🩺TRÊS🩺

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LIAM

— Quando eu vou poder ir embora, doutor?

Crianças de fato eram anjos vindos do céu. A cada vez que eu encontrava com Miguel, isso se confirmava. Havia algo melhor do que salvar uma vida, e essa era a parte em que eu podia olhar para o meu paciente e dizer que ele não precisava mais esperar pela morte na cama de um hospital, que estava livre.

E para viver bem.

— Vamos manter você em observação por essa semana por precaução, depois vai estar livre para ir para casa, Miguel.

— Você ouviu, filho? Nós vamos para casa.

Cecília tinha lágrimas nos olhos ao olhar para o filho de 8 anos. Seus braços estavam ao redor de Miguel, abraçando aquele ser indefeso e tão amoroso que sorria exibindo as covinhas naquelas bochechas magras e pálidas.

Os olhos da mãe amorosa pousaram sobre mim, enchendo-me de uma emoção já conhecida. Eu estava feliz por ter conseguido fazer o melhor para o seu filho, ter dado a oportunidade de ficarem juntos por mais tempo.

— Obrigada, doutor!

Acenei com a cabeça, a única forma que eu conseguia me expressar sem me sentir envergonhado. Sorri para Miguel e simplesmente deixei que mãe e filho pudessem ter um momento adequado e feliz.

Caminhei pelos corredores, a voz alta da equipe de emergência me fez enrugar a testa por odiar o barulho repentino. Prossegui com o meu caminho até a minha sala para fazer minha pausa. Eu teria uma cirurgia em poucas horas, precisava ter um momento de relaxamento antes de entrar naquela sala pálida e triste. Eu odeio sala de cirurgia apesar dela fazer parte do meu trabalho. Não se pode ter a parte bonita sem ter a parte feia antes.

Empurrei a porta da minha sala, encontrando Bernardo sentado no meu sofá com a expressão tensa.

— Que cara é essa?

Bernardo subiu os olhos na minha direção, aparentando estar um pouco aliviado por finalmente me ver.

— Desculpe aparecer assim, eu juro que tentei todos os meios possíveis de evitar, mas preciso mesmo comentar isso com você — disse Bernardo, beirando ao desespero.

— O que você quer dizer? — franzi a testa. — Aconteceu alguma coisa com a minha filha?

— Lorie está bem — disse, procurando me acalmar.

— Se nada aconteceu com ela, então o que houve? — Os lábios de Bernardo se apertaram. Eu sabia que aquilo não poderia ser nada bom. — Bernardo, pelo amor de...

— Ela me convidou pra almoçar!

Gritou.

Simples assim.

— O que você disse?

Mordendo a ponta dos dedos, Bernardo se levantou do sofá pequeno e confortável. O cara estava em pilha de nervos porque alguém o chamou para almoçar.

— Por que está surtando? Normalmente você recebe convites para almoçar, qual é o problema dessa vez?

— Ela... ela...— puxou o ar como um louco. — É a Kim. Kim Harper me mandou mensagem me convidando para almoçar!

— A Kim? — arregalei os olhos. — E como diabos ela conseguiu seu número?

— Não é? — soltou um riso nervoso. — Caramba, ela realmente me convidou. Tipo, nós nunca nem dividimos uma mesa antes...

— Be...

— Será que eu visto um terno ou posso ir com a minha roupa de hospital? Não, acabaria contaminando o uniforme...

Ainda Amo Você (EM ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora