Capítulo 4: Indiretas

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Irene Galle

Minhas mãos tremiam ao fechar a porta de casa, enquanto meu coração batia descompassado. Quais eram as chances de encontrar o meu novo vizinho no meu novo trabalho e ainda por cima ver o seu potencial interesse em mim?

As chances deveriam ser tão pequenas quanto ser atingida por um meteoro. Mas e quando isso acontece, o que eu deveria fazer?

Olhei para minhas mãos tremulas antes de rir nervosamente, enquanto aproveitava a escuridão do meu apartamento, segui para a janela, encarando o apartamento do meu vizinho com o medo crescente.

Sentia como se ele pudesse me ver, ler meus pensamentos e descobrir tudo sobre mim.

Eu estava começando a ficar louca. Pensei sem qualquer surpresa antes de piscar.

Meus olhos permaneceram na janela fechada a minha frente, atraída pelo mistério e confusa sobre o que realmente tinha me atraído para observá-lo após as promessas feitas.

Deveria me mudar novamente?

Suspirei mais uma vez ao desviar os olhos, seguir para o sofá e me deitar, colocando o braço em cima do meu rosto. Como se daquela forma pudesse esconder todos os meus pensamentos e medos.

Em algum momento, acabei adormecendo, despertando horas depois. E, infelizmente, as luzes da casa do vizinho estavam acessas como se ele estivesse ansioso para que todos soubessem que ele havia retornado.

Revirei os olhos, mas peguei o meu binoculo e comecei a observá-lo atentamente esperando que pudesse dormir antes das três da manhã.

****

Kyros Palias

Um dos maiores problemas com o meu trabalho estava nas adaptações excessivas para cada caso. Em alguns, precisava mostrar ser uma pessoa totalmente diferente em relação a tudo na vida. Mas o fato de precisar entrar no trabalho dela usando minha verdadeira identidade como advogado tornava as coisas um pouco mais complicadas.

Afinal, ela poderia me rastrear com facilidade e acabar querendo se vingar, o que seria realmente interessante.

Era problemático? Sim.

Mas e daí?

O seu olhar desconfortável e o pânico que surgiu no instante seguinte ao me aproximar dela fez tudo valer a pena. O interessante de Voyeurs estava no fato de apreciarem observar a vida de outras pessoas sem se envolverem, como se evitassem que a realidade tirasse a diversão e a excitação de tudo.

Já que para eles, aparentemente, a fantasia perdia toda a graça quando realmente conheciam suas vitimas.

Só que Irene Galle era assim também?

Seu histórico contradizia o transtorno de Voyeurismo tradicional.

Se fosse realmente assim como seria para ela ter contato com a pessoa que observava?

Talvez devesse brincar um pouco enquanto a investigava.

Sorri, ficando ainda mais relaxado ao olhar para a imagem dela no meu celular. As imagens das câmeras instaladas podiam ser vistas tanto no computador quanto no meu celular, afinal precisava ter acesso ao que ela fazia vinte e quanto horas por dia.

Quando a vi pegar o binoculo e olhar para o meu apartamento, permaneci inalterado.

Mas algo em seu comportamento estava diferente. Ela não parecia tão animada quanto antes. O fato de ter me visto a deixou desanimada?

Isso era algo interessante que não constava em minha investigação prévia sobre ela.

Ela continuou me olhando por um tempo menor do que antes.

O fato de ter aparecido em seu trabalho a fez diminuir sua curiosidade sobre mim?

Semicerrei os olhos, preparado para trocar de roupa e começar minha hora de exibição física.

****

Irene Galle

Eu não sabia o que tinha errado comigo!

Bem, sabia um pouco, só não queria acreditar que tinha retornado aos meus velhos hábitos tão rapidamente.

Observar o meu vizinho, o novo advogado do meu trabalho, deveria ter perdido a graça quando nos encontrarmos pessoal, mas parecia pior. Comecei a ficar cada vez ansiosa.

Ansiosa para saber se tudo o que ele fazia quando ninguém via era a mesma coisa quando tinha alguém em sua frente.

Além de observá-lo em casa, começava a levar tal habito para o trabalho, aproveitando qualquer segundo para manter meus olhos nele, como se estivesse analisando-o para comparar se seu comportamento era compatível com o que via em sua casa.

Talvez devesse buscar outro psiquiatra para pedir um remédio mais forte. Um que me fizesse encarar a vida de forma cinza.

— Irene, não é? — Pisquei ao encarar o culpado a minha frente. Ele mantinha um sorriso educado no rosto, mas ainda conseguia ver um tipo de frieza em seus olhos. Como se realmente fosse ignorar qualquer coisa que falasse, sentou-se em minha frente, colocando a bandeja em cima da mesa. Olhei discretamente ao redor, desejando que alguém sentasse na mesa para não ficar sozinha com ele, só que deveria estar amaldiçoada.

Ninguém se sentou ou se aproximou de nós.

— É impressão minha ou está sempre fugindo de mim? ­­— Ele perguntou ao me encarar com seus olhos intensos e frios. Engoli em seco ao sorrir sem graça. O que deveria responder? "Ah! Estou apenas poupando meus olhos para passar a noite inteira de observando do meu apartamento". Se eu fosse corajosa, ou louca o bastante, para responder isso, ao menos não teria arrependimentos e ele nunca mais se atreveria a dirigir a palavra para mim. — Se continuar posso até pensar que me acha perigoso. Irene, sou um advogado e prezo pelo cumprimento das leis, então estará segura comigo.

Cada palavra sua era como uma adaga sendo enfiada em meu peito. O que diabos Kyros queria dizer?

Era alguma indireta?

Não! Ele não tinha como saber que eu o observava.

Esperava com todas as minhas forças que não.

CONTINUA... 

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⏰ Última atualização: Aug 28, 2023 ⏰

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