Capítulo 4: Os Quatro Vilarejos

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Um frescor. Vento açoitando seus cabelos. Sensação de prazer, somado ao vazio na consciência. Lin abriu os olhos, e no primeiro instante sentiu medo. Estava no alto de um planalto rochoso, onde o vento empregava força privilegiada. Seu cérebro ia reunindo os fatos, paulatinamente, e só então se deu por falta da mulher recém-acolhida. Não se encontrava ali. Nem tivera tempo de voltar para levá-la consigo. Era tudo muito estranho! Viajava de lugar para lugar em questão de segundos... nada fazia sentido! Sentiu uma onda de antipatia crescente pelo excêntrico rapaz de cabelos encaracolados; se não estava sonhando, era tudo, então, uma brincadeira deveras sem graça.


– Lin!


Girou nos calcanhares, apurou os ouvidos tentando isolar o som do vento. Encontrou um homem sentado numa pequena elevação de rocha. Se aproximou, limpando os olhos das impurezas que a ventania transportava.


– Ouça-me... – continuou o estranho. Vestia-se exatamente como Carlos (a princípio, Lin acreditava se tratar do mesmo), porém percebeu outra voz saindo debaixo daquele capuz – não posso prolongar-me nas palavras. Tudo o que precisa saber é o seguinte: estamos no alto de um rochedo. Abaixo dele existem quatro vilarejos, um em cada direção, Leste, Oeste, Norte e Sul. Você deverá seguir para um desses vilarejos se quiser se libertar...


Sua voz falhou, trazendo-lhe lágrimas ao rosto obscurecido. Escondeu-o entre as mãos cicatrizadas.


Lin deu as costas ao encapuzado, mastigando cada palavra, e também o tom de voz com que o sujeito se expressara. Aquela voz acendera-lhe o subconsciente...lembrava alguém. Seus olhos pousaram sobre uma alta estaca de madeira cravada no meio do planalto. Haviam, presas a ela, quatro placas indicadoras para cada direção. Liam-se "Serenidade, Caos, Indiferença, Fim". Girou em torno de si, observando os horizontes, e tentou associar A com B...


– Se libertar? – perguntou o rapaz perdido – se libertar de quê?


Mas a pergunta se esvaiu com o vento...pois não havia ninguém lá. Nenhum sinal do encapuzado.


Os quatro vilarejos no horizonte, idênticos entre si, despertavam uma angústia no peito de Lin. As novas ideias não abriam conexões lógicas. Deveria simplesmente adentrar um dos vilarejos e pedir informação para retornar à sua cidade?


Mantinha a mesma expressão intrigante, e com ela continuava a observar o horizonte, os vilarejos, respectivamente tracejados e mapeados como um trevo, um em cada direção. Bufou, pousando a palma da mão na testa... sentia tonturas. Pensar não adiantaria muito. Desceu a colina para uma direção, sem saber realmente onde ia; seu futuro seria guiado pelas asas da incerteza...


A força do acaso o carregava, deliberadamente, para uma névoa de mistérios. Encontrava-se num mundo surreal, onde nada tinha explicação, e sem motivos aparentes. Os véus do novo mundo enigmático o acolhiam, não sabia se como uma nova cria, ou como um filho bastardo. Era agora a vítima do destino nas mãos de um outro alguém.

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