Amana abriu os olhos quando Maion chegou perto tirando-a de seus tenebrosos pensamentos. Ela andava preocupada com tudo e com todos.
- Toma vó, bebe sua aroba ( bebida indígena). Falou.Amana estendeu a mão para pegar a caneca com o líquido , era o horário em que Amana costumava beber, depois gostava de um fumo , e Maion sabia todos os seus hábitos e vinha lhe entregar tudo com imenso prazer.
Ela deitava na rede a espera das estórias que sua avó sempre lhe contava, sobre os pataxós, as suas lutas e crenças.
Amana tinha orgulho de ensinar a neta tudo o que sabia e que também lhe fora contado ainda menina.
Pigarreou após um gole e outro da bebida solvida com gosto , esta desceu à garganta fazendo a velha estalar os lábios carnudos.
Fitou Maion e disse: - hoje quero conversar sobre a festa das águas que vem vindo . É muito importante saber, porque vem nos trazer a fartura de nossos dias.
Quando chegar peça seus pedidos e observe as respostas que ela lhe trará.
Maion assentia com a cabeça , ela tinha adoração pela avó e tudo que ela representava na Aldeia, tudo que ela dizia era recebido com respeito, afinal ela foi mulher do cacique Iaçanã.
O corpo de Maion era balançado num vai e vem os pés cruzados para fora da rede enquanto Amana prosseguia em sua narrativa :
- a minhaga( água) vem com bons presságios para todos e principalmente para você minha neta , fique atenta aos sinais e só se afaste da patixi ( aldeia), quando ouvir o canto do zabelê ( pássaro de canto forte ).
Maion coçou a cabeça ao perguntar : - Como vou saber Vó?
Amana riu ao dizer : - Você vai saber , está tudo ai dentro de você.
Agora tá na hora de saber de onde vem o nome pataxós.- Sim, vó , conta .
Amana já tinha repetido aquela estória várias vezes para Maion , mas sempre repetia porque ela queria que a neta não esquecesse.
- O que eu sei que me contaram do nosso povo é que quando a lua tava cheia, os mais velhos iam pescar no mar , havia muita cantoria e muita dança em volta da fogueira que era feita.
O barulho do mar era uma coisa de outro mundo , e era visto com muito respeito.
Apois, quando o mar batia na pedra era como se tivéssemos ouvido um som de patá e quando batia de volta ouvia um xó , por isto é que eles falavam que virou pataxó.Amana ria ao terminar de falar .
Maion retribuia o sorriso esticava- se na rede buscando uma melhor posição e logo o sono vinha.
Amana ainda custava para pegar no sono , mas dormia .
A aldeia toda dormia menos os bichos da noite , estes não dormiam , nem cochilavam.
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O SOL É PARA TODOS
RomanceEM 1951, uma tragédia, aterrorizou toda uma geração de índios pataxós, que viviam na Aldeia de Barra velha , no extremo sul da Bahia. Amona, vivenciou todo o massacre de seu povo na época e setenta anos após, ela decide dar a liberdade a sua net...