Capítulo I

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    Eu me encontro aqui... No terraço de minha mansão, contemplando a bela vista do Horizonte, quase sem fim. Me chamo Lucca. Vivo cercado pelas riquezas que meu pai deixou pra mim antes de morrer. Foi essa herança que ergueu todo esse luxo que vejo ao meu redor. Enquanto sinto aquela brisa suave tocar os pelos do meu rosto, um vazio surge no meu peito, e eu sei o motivo. O motivo é todo esse dinheiro que eu consegui, sem ter que fazer o mínimo esforço. Isso anda me fazendo questionar sobre o sentido da vida que tenho.
    Meu pai sim foi um verdadeiro prodígio. Ele fundou uma empresa que mudou a vida de muitos animais ao redor do mundo. Ele foi tachado como maluco no começo de tudo, mas estava determinado a melhorar a qualidade de vida de todos os, e conseguiu. Ele foi o criador do primeiro alimento rico em nutrientes essências, que podia ser consumido tanto pelos animais carnívoros, quanto pelos animais herbívoros. Na época, aquilo era novo e muito interessante, tanto que logo após, meu pai criou outros alimentos derivados do primeiro.
    Aquela dedicação que ele tinha, sempre me deixou impressionado. Acompanhei os anos de investimento e trabalho árduo para transformar as visões que ele tinha, em realidade.
    Infelizmente, meu pai teve que partir. Ele morreu de câncer no cérebro. Não gostei de ver o estado deplorável em que meu pai se encontrava antes de dar seu último suspiro. A morte dele deixou um vazio doloroso, tanto na empresa que ele construiu, quanto em mim. Como filho único, herdei maior parte de toda sua riqueza, mas a missão de dar continuidade ao legado que ele havia iniciado, ficou em outras mãos. Eu não achei que seria capaz de dar continuidade. Não sei se sou capaz de lidar com toda essa responsabilidade.
    Enquanto olho para os feitos grandiosos do meu pai, posso ver a sombra de minha própria falta de realizações. Enquanto ele criou inovações que mudaram a vida dos outros animais, eu fico aqui, preso em um ciclo de "conforto" e monotonia. A herança que recebi, só pôde me proporcionar uma vida de luxo. Na verdade, ela trouxe també o medo de talvez nunca poder estar a altura do meu pai.
    As vezes, eu fico me comparando demais com ele, e isso faz eu me sintir encolhido.
    Cada objeto brilhante, cada piso de mármore, cada tecido caro que foi bordado, cada aquisição, no geral, fazem parte de toda a minha fortuna sem sentido.
    Onde está a graça na vida, quando praticamente todas as batalhas são vencidas antes mesmo de serem traçadas? O que resta para alguém que não conhece o significado de esforço?... Me diz, cara.
    Talvez já tenha passado da hora de buscar um novo caminho... De procurar aquela tal alegria que não somos capazes de comprar.

    O cotidiano que se passa ao meu redor, é um "espetáculo" de riqueza e glamour. Essa estilo de vida tem se tornado um verdadeiro fardo nos meus ombros. Meus amigos ricos e orgulhosos, estão tão obcecados com suas próprias fortunas e status, que perderam totalmente seus brilhos.
    Cada encontro social, parecem até uma exibição de roupas caras, joias brilhantes e sorrisos falsos e forçados. As grandes festas que antes costumavam me atrair, agora me afastam. Os risos vazios e conversas superficiais só me fazem questionar o sentido dessa vida para a qual fui destinado. Por trás de cada brinde, cada saudação educada, eu anseio por algo simples e verdadeiro, apenas.
    Esses rostos que sorriem para mim nessas festas, com certeza não se importar com quem eu sou de verdade. Eles só veem toda essa riqueza que me cerca, junto com essa tal posição social.
    Será que eles não percebem como é cansativo ser lembrado somente pela fortuna que cada um possuí? como se isso fosse o único traço relevante na identidade de um ser? Cara, é complicado...

    Enquanto eu tava lá, mergulhado em pensamentos, o som do meu telefone começou a tocar. Era minha mãe, faziam dias que eu não escutava a voz suave dela. Ela parecia preocupada e queria saber como eu estava.
— Eu to me sentindo espetacular.— Respondi em tom de ironia. — Continuo vivendo minha vida incrível e cheia de aventuras.
    Ela suspirou, como se soubesse exatamente o que eu estava passando.
— Lucca, meu querido. Você parece cansado. Essa vida de ostentação não é tudo.
    Eu imaginei o olhar gentil que devia estar em seu rosto.
— Eu sei mãe. É difícil encontrar algo verdadeiro em tudo isso.
    Teve uma pausa antes de ela falar novamente.
— Talvez você precise de alguém. Alguém que compreenda os seu desejos, meu filho.
—Uma garota, mãe? — Questionei, já prevendo a direção que a conversa estava tomando.
— Sim, Lucca. Uma companheira. Você já tem 25 anos. Ta passando da hora de buscar alguém pra compartilhar sua vida.
    Suspirei, passando a pata pelo pelo em minha testa.
— Mãe, todas as garotas que conheço parecem estar obcecadas pelas mesmas coisas que me cansam. O glamour, o status, a aparência. Eu não consigo me sentir atraído por elas. Pra mim, elas servem apenas para sexo e diversão, com todo respeito.
    A voz dela ficou mais suave, compreensiva.
— Entendo, meu querido. Mas nem todas são iguais. Às vezes, precisamos olhar além de tudo isso, para encontrar alguém que nos complete de verdade.
    Suas palavras não faziam muito sentido pra mim.
— Eu sei, mãe. Eu só... sinto que esse não é um bom momento pra pensar em relacionamentos amorosos. Eu já não me dou bem comigo mesmo. Como vou ser capaz de gerênciar um relacionamento sério?
— Eu entendo, Lucca. Não quero que você se apresse em um relacionamento também. Mas lembre-se de que o amor verdadeiro pode ser encontrado nos lugares mais inesperados.
    Nós conversamos um pouco mais. Quando finalmente desligamos, fiquei com uma a sensação boa e reconfortante dentro de mim. Tipo, a minha mãe me entendia. Mesmo que o mundo ao meu redor estivesse cheio de egoístas e superficialidades, o amor e a compreensão dela eram verdadeiros. E talvez.... Só talvez.... Isso fosse um sinal de que um dia eu encontraria alguém que me compreendesse da mesma maneira.

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