Conexões Inesperadas

Cap 4 - Esqueça o otimismo

~ Lucia ~

  Uma senhora chamada Marlene levou Lucia até seu armário, ela parecia gentil, mas ao mesmo tempo conversava como se estivesse dando uma bronca em alguém.
" Está me ajudando ou me repreendendo? " Lucia pensou.
  O armário não era muito grande, e pelo o que entendeu poderia decora-lo como bem quisesse, " desde que não usasse fotos obscenas ou coisas do tipo " Marlene alertou.
" Que tipo de coisas os alunos andaram colocando em seus armários para que ela precisasse me alertar disso? " Pensou.

  Marlene não levou Lucia até sua sala como o prometido, em vez disso deu um pequeno papel com o número da sala, mostrou o corredor que deveria seguir e disse.
M - Entregue isso para a professora!
" Melhor que nada né " pensou.
  Conforme se aproxima, sentia o estômago embrulhar, e teve que fazer um esforço muito, muito grande para não simplesmente dar meia volta e mandar a escola para a casa do caralho.

  A porta estava fechada, ela conseguia ouvir muitas conversas vindas do outro lado, respirou por um segundo e deu três toques na porta, não demorou até uma voz feminina meio rouca gritar.
- ENTRE!
  Lucia girou a maçaneta devagar e abriu a porta. Uma mulher sentada a frente da turma olhava para ela, seu cabelo era um tom de castanho claro e estava preso há um coque na parte de trás da cabeça, os olhos eram negros e usava uma roupa bem elegante, certamente era a professora.
P - Sim? Do que precisa jovem? - Disse a mulher com a voz firme.
L - Han, essa é a sala 7 não é? Do segundo ano... C? - Lucia diz enquanto lê o pequeno papel que ganhara de Marlene minutos antes.
P - Sim senhora, porque? - Disse com impaciência.
  Lucia se aproximou da mesa em que a professora estava e entregou o pequeno papel. A mulher se apressou e pegou um par de óculos cor de rosa que estava na mesa e começou a ler, e, para um papel tão pequeno ela demorou muito para terminar, o que deixou Lucia desconfortável na frente da turma toda.
P - Ah sim! Ok ok, qual seu nome moça? - Diz devolvendo o papel.
L - Lucia - Respondeu baixo.
P - Turma essa é Lucia! Ela vai estudar nesta turma a partir de hoje! - Disse em alto e bom som.
  Lucia quase conseguiu sentir dor física quando a professora gritou para a sala toda e os olhares que já estavam sobre ela duplicaram.
P - Ok, Lucia... Vamos ver, acho que só tem uma cadeira vaga nesta sala.- Disse a mulher enquanto passava os olhos de um canto ao outro do lugar.
P - É, pode se sentar lá trás Lucia, junto cooom...- ela fez uma pausa como se tentasse se lembrar de algo.
P - Henrique! Lá com o Henrique! - Disse voltando seu olhar para os papéis em cima da mesa.
L - Haan, ok... - Disse baixinho.

  Enquanto andava até seu lugar, recebeu alguns olhares gentis e outros nem tanto, coisa que ela estava praticamente acostumada já. O garoto, tal do Henrique, quando Lucia olhou direito para ele percebeu, era o mesmo que ela havia tentado cumprimentar mais cedo, ele a encarava até a alma com aqueles olhos azuis, depois suspirou e virou o rosto para o outro lado, ela já havia entendido que ele sem dúvidas não queria papo com ela, seja qual for o motivo....

  Aquele lugar até que não era tão ruim, no fundo era quase como se você fosse invisível, quase! Ainda haviam algumas pessoas que olhavam rindo e cochichavam coisas entre si, Lucia gostaria de ter um pouco mais de coragem para dizer algo como "o que é tão engraçado hein?" ou "perdeu alguma coisa na minha cara?" , mas isso ficaria só nas fanfics em sua mente, bom, talvez um dia ela realmente conseguisse, talvez...

  Não demorou muito para descobrir que aquela aula era de geografia, ela estava passando alguma coisa sobre hidrografia, que sinceramente, não estava dando para entender absolutamente nada. Pelo que conseguiu ouvir, o nome da professora era Helena, mas Lucia provavelmente esqueceria dessa informação logo logo, ela nunca foi muito boa com nomes, mas quase nunca esquecia um rosto.  Apesar de que talvez fosse ser um pouco difícil esquecer o nome " Henrique " , era mais fácil lembrar o nome de pessoas que não gostam dela, sempre foi assim.

  O clima naquela mesa era tão ruim que embrulhava o estômago, ela sentia como se o próprio capeta estivesse a observando, ou pior. Mesmo alguém não sensitivo conseguiria sentir a aura ruim vinda do garoto ao seu lado.

  Quando finalmente ouviu o sinal, se levantou rápido da mesa e, de alguma forma ela chegou na porta tão rápido que era quase como se tivesse se teletransportado, correu até o banheiro feminino para lavar o rosto, ela se olha no espelho e suspira.
L - Calma Lucia, calma, você já aguentou pessoas piores, não deixe esse garoto estragar seu dia, o mal está nele, não em mim, certo? - sua voz não mostra nenhuma gota de confiança.
L - Talvez eu precise só me distrair... Mas pra onde eu vou? Não estou com fome, nem tem nenhum livro que me interesse, não sei tocar nenhum instrumento e sou péssima em artes.... - ela suspira.
L - Talvez eu possa ir até a quadra, ver as pessoas jogando pode me distrair, né?
  Ela sai do banheiro e caminha pelo corredor lotado de pessoas e vozes altas, o tipo de ambiente que você só consegue pensar em fugir o mais rápido possível.  Depois de muitos tropeções, trombadas, dor de cabeça e pisões, ela finalmente estava na porta da quadra, parecia que ela havia sido atropelada por um bando de animais selvagens, o que, dependendo do seu ponto de vista, foi o que realmente aconteceu.

  Ela se sentou em uma parte mais acima, onde não haviam muitas pessoas, estava acontecendo um jogo de vôlei, e eles eram muito bons, ela estava sentada um pouco longe, então não conseguia ver direito os rostos, mas viu quando um garoto muito habilidoso deu um corte perfeito na bola, terminando o jogo. Foi tão bom que Lucia não se conteve.
L - Uuuhhuu! Bela jogada! - gritou.
  O garoto olhou para ela, e foi andando em sua direção, Lucia ainda sorria.
" talvez ele tenha gostado da torcida e está vindo agradecer ou sei lá "
  Mas seu sorriso desapareceu aos poucos quando viu com clareza o rosto do garoto, era.... Henrique, e ele não parecia nada contente.
H - Está me perseguindo ou algo asim??? - ele diz em um tom alto o suficiente para chamar a atenção das pessoas ao redor
L - Eu... Não eu só estav-.
H - Não quero ouvir suas desculpas idiotas, você tá me perseguindo desde quando cheguei na escola hoje! Sua Stalker estranha! - ele diz, cortando ela.
  Algumas pessoas começam a rir e cochichar olhando para Lucia, isso fez com que ela quisesse morrer.
H - Já te adianto, eu nunca ficaria com você! Nunca! Então desiste e vê se para de me seguir por ai!
  Ele se vira e começa a descer a arquibancada, Lucia está tremendo de ódio, tristeza, ela quer ir embora, quer chorar, apenas desaparecer, mas, antes disso.

  Henrique descia calmante a arquibancada, com uma expressão neutra no rosto, mas ouve passos atrás dele.
L - Hey!
  Lucia usa toda a sua força, e o empurra escada abaixo, ele cai no final , e começa a gemer de dor.
H - AAAAH! AAAI! VOCÊ É MALUCA? AAAH MINHA PERNA, SUA FILHA DA PUTA MALUCA!- ela consegue ver claramente o ódio nos olhos dele.
L - CALA A BOCA! - grita alto, todos em volta ficam quietos, incluindo Henrique.
L - Você decidiu que queria me odiar, e eu nem mesmo te conheço! Eu não fiz nada! Eu tentei ser legal desde que cheguei aqui! Mas eu cansei! Quer saber? Vai pro inferno! - Diz com a voz trêmula.
  Lucia sai da quadra, com lágrimas escorrendo dos olhos, lágrimas de ódio, porque nada podia ser fácil?

  Ela volta ao banheiro e se tranca lá, chorando... Chorando de ódio, de tristeza, de vergonha, ela só queria gritar e por tudo pra fora, mas não podia, tinha que engolir esses sentimentos e segurar seu ódio, não podia gritar ali, não podia quebrar nada ali, e isso, sem dúvidas, é uma das piores coisas que uma pessoa possa sentir.

  Lucia não apareceu nas últimas aulas, seu cérebro dizia que ela deveria ir, mas seu corpo não queria se mover e seu coração estava doendo muito para dizer algo, e essa luta interna a estava matando. Foi quando duas batidas fracas na porta a trouxeram de volta para a realidade.
- Hey, tudo bem?

! Algumas referências visuais desse capítulo !

Professora Helena