Cheiro de lembranças

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Lara acordou com o barulho intenso do despertador, 7h da manhã. Espreguiçou- se e levantou vagarosa. Fez suas higienes matinais e dispôs da folga do trabalho para arrumar a casa e lavar a pilha de roupas que gritava dentro do cesto.

Após terminar todas as atividades, olhou para o relógio e assustou-se ao comprovar que já passava das 11h da manhã. Lembrou que havia combinado de ir pegar o livro na casa do cara que o guardou e sentiu uma pontada de culpa por ao menos ter lembrado disso. Aproveitou que o celular estava em mãos e mandou uma mensagem.

Lara
Bom dia
Desculpa por não ter ido pegar o livro na sua casa às 10h, acabei perdendo muito tempo arrumando algumas coisas
Se ainda estiver em casa, eu passo aí rapidinho daqui há uma hora

Do outro lado da tela, Guilherme encarava a mensagem com um misto de sensações. Sentia -se aliviado pela situação não ter se tratado de uma desistência por parte da moça, e triste, pois queria vê-la. Infelizmente, teria que ir ao centro pegar algumas encomendas, fato que impedia a possibilidade de Lara ir à sua casa.

Guilherme
Bom dia, tudo bem
Infelizmente terei que ir ao centro agora, se você morar aí perto eu posso levar pra você

Lara
Moro sim, mas não quero incomodar

Guilherme
Não incomoda, só me manda a localização que eu já chego aí

Lara
Ok, obrigada

Ele pegou a chave do carro, carteira e o livro, saiu do apartamento e entrou no elevador, indo até a garagem. Durigiu-se ao seu automóvel e seguiu rumo à casa da jovem. Uma ponta de nervosismo estendeu-se por sua espinha e aquilo o incomodou. Não deveria estar tão nervoso.

Passou a mão pela barba e arrumou o boné, queria causar uma boa impressão. Verificou novamente o endereço e comprovou estar no lugar certo. Ela morava no terceiro andar, então conversou com o porteiro e após uma breve chamada, sua subida foi permitida.

Entrou no elevador e logo estava em frente à porta 121 com o dedo no botão da campainha. Respirou fundo, segurou o livro ainda mais firme e finalmente apertou. Poucos segundos depois, uma Lara descabelada e com expressão cansada abriu a porta.

— Ol...  — sua voz sumiu assim que encarou o homem à sua frente.

Guilherme não agiu diferente. O mundo e às coisas ao seu redor pareciam não existir e ficaram apenas os dois, em um misto de nostalgia que não sabiam de onde surgiu. Os olhos fixos um no outro, a expressão de espanto, os lábios lutando para falar algo, a respiração acelerada e o coração batendo forte demais para se tratarem de dois estranhos.

O barulho que o livro fez ao cair no chão foi o suficiente para fazê-los recobrar a consequência.

— Me desculpe, foi sem querer! — O homem tentou justificar o fato de ter deixado o livro dela cair no chão.

— Tudo bem, obrigada por ter trago ele até aqui. Foi muita gentileza sua.

— Disponha — olhou para o chão, sem saber o que falar depois.

— Não quer entrar? Aceita uma água, um café? — ofereceu, educada e esperançosa. Por algum motivo não queria que ele fosse embora naquele momento.

— Não quero atrapalhar.

— Não atrapalha, eu fiz bolo, vem?

— Tudo bem.

Guilherme entrou no local e foi direcionado até a mesa de jantar. Ficou observando os movimentos que a jovem fazia e parecia ainda mais atordoado com aquela situação. Na noite anterior pensou tratar-se do álcool, mas comprovou que não havia relação alguma.

Ela colocou uma fatia de bolo em um prato e serviu-lhe, juntamente com uma xícara de café. Sentou -se à sua frente e comeram.

— Eu tenho uma leve impressão de já ter te visto em algum lugar.

— Na praia, ontem?

— Também, mas não, não foi na praia.

— Eu também tenho essa impressão, mas não consigo lembrar de nada.

— Qual seu nome? Acabei esquecendo de perguntar quando mandou mensagem ontem.

— Guilherme, eu me chamo Guilherme.

— Guilherme? — pareceu pensar por um segundo.

— Sim, por quê?

— Por nada, achei familiar.

— Existem muitos Guilhermes por aí.

— Verdade — confirmou.

— Você é daqui?

— Eu? Ah, não! Mudei pra cá há algumas semanas.

— Jura?

— Sim, consegui uma vaga em uma universidade daqui e de quebra, um emprego também.

— Que sorte. Faculdade de quê?

— Fisioterapia.

— Uma boa área.

— Sim, gosto bastante.

Os dois conversaram por mais alguns minutos até o celular de Guilherme tocar. Ele pediu licença, atendeu e logo  voltou - se para  Lara.

— Infelizmente terei que ir agora! — anunciou — Obrigada pelo bolo.

— Eu que agradeço por ter trago o livro, foi um prazer conhecê-lo.

— O prazer foi meu. — De forma discreta, lhe deu um abraço  — Até mais.

— Até!

Ela o acompanhou até a porta e trocaram mais um abraço antes dele finamente sair do seu campo de visão. Ela ficou parada em frente à porta por mais alguns minutos, tentando recuperar os sentidos depois da visita inesperada.

Por algum motivo, ele não saia de sua mente. Aquele olhar, tinha certeza que já o havia visto alguma vez na vida e não foi na noite anterior. Sorriu e entrou. Precisava de um banho e  alguns minutos de cochilo.

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