I. Livros.

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Pela milésima vez no dia, a princesa suspirou de tédio. Durante a maior parte de sua vida, a jovem contentou-se em sentar na biblioteca e ler por horas a fio, tendo apenas as gigantescas estantes da biblioteca real e os milhares de livros que ali eram guardados como companhia. Sua curiosidade lhe dominava de tal forma que não deixava escapar um livro, folheando página por página, um atrás do outro como uma traça.

A jovem princesa até se esquivava de alguns de seus afazeres reais para poder ler um pouco mais, e é conhecida por fugir dos olhos de todos com facilidade, como um gato sorrateiro que aproveita os intermináveis corredores do castelo para se esgueirar-se até um esconderijo inusitado, quase impossível de encontrar. Assim ela desfrutava da calmaria e da paz que só os livros eram capazes de lhe proporcionar. E assim, ela o fez por dias, semanas, meses e anos, vivendo milhares de aventuras através das páginas, conhecendo novas palavras, significados, conceitos e até mundo inteiros, não havia uma única história que ela não conhecesse, no entanto, a garota  agora se encontrava rabugenta. Não existiam mais histórias a serem contadas, havia lido cada livro de cada estante daquele salão, ela até mesmo saiu de seu refúgio para procurar outros livros no castelo, mas sua busca não lhe rendeu muitos achados, visto que qualquer livro fora da biblioteca falava apenas sobre religião, táticas de guerra, ou a história de Gaiermore, está que a princesinha sabia de trás para frente.

A certa altura, a jovem princesa até considerou a ideia de roubar um dos livros de receitas da cozinha enquanto as empregadas estavam distraídas. Pensando que talvez pudesse adquirir algum conhecimento útil dali, mas logo decidiu que, se não havia mais histórias para ler, deveria buscar algo diferente para ocupar sua mente. No entanto, os dias passaram, e ela percorreu todo o castelo, esgotou todos os jogos de tabuleiro e deu voltas incansáveis pelo jardim; não havia uma rosa sequer fora do lugar para capturar a atenção da garota. Ela até mesmo deu uma chance ao bordado, o que resultou em dedos furados e manchas de sangue na tela.

— E se, em vez de açúcar, colocássemos sal na massa de bolo? — ela divagou em voz alta, mais para si mesma. No entanto, a outra jovem que estava presente se aproximou rapidamente.

— Imagino que o sabor ficaria estranho, majestade. — respondeu a jovem loira. No entanto, a princesa encarou-a com um olhar aborrecido.

— Por quê? — A pergunta da princesa confundiu a dama de companhia. — A massa de Ramen não é tão diferente da massa de bolo — continuou a princesa, pensativa. — Só precisaríamos remover o leite e talvez substituir os ingredientes doces por coisas salgadas.

A dama de companhia concordou, parecendo processar a nova informação enquanto franzia os olhos. — A princesa aprendeu isso com esse livro? Acredito que possamos pedir para as empregadas tentarem essa receita.

— Humm — a princesa resmungou, deixando a conversa se desvanecer. Ela continuou a folhear as páginas das receitas; bolos, massas e sopas, mais bolos e massas, carnes e sopas, doces e bolos, sopas e massas, carnes e aves, sopas, sopas, sopas e mais sopas. Até que enfim perdeu a paciência, fechando o livro com um gesto brusco.

A Ninfa: O Conto de GaiermoreOnde histórias criam vida. Descubra agora