liberdade provisória

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Havia uma verdade universalmente conhecida: Stenio estava fadado a se apaixonar por Heloísa em todas as chances de sua vida e não havia nada que ele pudesse fazer para impedir isso.

Foi na terceira noite em que ela dormiu do seu lado que ele percebeu como seu jogo de ser um homem superado foi para a casa do caralho. Ele era patético.

Naquela noite ele não conseguiu dormir porque simplesmente não conseguia tirar os olhos dela, absorvendo cada detalhe dela no único momento em que sua guarda estava baixa.

Já Heloísa estava tão exausta da rotina de cuidados que dormiu assim que deitou.

Drika já havia voltado para a Turquia com a família e as ligações eram diárias, mais de uma vez ao dia, as vezes até demais. Maria falava com eles em ligações a parte, por isso Stenio quase não saia de perto do celular. A noite eram os únicos momentos de paz.

— Vamos assistir um filme? — ele perguntou ao vê-la se aproximar do sofá.

— O que você quer ver? — Heloísa falou, prendendo o cabelo com uma piranha.

— Saiu uma comédia da Ingrid Guimarães no TeleCine, quer ver?

— Pode ser.

Maldita Heloísa Sampaio.

Ele não conseguiu tirar os olhos de Helô. Seu coração estava acelerado, ele estava acelerado, temia não conseguir dormir naquela noite, seria mais uma admirando a delegada. Existia algo em seu jeito, algo novo, algo aberto, que ele não sabia exatamente como lidar. Quando ela deu uma risada, ele sentiu o estômago flutuar e acabou tossindo, engasgando com o milho.

Heloísa voltou a atenção para ele, entregando a água.

— Está bem? — ela perguntou, tocando o braço dele com cuidado.

Ele percebeu que ela estava mais confortável de toca-lo agora que os roxos iam embora, e ao mesmo tempo aquilo o lembrava que ele tinha que ir embora de sua casa.

Tinha que voltar a viver sem ela.

Como poderia ser capaz?

— Bem, só me engasguei...

— Tem que comer devagar, Stenio.

Ele não sabia se tinha sido o tom de voz, a baixa luz, o conforto que ela estava encostada nele, mas Heloísa o excitou. Devagar, Stenio se voltou para a televisão e puxou a almofada ao lado para colocar no colo.

Isso era vergonhoso.

Ela não tinha sido nada além de respeitosa durante todo esse tempo. Nos banhos, nas vezes que colocou a pomada em suas costas, Heloísa nunca lhe faltou com o respeito e aqui ele estava agindo como um adolescente.

Pelo resto do filme ele só foi capa de ver na sua frente sua última noite com Heloísa. Como ela estava desinibida como sempre, uma deusa, sentando nele como ninguém mais fazia. Fechou os olhos brevemente e podia se lembrar do gosto de sua boceta com clareza em sua língua. Sentiu a fisgada em seu pau e se remexeu no sofá para ver se aliviava.

— Que foi, Stenio? Está com dor? — ela perguntou dessa vez com mais firmeza.

Ele fechou os olhos. Que situação embaraçosa.

— Não, Helô. — ele falou baixo, voltando a olhar sério para a televisão.

— Fala, homem. Quer remédio? — Heloísa segurou o rosto dele e puxou, voltando aquele olhar escuro para ela.

A delegada perdeu o fôlego.

— Não quero remédio.

— O que você quer?

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