A luz do sol entrava para dentro do pequeno apartamento como uma chama. Os olhos de Lara e Guilherme abriram com dificuldade, ambos atordoados e doloridos pela posição desconfortável em que dormiram.
— Que horas são? — A mulher perguntou, lembrando que era segunda e deveria estar no trabalho às 8h.
— Faltam quinze para às sete. — Felizmente teria tempo de ir para casa e se arrumar.
— Graças a Deus! — Só então ela reparou no homem à sua frente, sem boné, alguém lhe veio à sua mente, causando arrepios — Guilherme?
— Eu? — Ele parecia confuso, sua cabeça estava latejando.
— A impressão que eu tenho é que te conheço de algum lugar. Você parece tanto com alguém, mas não lembro exatamente quem.
— Você quer um café? — Por não saber o que fazer, preferiu mudar de assunto.
— Sim, eu aceito. Minha cabeça está péssima, desculpa já acordar falando dessas coisas.
— Tudo bem, não se desculpe.
— Quer ajuda?
— O que você costuma comer no café da manhã? — O homem estava confuso sobre o que preparar.
— Não precisa de preocupar, só um café já seria ótimo.
— Nem pensar que você vai tomar só café para ir trabalhar. — Lembrando que ambos estavam de ressaca, pegou uma caixinha no armário e tirou de lá dois comprimidos. — Aqui, vai ajudar.
— Obrigada. Acho que nunca consumi tanto álcool em uma noite.
— Você não tem o hábito de beber?
— Não, no máximo tomo um pouquinho, nada de exageros.
— Você deveria ter dito, eu teria parado.
— Eu não quis parar, então está tudo bem, foi só um comentário.
— Ok. O café está quase pronto.
Tempo depois a campainha tocou, o homem atendeu e pegou algumas sacolas do entregador. O mesmo se dirigiu até a mesa e colocou lá algumas guloseimas e pães, além de um lindo bolo de chocolate.
— Você comprou isso tudo? — Lara ficou surpresa pela atitude do outro. Lembrou que há tempos não recebia esse tipo de gesto, ainda mais de um desconhecido.
— Eu falei que não lhe deixaria ir trabalhar com a barriga vazia. — Guilherme sorriu, tímido — Vamos comer? Eu não sabia do que você gostava, então comprei algumas coisas que achei que gostaria.
— Obrigada, foi muito gentil da sua parte. — A mulher olhou para a mesa posta e sorriu ao ver algo que gostava bastante — Pão de queijo!
— Você gosta?
— Sim, bastante.
Comeram em silêncio. Suas cabeças ainda doíam, mas não era apenas por causa do álcool, tinha algo a mais, uma coisa entalada na garganta.
— O seu sorriso, ele é tão bonito! — Guilherme falou.
Lara o olhou, ainda mastigando, sem saber bem o que deveria fazer.
— Obrigada. — Foi a única coisa que conseguiu falar, mesmo que seus nervos estivessem prestes a explodir.
— Bom, já são quase 8h! — O homem avisou, meio sem jeito.
— Acho que está na minha hora, ainda preciso passar em casa e tomar banho.
— Você quer uma carona? — Ele ofereceu, torcendo para que ela aceitasse.
— Não quero incomodar ainda mais.
— Não incomoda, na verdade. Hoje só vou a obra no período da tarde, então tenho a manhã livre.
— Bom, então eu aceito! — Lara levantou e pegou sua bolsa no sofá, já seguindo até a porta.
Guilherme também levantou da mesa, indo até uma mesinha e pegando a carteira e chave do carro.
— Vamos.
A mulher o seguiu, entraram no elevador e desceram até a garagem. Já no carro, voltou a conferir às horas, teria menos de meia hora para se arrumar.
— Eu vou te esperar e levo você até o trabalho, se não, você chegará atrasada.
— Nossa, eu nem sei como agradecer a gentileza.
— Não precisa agradecer.
Como resposta, Lara apenas sorriu. O carro logo parou em frente ao seu prédio, e com uma velocidade extrema, desceu e correu até seu apartamento. Guilherme continuou no carro, estático.
Não demorou para que ela voltasse ao seu campo de visão, dentro de botas de proteção, calça escura e uma blusa social de um tom azul marinho. Seu cabelo estava preso, deixando seus traços ainda mais visíveis.
O homem estava tão encantado com aquela visão que não se deu conta da aproximação da mulher.
— Vamos? — Lara quebrou o silêncio, anestesiada pela pressa.
— Oh, vamos! Preciso que me diga o endereço exato. — Ele entregou seu telefone para ela para que digitasse o endereço ao qual deveria ir.
O caminho até o local de trabalho da mulher foi silencioso, não havia muito o que ser dito naquele momento.
Ao chegar em seu destino, Lara pegou sua bolsa e saiu do carro apressada, agradecendo ao homem logo em seguida. O dia estava ensolarado, e Guilherme adoraria não ter que se despedir dela tão cedo.
Sorrindo, deu a curva e voltou para sua casa, feliz por ter visto um sorriso tão lindo ao amanhecer.
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Uma dose de reencontros
RomanceDuas mentes nunca fingem esquecer-se por muito tempo. Esse foi o caso de Lara e Guilherme, porém, um livro esquecido na praia pode reavivar os sentimentos que nunca foram vividos fisicamente.