⭑ Capítulo 01

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Durante o caminho até sua residência, Abner pensava em respostas que poderia dar a sua mãe, por demorar a retornar. Sabia exatamente o jeito que ela estaria o esperando, a famosa pose de xícara, como costumava apelidar pessoas que ficavam em pé com um dos braços apoiados na cintura.

Sorriu com a cena formada em sua mente.

O rapaz sentiu sua barriga roncar novamente, levando uma das mãos imediatamente ao lugar, pensando o quanto ele adoraria uma refeição bem cheia para saciar sua fome. Com sua mão livre, tateou os bolsos em busca de sua carteira, rezando para que não tenha gastado todo seu dinheiro com bebida. Se sentindo aliviado ao abrir e ainda ver algumas notas junto com seu cartão.

Abner olhou para os lados em busca de alguma loja de conveniência ou lanchonete, para pelo menos beliscar algo durante sua jornada para casa. Localizou um pequeno mercado do outro lado da rua, se apressando para ir até lá.

Entrou no ambiente sentindo sua boca salivar ao ver os salgadinhos e refrigerantes, seria algo para realmente enganar o estômago.

Pegou três pacotes e uma garrafa média de suco de laranja, correndo ao caixa, mas parando logo em seguida ao ver um casaco cansado familiar parado em frente ao balcão. Abner piscou algumas vezes um tanto incrédulo, ele então percebeu que a mulher conversava com outra do outro lado do balcão, e, ao notarem sua presença, o casaco cansado se despediu da mulher e foi embora.

Abner pode ter certeza que ouviu um "tchau mãe".

— Olá, bom dia! Seja bem-vindo! — sauda a mulher, aparentando ter um pouco mais que trinta anos de idade.

O rapaz coloca seu "café da manhã" no balcão com os olhos fixos no casaco cansado que acabara de sair e, que agora, caminhava do outro lado da rua.

Pagou sua compra e saiu, agradecendo a senhora com um sorriso ameno.

Assim que voltou a traçar sua rota para casa, Abner apanhou um dos salgadinhos abrindo o pacote rapidamente, o tombando sobre os lábios pelo canto inferior, deixando que bastante batatatinhas caiam dentro de sua boca.

Realmente, não era uma refeição, e planejava com certeza fazê-la quando chegasse, mas já era uma ajuda.

O homem conseguiu acabar com seu "café da manhã" poucos minutos depois, já não estando tão longe de casa. Despejou as embalagens vazias no lixo e limpou às mãos as batendo umas nas outras.

Seus olhos percorreram a pequena praça que continha ali no bairro, composta por alguns bancos de madeira recém reformados e muitas árvores, também com alguns brinquedos públicos para crianças, mas, seus mirantes focaram em uma única coisa em meio aquela "paisagem".

Casaco cansado.

Abner pensava que o destino queria lhe dizer alguma coisa já que é a terceira vez que a ve somente em algumas horas, mas ele não seria tão... precoce?! Assim. Ou seria?!

A moça estava sentada sobre um banco com a cabeça tombada para trás com os olhos fechados, recebendo um pouco da luz do sol que escapava entre as folhas das árvores. Seus braços estavam jogados cada um de um lado do corpo e suas pernas estiradas no chão.

Estava esparramada, como Abner gostaria de estar em sua cama.

O rapaz realmente pensou na possibilidade de ir até lá e tentar puxar algum assunto, mas não queria se sentir um tolo ao fazê-lo. Talvez estivesse cedo demais e seu pensamento sobre o destino possa estar errado.

Mas e se não estivesse?

Ainda parado ali observando o corpo esparramado da mulher, se deu por vencido e resolveu se aproximar.

Mas ela está de olhos fechados, e se ela pensar que vou assalta-la? Ou sequestra-la? Ou rouba-la?

Desistiu.

E voltou para casa.

Assim que Abner abriu a porta, ouviu a voz estridente de sua mãe.

— Posso saber onde estava até agora, mocinho? — questiona a mulher, em sua pose de xícara.

— Me levaram ao hospital, fiquei lá tomando soro. — responde, retirando seu casaco e o pendurando no cabideiro.

— Porque você é um irresponsável! Pensou você tem um coma alcoólico? Ou pior! E se você perdesse a consciência e morresse? — Dona Eva sempre sendo exagerada, pensa o rapaz.

— Eu estou bem, mãe! — afirma, indo em direção a cozinha.

— Que isso não se repita, ouviu bem?! — ameaçou, balançando o chinelo rosa em direção ao filho.

Abner apenas riu e foi até a geladeira, procurar algo rápido para fazer e terminar de tapar o buraco em seu estômago.

. . .

Seus dedos corriam no mouse pad de seu notebook, observando as fotos de pessoas aleatórias de sua rede social.

Abner estava esparramado em sua cama com o notebook em seu colo, já muito bem alimentado e com um banho bem tomado. Ouviu mais alguns sermões de sua mãe mas nada que um agradinho não tenha resolvido, Dona Eva adora quando seu filho arruma a casa para si enquando assiste seus programas de televisão.

O rapaz, rolando sua timeline, avistou algumas fotos de uma das festas que fora, onde estava ele e mais quatro garotos, todos com sorrisos em seus rostos e um copo de bebida na mão.

— Meu Deus, Sean, você me paga. — diz, ao rolar para baixo e ver que o mencionado postou uma foto sua — Que desgraçado. — riu.

Nesta fotografia, Abner estava apenas com sua roupa íntima, com uma careta no rosto e um cone de trânsito em sua cabeça. Esta foto foi tirada em uma ponte, em uma parte que estava enterditada por conta de uma reforma.

Ainda incrédulo que seu amigo teve tal audácia para postar uma vergonha como essa, resolveu ampliar para analisar mais aquela fotografia, ficando mais espantado ainda.

Um tanto distante, uma garota estava sentada na beirada da ponte, com sua cabeça baixa. Infelizmente, com a pouca luz e a baixa qualidade por conta da ampliação, não deu para ver muitos detalhes daquela moça.

Por alguns minutos se pegou preocupado.

E se ela se jogou? Estávamos ali, poderíamos ter ajudado ela! E como não a vimos antes?

Se sentiu culpado. Suspirou com pesar.

Fechou seu notebook e o colocou em sua mesa de cabeceira. Se ajeitou em sua cama, pensando no que poderia ter feito para aiudar a garota na ponte.

Mesmo que estivesse sob o efeito de álcool, faria algo para impedi-la de, quem sabe, se jogar. Já que seu paradeiro agora é desconhecido.

Abner nunca presenciou a perda de alguém por conta de suicídio, e tem certeza que não saberia o que fazer se isso acontecesse. Claro, ele tem a plena consciência de que isso, infelizmente, acontece diariamente, mas nem ao menos conhece pessoas que passaram pelo luto de alguém que tirou a própria vida.

Em sua cabeça passou possibilidades de ajudar alguém nessas situações, ficando frustrado por não encontrar nada em sua cabeça de vento.

Se ajeitou em sua cama para ficar sentado e confortável, pegou seu notebook novamente e abriu no site de pesquisa. Sim, seria... Inútil?! Talvez, mas gostaria de estar preparado.

 Inútil?! Talvez, mas gostaria de estar preparado

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