Capitulo 42

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Mive

Estava escuro e frio, o chão continha uma poça de água na qual era onde meu até então quarto luxuoso como Russo gostava de intitular, minha cabeça estava encostada na parede e eu refazia um resumo mental na minha cabeça de tudo o que havia acontecido até então.

Eu havia sido sequestrada, um bando de homens que eu não fazia ideia de quem eram haviam entrado na minha casa, eu tentei lutar porém foi em vão, após inalar um produto eu sei que apaguei e acordei em um pequeno galpão onde fui apresentada a uma equipe que de acordo com Russo iriam cuidar de mim dali pra frente, eu só não fazia ideia que o cuidar deles seriam de uma maneira da qual iria querer morrer dia após dia.

Lembro de fazermos uma viagem e em seguida pousarmos não Rússia, depois disso tudo desandou, as agressões, a fome, frio, faziam tudo piorar, eu tentava entender o que vinha acontecendo mais sempre que eu tentava era em vão.
Me lembro do medo de dormir que eu tinha já que sempre que acordava pegava russo perto da minha cama se masturbando, isso quando eu não acordava com os jatos do seu esperma em meu rosto onde me fazia sentir repulsa de mim mesma, me lembro que nas primeiras vezes eu vomitava tanto que achava que ficaria desnutrida porém aquilo foi se tornando rotineiro e não era normal porém eu fui criando uma espécie de escudo onde eu fingia ser normal, embora uma noite eu tenha acordado com russo se debruçando em cima de mim, ele literalmente estava por um fio de me estuprar porém fui salva pelo doutor que ali ficava, seu aviso havia sido claro onde isso não havia voltado acontecer, embora russo continuasse a visitar meu quarto, ele beijava meu pescoço, meus ombros como se tivéssemos intimidade pra aquilo e foi a partir daí que eu entreguei minha vida ao caos.

Haviam se passado sete meses, sete meses que eu desejava estar morta, porém em um dia tudo isso mudou, me lembro que era raro as vezes em que eles me levavam ao jardim já que todas as vezes eu tentava de alguma maneira fugir, estava sentada no banquinho que ali tinha pegando um sol, meus olhos estavam fixos no céu já que fazia um bom tempo que não o via, até um carro preto entrar na propriedade chamando minha atenção, porém assustei ao ver uma mulher descer totalmente elegante, mais o que chamou minha atenção mesmo foi ver que ela era uma cópia minha, era como se eu me visse no espelho e aquilo era assustador, a vi conversar algo com Russo e se aproximar de mim e se sentar ao meu lado

Mive: Oi !

Fiquei a olhando surpresa com a semelhança e ela parecia ter notado já que havia sorrido

Mive: Me chamo Mive

Madá: Porque somos parecidas ?

Ela colocou sua bolsa em um canto e cruzou as pernas e acendeu um cigarro

Mive: Por que somos irmãs !

A encarei surpresa, eu tinha uma irmã ? É claro que eu tinha, deveríamos ser gêmeas já que a semelhança era assustadora, embora eu não soubesse se deveria agradecer por isso ou ter medo, eu tinha uma irmã e ela estava aqui, ela me ajudaria a fugir ou estaria por trás de tudo isso ?

Madá: Me ajude a sair daqui, eu prometo que não vou falar pra ninguém o que aconteceu

Ela sorriu e negou com a cabeça

Mive: Desculpa, eu não posso ! Eu preciso de você

Madá: Precisa de mim ?

Ela acenou concordando e descruzou as pernas jogando o cigarro longe

Mive: Você será eu !

A encarei sem entender e na mesma intensidade como se ela fosse louca embora olhando bem ela realmente tinha olhos de uma pessoa maluca

Mive: Eu irei te treinar ! Irei te ensinar modos, te ensinarei a raciocinar como eu, a vestir como eu, e ter algumas lembranças minhas ... Você se tornará eu

Mada: Porque ?

Mive: Porque eu sou incapaz de me prender a alguém e a ficar muito tempo em um lugar, sou um espírito aventureiro, embora ...

Madá: Embora ?

Mive: Existe um homem ! Meu marido ! Ele é herdeiro de uma empresa na qual o lucro é sem pretendentes, a empresa mais rica do continente e eu quero a empresa e o dinheiro dele

Mada: Porque ?

Mive: Precisa de um motivo pra alguém querer e gostar de dinheiro ? Enfim, a empresa do meu pai está falindo ! Nos próximos anos o lugar sequer terá capital pra se manter abertos, e eu não nasci pra ser pobre muito menos dividir dinheiro com alguém

Madá: Está fazendo tudo isso por dinheiro?

Mive: Você não entenderia, mesmo que eu te explicasse ! Mais você será a Mive

Madá: Não vou !

Mive: Lamento, mais você não tem opção

Depois disso começaram as torturas, eram cada vez pior, vinham as ondas de eletrochoque na cabeça, as punições por tentativa de fuga e até mesmo por me portar de um jeito que não era aceitável, minha pele foi queimada, perdi a noção de quantas vezes havia tido os dedos quebrados e o nariz também, fraturei a costela duas vezes, quebrei o braço esquerdo uma vez, Russo tentou me enforcar quatro vezes e era daí pra pior.

Levei um tempo pra assimilar as coisas que estava acontecendo, a cada sessão de choque eu perdia um pouco de quem eu era, ia perdendo minhas memórias até assimilar que era isso que Mive queria, era isso que ela estava falando quando disse que eu ocuparia seu lugar, quando finalmente haviam se passado um ano e oito meses eu já não me lembrava mais de quem eu era, embora raramente eu tivesse uns flashs assustadores eu tentava me manter a aparência.

Em um dia estava andando pelo jardim, custava a me lembrar do nome das pessoas até ver uma árvore que continha flores amarelas, era afastada da casa porém ainda dentro de propriedade, me sentei embaixo dela e ali fiquei até ver que perto das raizes a terra estava remexida comparada aos outros espaços, quando mexi ali achei uma pequena caixinha que quando abri havia duas folhas, uma era um desenho no qual no canto havia o nome "Madalena" e atrás havia uma carta.
A carta basicamente consistia em explicar tudo o que acontecia nesse lugar e o medo da perca de memória da tal Madalena, a carta continha literalmente tudo, quantas pessoas consistiam o grupo, a descrição e o nome de cada um até que eu entendi que Madalena era eu ! O pedido de sempre fingir que não se lembrava de quem era e de nenhuma memória eram ressaltadas inúmeras vezes, eu havia sido esperta porém também estava confusa do que vinha acontecendo..

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Estava atravessando um corredor quando ouvi o médico conversar com Mive, a conversa consistia em ressaltar que eu realmente não lembrava mais de quem eu era e de fato eu não me lembrava, mais ele disse que eu precisaria de mais tres sessões de Eletrochoque pra esquecer literalmente de tudo, Mive disse que precisaríamos dar continuidade, que eu tinha seu jeito de agir e que havia estudados algumas de suas memórias pra se caso eu me lembrasse de algo eu viesse a lembrar de uma memória dela e não minha, o médico a garantiu que eu não me lembraria que era Madalena, que as chances de todo procedimento dar errado eram mínimas o que a deixou animada e eufórica.

Então era isso, eu me passaria por ela, enganaria um homem inocente, já que seu plano era que ele achasse que eu era ela, ela estava confiante de que ele cuidaria de mim, se aproximaria de mim e que quando fosse o momento certo ela iria dar um jeito pra que eu me lembrasse que era "ela", e que aí seria a brecha pra conseguir todo o dinheiro do cara, era um plano de merda e arriscado, mais ela havia investido muito nisso e estava confiando que esse método cruzado daria certo e eu apenas torcia pra que não desse e que eu pudesse lembrar de tudo pra ter minha vida de volta e não fazer um homem inocente perder tudo.

RYDER DEBORTOLLIOnde histórias criam vida. Descubra agora