Domingo

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Lara acordou mais tarde que o habitual, olhou no relógio novamente e constatou que se tomasse café naquele momento, substituiria o almoço pelo jantar. Estava exausta da faxina e da longa noite de estudos no dia anterior, então nada mais justo que não cozinhar.

Levantou vagarosamente, não estava com pressa alguma. Entrou no banheiro, tomou um banho demorado para levar embora toda a preguiça e cogitou fazer uma simples maquiagem.

Não era muito boa com aquilo, mas gostaria de tentar melhorar. Gostava da sua aparência com os produtos que passava, então não custava nada aprender um pouco mais.

Ainda não tinha muitos acessórios, então se contentou em colocar um pequeno brinco dourado na orelha, gostando do que estava vendo no espelho, optou também por soltar o cabelo.

Sorriu minimamente, confortável consigo mesma. Como passava do meio dia e estava relativamente quente, colocou um vestido branco com um pouco de transparência e calçou um chinelo da mesma cor. Seu objeto seria ir a um restaurante próximo à praia, por isso o look menos formal.

Antes de passar o batom, se dirigiu até a cozinha e comeu uma maçã. Não gostava da ideia de sair de casa sem ter comido nada. Quando terminou, preencheu os lábios com um simples tom de rosa, extremamente claro.

Pegou a bolsa em cima da cama, justamente com o celular e desceu. Iria andando, pois pelo pouco que conhecia da cidade, sabia que à praia não ficava tão longe de onde morava. Cumprimentou o porteiro e seguiu seu caminho.

O sol estava insuportável, não importava o tanto de protetor que usasse, sentia sua pele queimar. Olhou aliviada para o restaurante, feliz por ter uma sombra para sentar

Se dirigiu até uma mesa vazia e olhou o cardápio. Estava em dúvidas sobre o que pediria, não teve tempo o suficiente para planejar o que iria comer. Iniciou pegando uma cerveja, algo gelado cairia bem naquele momento.

Estava tão distraída tentando se decidir que não notou uma figura familiar entrando no estabelecimento. Não haviam muitas mesas vagas, então, por obra do destino, uma cadeira foi puxada bem na sua frente.

Quando os olhares se encontraram, ouve uma longo silêncio, um calar bem duro e cheio de gritos exclamosos. Lara tomou a iniciativa e acenou para o homem, logo recebendo o mesmo gesto como reposta. Eles sorriram, mas tiveram o contato visual quebrado pelo garçom que havia trago a bebida da mesma.

Por impulso, a mulher o chamou para sentar na sua mesa. Ele levantou de onde estava e veio até ela.

— Que surpresa. — Lara quebrou o silêncio.

— Sim, você costuma vir aqui? — Guilherme a questionou, sem perceber que a mulher era nova na cidade. — Ah, me desculpe, esqueci que você não é daqui.

— Tudo bem, mas respondendo sua pergunta, essa é a minha primeira vez aqui. — Ela sorriu, serviu cerveja em um copo para si, e em outro para o homem — Para falar a verdade, eu estou indo à lugares diferentes na tentativa de um dia ter ido à todos da região.

— Bom, é uma boa idéia. Eu moro aqui há anos e acabo me contentando a frequentar os mesmos lugares. — Pigarreou.

— Não é algo ruim, na verdade. — Ela o encarou, com uma dúvida em mente — Você falou anos, não é natural daqui?

— Não, sou do Suldeste.

— Acredito não ter ido para nenhum estado de lá ainda.

— Não é uma região ruim.

— Aparentemente não é mesmo.

— Já decidiu o que vai comer? — Guiherme perguntou, sem ideias para iniciar uma boa conversa.

— Ainda não, estou em uma eterna dúvida. Você tem alguma sugestão? — Ambos trocaram um olhar rápido, mas logo se viraram para o cardápio.

— Os camarões daqui são ótimos, e claro, esse peixe em especial é meu favorito. — O homem se deixou levar pela empolgação.

— Que maravilha, está de acordo em pedirmos esse? — Ela esperou alguma resposta por parte dele.

— Sim, claro! Espero que goste.

Sorriram um para o outro e Guilherme chamou o garçom para fazer o pedido e solicitou mais algumas cervejas. Estava adorando o rumo que aquele dia estava tendo.

Sentiu que não estava com pressa ou queria fazer algo além de estar na companhia daquela mulher. Chegava a ser estranho, tendo em vista que eram desconhecidos um para o outro.

— Então, Lara, o que te fez escolher a cidade? — Guilherme pensou que seria uma boa pergunta a ser feita.

— Achei que estava na hora de sair da zona de conforto, ou melhor, dar um tempo em tudo e começar do zero. Parece meio bobo, mas se eu não tivesse tomado essa decisão, a essa hora estaria internada com várias crises de ansiedade.

— Poxa, problemas familiares ou coisa parecida? Não precisa responder, caso não queira. — Seu tom transmitia compreensão.

— Acho que um mix de tudo, sabe? Eu sempre quis ter um tempo só pra mim e percebi que passar anos dependendo dos meus pais para cursar uma faculdade integral na minha cidade iria me deixar louca, então virei noites pesquisando vagas de emprego e no curso que eu realmente queria.

— E foi aqui que você encontrou ambos.

— Sim, e me sinto bem feliz pela minha decisão.

— Você foi muito corajosa.

— Às vezes aprendemos a ser.

— Sim, realmente.

— E você, como veio parar aqui?

— Meus pais, na verdade. Não mudamos para cá quando eu ainda era adolescente.

— E você gosta daqui?

— Não é um lugar ruim e já me acostumei com o clima.

— O clima é ótimo. — Notando que o assunto estava se esvaindo, Lara tentou se aprofundar mas perguntas — O que você faz da vida, Guilherme?

— Eu sou engenheiro civil.

— Olha, que legal. É uma área muito boa.

— E você, está trabalhando com o quê?

— Estou trabalhando como técnica em uma empresa de combustível.

— Então você tem várias áreas de atuação.

— Estudar era minha válvula de escape.

— Te entendo bem.

— Que tal mais uma cervejinha?

— Claro, nunca se nega uma cerveja.

— Concordo com você.

A comida chegou e ambos comeram, ainda comentando sobre trabalho e lugares que já foram ou gostariam de ir na cidade.

Os minutos no restaurante se tornaram horas, então resolveram pagar a conta e ir até a casa do mais velho com a desculpa de tomar mais algumas cervejas.

De certo, foram até o local e beberam até anoitecer. Todavia, não perceberam que foram dominados pelo efeito do álcool e simplesmente dormiram no sofá, em posições que iriam lhes render uma bela dor nas costas no dia seguinte.

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