capítulo dois

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Amana abriu os olhos quando Maion chegou perto tirando-a de seus tenebrosos  pensamentos. Ela andava preocupada com tudo e com todos.
- Toma vó,  bebe  sua aroba ( bebida indígena). Falou.

Amana estendeu a mão  para pegar a caneca com o líquido ,   era o horário  em que Amana costumava beber, depois gostava de um fumo , e Maion sabia todos os seus hábitos e vinha lhe entregar tudo com imenso prazer.

Ela deitava na rede  a espera das estórias  que sua avó  sempre lhe contava, sobre os pataxós,  as suas lutas e crenças.

Amana tinha orgulho de  ensinar a neta tudo o que sabia e que também  lhe fora contado ainda menina.

Pigarreou após um gole e outro da bebida solvida com gosto , esta desceu à  garganta fazendo a velha estalar os lábios  carnudos.

Fitou Maion e disse: -  hoje quero conversar sobre a festa das águas que vem vindo . É  muito importante saber,  porque vem nos trazer a fartura de nossos dias.

Quando chegar peça  seus pedidos e observe as respostas que ela lhe trará.

Maion assentia com a cabeça  , ela tinha adoração  pela avó e tudo que ela representava na Aldeia,  tudo que ela dizia era recebido com respeito,  afinal ela  foi mulher do cacique Iaçanã.

O corpo de Maion era balançado  num vai e vem   os pés  cruzados para fora da rede enquanto Amana prosseguia em sua narrativa :

- a minhaga( água) vem com bons presságios  para todos e principalmente para você minha neta , fique atenta aos sinais e só  se afaste da patixi ( aldeia), quando ouvir o canto do zabelê ( pássaro  de canto forte ).

Maion coçou  a cabeça  ao perguntar : - Como vou saber Vó?

Amana riu ao dizer : - Você  vai saber , está  tudo ai dentro de você. 

Agora tá  na hora de saber de onde vem o nome pataxós.

- Sim, vó  , conta .

Amana já  tinha repetido aquela estória várias vezes para Maion , mas sempre repetia porque ela queria que a neta não esquecesse.

- O que eu sei que me contaram do nosso povo é  que quando a lua tava cheia, os mais velhos iam pescar no mar , havia muita cantoria  e muita dança em volta da fogueira que era feita.

O barulho do mar era uma coisa de outro mundo , e era visto com muito respeito.
Apois, quando o mar batia na pedra era como se tivéssemos  ouvido  um som de patá  e quando batia  de volta ouvia um xó ,  por isto é  que eles falavam que virou pataxó.

Amana ria ao terminar  de falar .

Maion retribuia o sorriso esticava- se  na rede buscando uma melhor posição  e logo o sono vinha.

Amana ainda custava para pegar no sono , mas dormia .

A aldeia toda dormia   menos os bichos  da noite , estes não  dormiam , nem cochilavam.
 

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