de invisibilidade, dando-me um grande susto com sua presença repentina. Estar com Sallow em um lugar impróprio para um homem era esquisito, fazendo-me pensar que estivesse a cometer um crime, mas ficar próximo a ele me fazia sentir segura. Era o que realmente importava no meio daquela confusão toda.
Num movimento rápido Sebastian ergueu-me pelos braços colocando-me sentada em cima da pia do banheiro. Fechei os olhos assim que senti as mãos firmes do Sonserino em seu gesto momentâneo. Sebastian tirou do bolso interno da sua capa um lenço branco, o molhou com a água corrente que escorria da torneira ao meu lado e em seguida ajoelhou-se suavemente diante de mim. Congelei ao vê-lo agir dessa forma, só consegui prestar atenção em sua respiração, em seus cabelos castanhos desordenados e no correr de seus olhos preocupados analisando os ferimentos.

─ Aqueles cascalhos de pedras realmente fizeram um estrago em você. ─ Sebastian disse, dando batidinhas suaves nas escoriações. Reclamei assim que o tecido tocou os pequenos ferimentos, trazendo a atenção de Sebastian para meu rosto. ─ Tudo bem? vai durar só mais um pouco. ─ os olhos castanhos corriam pelas minhas pernas, a cada segundo em que estávamos tão próximos a respiração de Sebastian parecia pesar. Não demorou muito para que as sardas do rosto fossem acompanhadas com a vermelhidão. A mão quente e firme segurava minha panturrilha, fazendo meu coração acelerar. Comecei a corar lentamente conforme sentia seu toque. Observa-lo por cima, ajoelhado, sem dúvidas era uma visão privilegiada, Sebastian é bem mais alto que eu e poder vê-lo assim me dava uma sensação estranha de aconchego, poder e de pertence.

Enquanto estava concentrado em sua tarefa, senti um desejo enorme de acariciar aqueles cabelos castanhos. Elevei minha mão esquerda afim de afagar lhe enquanto apoiava-me na pia com a direita. Parei no meio do caminho assim que o ouvi.

─ Você realmente não se lembra de nada?... ─ Sebastian continuava a limpar as feridas. Observei o pano branco ficar lentamente vermelho.

─ Sebastian, eu... eu sinto muito, mas não consigo lembrar de muita coisa sobre ontem, toda vez que tento recordar minha cabeça parece querer explodir. ─ murmurei para o Sonserino observando-o se levantar e limpar o lenço manchado na água. Meus olhos o seguiam a cada movimento que fazia.

─ Claro... afinal o que mais eu esperava de você estando chapada de cerveja? ─ após molhar bem o lenço, o apertou com força enquanto prendia a respiração no ato afim de retirar toda a água presente. As veias da costa de suas mãos saltaram com a força exercida. Pude observar o gotejar avermelhado pingar sobre a cuba. Sebastian abaixou-se novamente, apanhando agora a outra perna.
Aproveitei estes últimos momentos de seu cuidado para finalmente afagar lhe os cabelos, eram tão suaves e macios que acariciavam meus dedos e a palma da mão. Sebastian não hesitou em receber as carícias, dando um sorriso leve e malicioso de canto de boca.

─ Quando nos encontrarmos com Ominis novamente, irei pedir mais uma poção pra isto, não se preocupe. ─ afirmou enquanto sentia minha mão afagar lhe. Sebastian se deleitava relaxando a cada carícia. ─ Sabe... meu tio Solomon tinha uma maneira estranha de ver o mundo, bem ele... ─ Sebastian começou a rir no meio da frase. ─ Ele acreditava que saliva era uma boa forma de estancar ferimentos superficiais como estes.

Deslizei a mão uma última vez antes do Sonserino cessar as pequenas batidinhas no local, parecia já ter terminado seu trabalho. Sebastian me encarou com olhos de pena, despedindo-se das carícias que lhe dava.

─ Você sugere por saliva nisso aí? ─ perguntei, ainda estando anestesiada pela visão que tive de Sebastian.

─ Talvez... se você quiser, eu posso fazer. ─ deu de ombros enquanto guardava o lenço dentro de sua capa.