Noite ingrata

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Eleonor havia cavalgado por todo o entardecer e quando chegou nas terras de Bereal já era noite. Havia um grande marco de pedra desgastado pelo tempo disposto ao lado da estrada indicando que ela havia entrado em terras hostis.

É verdade que Bereal não mais reivindicava independência ou mesmo que o rei abdicasse ao trono, mas isso não significava que fosse tolerante com os representantes da capital. Apesar de derrotado em campo de batalha, o feudo manteve o seu suserano que para alguns foi hábil em admitir a derrota antes que tivesse o castelo principal invadido e para outros foi um completo covarde ao temer pela consequência final de seus atos.

Agora o feudo trabalhava sorrateiramente para se reerguer, uma vez que no último ano a capital havia voltado sua atenção aos feudos rebeldes do norte e agora parecia mais interessada em conter aos feudos do rebeldes do leste. Seja como for, oportunamente o para o seu senhor, Bereal seguia desprezada como um pária pelos olhos da Cidade Primordial.

Tudo que a jovem investigadora observava era um longo e silencioso descampado que parecia não haver fim. Ela persistiu por horas até que deparou com um pequeno agrupamento de casas no entorno da estrada. Não era mais do que barracos de madeira e palha feitos da forma mais precária possível.

"Será esta a tal vila hospitaleira? — perguntou a si mesma em tom de deboche — Impossível!" — pensava Eleonor enquanto buscava o menor sinal de presença humana. "Não vejo ninguém, mas sinto que me observam de dentro de seus abrigos."

E tudo que se ouvia ali era o som monótono dos cascos do cavalo, um silencio estranhamente mórbido. Eram barracos com portas fechadas e sem janelas, mas a investigadora imaginava pares de olhos espiando das várias frestas daquelas paredes mal improvisadas.

"É melhor acelerar o passo!"

Mas antes que pudesse avançar ela sentiu um forte solavanco, algo agarrando a sua perna e em seguida viu-se sendo arremessada diretamente ao solo de terra. Primeiro veio uma dor forte na testa, depois sentiu sua face arranhar em meio aos pedregulhos, além do gosto da terra tomar conta da sua boca.

Ainda desorientada ela tentou se arrastar enquanto uma figura masculina a dominou pelos braços. Sua reação instintiva foi se debater, mas o homem irritado imediatamente lhe acertou um soco no nariz que começou a sangrar.

Era possível ouvir o som de outras pessoas no entorno tentando conter o cavalo que reagia igualmente agitado àquela investida. No entanto a única preocupação de Eleonor era se desvencilhar daquele sujeito, mas nada que fizesse parecia surtir efeito. Ela rangia os dentes e com todas as suas forças tentava empurrá-lo para longe. De volta ela recebia um olhar frio e obcecado. Finalmente montado em cima dela, parecia não haver muito que ela poderia fazer. Ela até conseguiu livrar um dos braços enquanto ele apertava o seu pescoço com força.

O homem aproximou o seu rosto do dela, primeiro deu um sorriso, abriu a boca e então um fio de sangue começou pingar na face da moça. O olhar dele tomou contornos de surpresa enquanto a vida dele esvaía pela barriga. Ela o havia perfurado com um punhal e quando removeu a arma, o sangue passou a escapar em abundância.

Com dificuldade ela finalmente o empurrou para o lado e já calculava como recuperaria o cavalo no meio daquela confusão. Entretanto, para a sua surpresa o ambiente novamente se aquietou, os demais haviam corrido em debandada. Ela recuperou os óculos que havia voado para longe e foi quando alguém finalmente lhe dirigiu a palavra.

— Fique onde está! Ainda não decidi se está salva ou não.

E então o homem desceu do seu cavalo e apontou a espada em direção ao pescoço da moça.

— Então você estava me seguindo? Sir Isaac!

— Afinal de contas, quem é você? — disse ele jogando um pano para Eleonor.

Espadas InconstantesOnde histórias criam vida. Descubra agora