𝗢𝗖𝗘𝗔𝗡𝗜𝗖 𝗦𝗢𝗨𝗟, conrad fisher

002 | the rain

MAEVE SCOTT, cousins beach

Nunca chove em Cousins Beach. Especialmente na temporada de Verão.

Ao abrir os olhos e ouvir os pingos grossos de chuva baterem na janela ━ que irradia a luz do sol porque eu esqueci de fechar as cortinas ao voltar exausta do mergulho noturno com Belly ━, fico surpresa. Está chovendo. Forte. 

Em todas as vezes que estive em Cousins, nunca vi uma chuva tão forte. 

Saio do quarto, sonolenta, e encontro Jere no corredor. 

━ Bom dia! ━ ele disse primeiro, com entusiasmo. Dou um meio sorriso.

━ Bom dia, Jere. Está chovendo.

━ É. Eu tinha combinado de sair com alguns amigos, agora não sei se vou. Chuva desanima, não é?

━ Concordo. Acho que vou ficar lá embaixo, tomando meu café da manhã no sofá ou na janela com um cobertor nos ombros e um chocolate quente nas mãos. 

Não existe sensação melhor do que essa.

Jere assente com a cabeça, e eu desço as escadas, dando de cara com Belly.

━ Bom dia, Mae! ━ ela me puxa para um abraço. Ainda está vestindo seu pijama, assim como eu, com o cabelo um pouco desgrenhado. 

━ Bom dia, Bells. O que vai fazer hoje?

━ Acho que vai chover o dia todo, então... sessão de filmes? ━ ela me encara, como uma proposta. 

 ━ Não perderia por nada ━ sorrio, maliciosa. 

Belly e eu decidimos assistir "The Notebook", nossa comédia romântica favorita. Era uma tradição ver este filme todas as vezes que estivéssemos em Cousins, mas quebramos a tradição assim que nos afastamos. Agora, estamos de volta. 

Pegamos vários cobertores para cobrir o sofá, já que estava consideravelmente frio, e fizemos um balde de pipoca caramelizada para entrar no clima de chuva. Deixamos as cortinas abertas para observar a chuva e os trovões e começamos a assistir.

Na metade do filme, sentimos uma presença atrás de nós. Quando me viro, vejo Conrad. 

━ O que vocês estão assistindo?

━ The Notebook ━ eu respondo, e Belly se vira. 

━ A Rachel McAdams é uma gata ━ ele diz, sorrindo fraco. 

━ Não poderia concordar mais ━ solto uma risada. 

Ele se vira para ir embora, mas para no meio do caminho e diz:

━ Posso assistir com vocês? Sei que é a tradição de vocês duas, mas... estou meio entediado.

Lanço um olhar para Belly, que dá de ombros. Então me viro de volta para Conrad e digo:

━ Claro. Venha, se enrole no caminho sem volta dos cobertores.

Ele se senta na outra extremidade do sofá, um pouco mais distante de nós duas, e se acomoda nos cobertores. Aproveitamos o resto do filme com comentários breves e nos divertimos bastantes.

Ao anoitecer, quando a chuva forte já havia parado e apenas alguns pingos grossos de água caíam no chão, eu saí e fui para o píer. Senti falta de encarar o mar desse ângulo. Nunca havia parado para pensar na saudade que sentia de Cousins até chegar aqui. Senti falta do cheiro da praia, do meu quarto, dos cômodos com o cheiro único que Susannah consegue deixar, o píer... sinto falta de tudo.

Agora que estou aqui, tudo parece mais especial do que antes. 

Estou perdida em meus pensamentos quando a madeira ranger e alguém se aproximar. Me viro para trás apenas para ver Conrad atrás de mim. Levo a mão ao coração, assustada.

━ Não queria te assustar ━ ele diz, sorrindo levemente. 

━ Não, está tudo bem... Veio observar a vista do mar?

Conrad dá de ombros.

━ Acho que sim. 

Ele chega mais perto, se encostando no parapeito de madeira do píer, assim como eu. Ficamos em silêncio por vários minutos, apenas sentindo a presença um do outro aquecendo o local frio. Até que Conrad decide quebrar o nosso silêncio:

━ Posso te perguntar uma coisa um pouco mais... pessoal?

Dou de ombros, assentindo.

━ Por que você e sua mãe vivem mudando de país? 

Congelo. Eu esperava tudo menos essa pergunta.

━ Ah... ela trabalha com moda, então são muitas agências querendo ela. Nos mudarmos era a única opção. Ela fala em se mudar e viajar toda hora. Ela ama viajar e eu também, mas eu acho que sinto falta de... ━ me interrompo. ━ Eu estou falando demais?

━ Não.

━ Às vezes eu falo muito e...

━ Não, é que às vezes eu fico quieto, mas estou te escutando e pensando. 

━ No que você está pensando? 

━ Que gosto de falar com você.

Deixo escapar um sorriso amigável.

━ Também gosto de falar com você.

Há uma pausa, e ficamos em silêncio por alguns minutos.

━ Não costumo ser bom... nisso ━ ele dá de ombros, inclinando levemente a cabeça. Sinto cada movimentação dele fazer todas as fibras do meu corpo vibrarem.

━ Grite, Conrad ━ disparo.

━ Por quê? ━ perguntou o moreno. 

━ Por que não? 

━ Porque eu não sou louco.

━ Não quer que o universo te ouça? 

━ Não tenho nada a dizer.

Então eu comecei a gritar para o nada. O mesmo olhou para mim, surpreso, sem saber o que fazer.

━ Acho que não sou capaz...

━ Tire os sapatos.

━ O quê? ━ pergunta.

━ Feche os olhos... Você já fez nada, Conrad? 

━ Minha mãe acha que faço isso o tempo todo. Tipo, nada mesmo.

━ Tem um truque para isso? 

━ Não, você descobrirá sozinho.

━ Qual é o seu? ━ o moreno pergunta de olhos fechados. 

━ Às vezes, eu imagino uma borracha rosa gigante... Começo pelos meus pés, até apagar tudo abaixo do meu pescoço. Aí vem a parte difícil, meus sentidos... meu nariz, minhas orelhas, meus olhos e minha boca. Se eu fizer um bom trabalho, não sobra nada. E então vejo e escuto, mas não com meus olhos e orelhas, que eu apaguei, claro. Agora sou nada. Não tem diferença entre mim e todo o resto, sou uma pedra, sou um copo de papel, sou a chuva.

Sinto gotas de água caírem em meu rosto... Conrad abriu seus olhos e olhou para o céu, estava chovendo novamente.

━ Você... ━ Conrad exclama, surpreso, e começa a gargalhar.

 ━ Eu não sei, não sou nada!

Nós começamos a rir e observar as gotas caindo sobre nós. Dançamos e conversamos bobagens a noite toda, pois estava um clima bom demais para guardar tristeza e mágoas um do outro.

Mesmo chovendo, a casa de verão consegue ser aconchegante e divertida. Consegue ser o melhor lugar do mundo para curtir a noite com amigos... e, bom, com Conrad. 

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esses dois roubaram todo o capítulo 🥹