Eu sei lidar com deficientes

122 10 0
                                    

Ps: Essa é a dança do fim do capítulo.

...


Nathan riu e Fábio virou o rosto envergonhado, lembrei que estava sem blusa, mas me recusei a ficar envergonhada na frente deles, então só caminhei até perto da minha mãe. Eu não lembrava a última vez que tinha olhado de verdade para Fábio, mas agora ele tinha o cabelo raspado. Pelo pouco que eu sabia ele tinha se separado da esposa, a loira, fazia uns dois anos.

E Nathan, bom... Dá ultima vez que me lembro de ter visto ele foi quando eu e os meninos estávamos voltando de uma sorveteria, então Nathan estava abraçando minha mãe, que tinha uma cara triste. Logo me animei, achei que a loira tinha morrido, mas era algo quase tão bom quanto: Nathan estava se mudando com ela para a Austrália. Ele, na época, era um garoto magrela, pouco maior que eu e esquisito, sabe? Daquele tipo educado, "bom dia", "deixa que eu abro a porta pra você", isso não existe mais. Ele sempre foi estranho.

— Filha, até que enfim chegou, Nathan estava contando pra gente que vocês se falaram na escola hoje, ele não está lindo? — Às vezes eu acho que o cérebro da minha mãe pifou em algum momento dos dramas que ela sofreu, é claro que não é pra menos.

— Para de usar drogas, mãe. — Todos riram e eu fiquei sem entender, não era uma piada. — Pois é, eu vi ele. — Mamãe sorriu.

— Me respeita, menina. — Mas ela sorriu. — Acho melhor você colocar uma blusa por que a gente vai sair pra almoçar. — Maya falou calmamente, naquele tom de voz que dizia "se você discutir comigo, nada de dança hoje", enfim, tive de ir, subi as escadas batendo o pé e escutei a risada de Nathan. Ah, eu ainda esmurro esse garoto.

Sorri ao chegar no meu quarto, tirei a roupa, peguei uma toalha e fui tomar banho, o banheiro ficava do lado do meu quarto. Tentei ser rápida, o que não surtiu muitos efeitos, já que ficar embaixo da água ia me drogando devagar, não me pergunte por que. Saí e vesti uma regata verde e uma saia longa indiana. Desci as escadas fazendo uma trança no cabelo, com a minha mais agradável cara de quem queria morrer.

Nathan ficou me encarando um tempo, enquanto eu fazia minha trança – cabelo longo demais é ruim por isso, demora muito tempo pra fazer qualquer coisa com ele – e nossos respectivos pais se preparavam para sair, eu virei o rosto e fiquei encarando meus dedos trançando meu cabelo.

— Vamos crianças, acho que todo mundo está com fome aqui. — Fábio falou e eu revirei os olhos. — Estou com tanta fome que minha barriga nem está mais fazendo barulho.

— Como assim não está fazendo barulho? — Falei confusa e franzi o cenho.

— É que som não se propaga no vácuo. — Nathan e minha mãe começaram a rir, eu dei uma risadinha, mas consegui me controlar, não podia rir assim pro inimigo. Fábio era professor de física. — Vamos, vamos, vamos logo. — Ele falou, empurrando nós três porta afora.

Fui correndo e entrei primeiro no carro – dele, é claro, eu e minha mãe não tínhamos nem condições e nem habilidades para ter um carro. Minha mãe foi no banco do passageiro e Nathan se sentou do meu lado. Minha mãe e Fábio iam conversando na frente e eu olhava o infinito... Ou o caminho até o restaurante se você preferir.

— Então você decidiu estudar na mesma escola que eu? — Nathan perguntou e eu me virei para encara-lo, com uma sobrancelha erguida.

— Primeiramente, "eu decidi" não é a forma exata de colocar isso, "fui coagida" está mais de acordo com a realidade. Segundo, você é o novato na escola, eu não. — Ergui o segundo dedo e deu um sorrisinho mal-humorado.

— Eu sou como o filho pródigo, sabe... O bom filho a casa torna e tal. Estou apenas voltando. — Nathan riu, mas pelo menos se calou até chegarmos ao restaurante.

Garota DesastreOnde histórias criam vida. Descubra agora