𝚂𝙲𝚁𝙴𝙰𝙼 𝚀𝚄𝙴𝙴𝙽

ℂ𝔸ℙ𝕀𝕋𝕌𝕃𝕆 𝕌𝕄

Você nunca mais foi o mesmo depois de Woodsboro. Embora você soubesse que eles já haviam partido há muito tempo, não podia deixar de ver Billy e Stu onde quer que fosse. Na escola, seus reflexos permaneciam nos espelhos e nas janelas das salas de aula. Em casa, seus rostos foram estampados em todos os noticiários junto com imagens memoriais de Sidney e Tatum.

Por alguns meses depois daquela noite horrível, você não conseguia olhar nos olhos de Randy ou Dewey. Você estava muito preocupada, fazer isso o mandaria de volta para a casa dos Macher, sentada no balcão da cozinha e conversando à toa com os dois garotos que mataram não apenas três de seus melhores amigos e um de seus namorados, mas também o diretor de sua escola.

Quando o seu desagradável gesso rosa finalmente saiu, foi como se você tivesse sido lavado de todo o caso. Por respeito à sua dor, poucas pessoas na escola falaram sobre o incidente. Os repórteres pararam de bater na sua porta um pouco depois do final do ano letivo, mas alguns programas de entrevistas noturnos ainda exibiam histórias sobre sua experiência. Seu segmento favorito era intitulado: Romeu e Julieta da Nova Era: Assassinos Cruzados pelas Estrelas. Era tablóide, sim, mas muito inteligente.

Você e Randy foram aceitos em uma escola decente do outro lado do país e, de repente, vocês estavam livres. Chega de Woodsboro, chega de lembranças do seu trauma e chega de Billy e Stu.

Você estava quase totalmente convencido de que a única razão pela qual Randy veio para Windsor foi para ficar de olho em você. Ninguém mais entendeu o que aconteceu, exceto talvez Dewey, mas até sua percepção do evento foi obscurecida pela morte de Tatum. Randy era tudo que lhe restava e algo dentro de você esperava que você significasse o mesmo para ele em troca.

Suspirando, você começou a tirar o pijama grogue, deslizando um moletom enorme do Windsor College sobre a cabeça e recostando-se na cabeceira da cama para calçar os sapatos. Você tinha o hábito de chegar às aulas excessivamente cedo e hoje não foi exceção.

Quando você estava prestes a colocar a mochila no ombro e pegar as chaves, o telefone na mesa compartilhada entre você e Hallie começou a tocar alto. O som fez você estremecer como sempre, mas depois de um segundo para se recompor, você o puxou da mesa e colocou o dispositivo contra o ouvido.

"Olá?" Você perguntou, esticando o pescoço para olhar o relógio. Talvez você possa tomar um café ou tomar café da manhã no caminho para a aula. Houve um silêncio pesado no telefone, preenchido com o estrondo profundo de uma respiração pesada. "Olá?" Você perguntou de novo, girando o cordão no dedo. Esperançosamente, isso não demoraria muito ou você poderia dar adeus ao café da manhã.

"Olá, (S/N)."

A voz era profunda e assustadora, fazendo o aparelho zumbir em sua mão. Mas eles colocaram o modulador de voz muito alto. Um erro de novato.

"Quem é?" Você perguntou entediado, estendendo a mão para pegar o leitor de identificação de chamadas branco em bloco da mesa. Ainda estava carregando, analisando as informações fornecidas. Você bateu o dedo na tela verde.

"Diga-me você" a voz ronronou. Você revirou os olhos e fingiu engasgar. O leitor de identificação apitou e você o segurou mais perto para poder lê-lo. "Você é Corey Gillis, 442-8730."
"Merda!"

Outra voz mais estridente veio do telefone, fazendo você rir. Em estado de choque, Corey acidentalmente desligou o modulador de voz antes de falar. Este não foi seu primeiro trote.

Seu número vazou inúmeras vezes depois que sua história chegou ao noticiário nacional. Moradores de porões de todos os cantos do país tentaram a sorte com você, querendo a sua vez de jogar de terror. Mas você sempre pode identificar seus pequenos erros nas duas primeiras frases.

Você quase não foi aceito em Windsor porque quando a administração digitou seu nome no mecanismo de busca, os únicos resultados foram menções obscenas de sua existência em fóruns de crimes verdadeiros. Fanáticos por terror babaram com sua história porque você incorporou uma fantasia doentia e distorcida de uma garota final. Você não entendeu, mas aparentemente houve algum apelo.

"Notícias, Corey" você suspirou, prendendo o telefone entre a orelha e o ombro. "Trotes são um crime processado sob o código penal 635M." Antes que você pudesse terminar a frase, a linha foi cortada com um clique sólido.

Implacável, você largou o telefone de volta na mesa e se endireitou para olhar no espelho encostado na parede logo acima dele. As ligações só pioraram desde que o filme foi lançado. Nem três anos depois e já havia uma porra de filme.

"Maldita Hollywood" você resmungou, recuando e finalmente se abaixando para colocar a mochila por cima do ombro. Não há tempo para o café da manhã agora, mas talvez você pudesse comer uma barra de granola do seu descontraído professor de psicologia.

Uma batida suave veio na porta do seu dormitório e você olhou para cima e viu Hallie parada ali com um tapete de ioga debaixo do braço. Hallie era júnior e dois anos mais velha que você. Ela era provavelmente a coisa mais próxima que você tinha de uma melhor amiga desde que Tatum morreu. Às vezes você ficava assustado com o quão parecidos elas eram.

"Ei..." ela cumprimentou com um sorriso triste. Você já podia sentir as más notícias surgindo em sua voz.

"Isso não parece bom" você testou, cruzando os braços. Hallie sempre gostou de entradas ousadas. Houve apenas duas vezes em que ela se importou em bater.

A primeira foi quando ela levou seu carro para um jogo de futebol e um idiota bateu na traseira dele na garagem. A segunda foi quando ela o ofereceu para uma arrecadação de fundos em sua irmandade, onde você seria leiloado como acompanhante para um membro de sua fraternidade. Nenhuma das experiências terminou bem para você.

"Você já assistiu ao noticiário?" Ela perguntou, entrando no dormitório e fechando a porta atrás dela o mais suavemente que pôde. Você semicerrou os olhos para ela e balançou a cabeça. "Não."

Hallie engoliu em seco e tirou a bolsa do braço, colocando o tapete de ioga no espaço entre a mesa e a cama. Enquanto ela desfazia as malas, você se virou para a pequena TV quadrada que estava no banquinho entre as duas camas, puxando o controle remoto de cima e clicando no botão ON.

No início, havia apenas uma manta de estática preta e branca. Mas então uma voz estrondosa surgiu e, junto com ela, a imagem de um repórter parado em frente ao que parecia ser o cinema local. O som era um pouco mais lento que a imagem e era preciso apertar os olhos para ver a cena.

“Os dois estudantes universitários de Windsor foram assassinados ontem à noite durante uma prévia do novo filme Stab" anunciou o repórter, varrendo os braços para a cena atrás dele. Toda a entrada do teatro havia sido seccionada com fita amarela que flutuava com a brisa.

Atrás dele, sirenes soavam e homens uniformizados andavam de um lado para outro. "A polícia não divulgou nenhuma informação, exceto os nomes das vítimas, mas uma entrevista coletiva está marcada para hoje. As vítimas; Maureen Evans e Phil Stevens, eram ambos estudantes de Windsor."

Sua postura enrijeceu e o controle remoto escorregou facilmente de sua mão, fazendo barulho ao cair no tapete felpudo. Na lateral do teatro, um grande pôster de filme estava colado no tijolo, detalhando uma figura familiar encapuzada com uma horrível máscara branca.

"Onde está Randy?" Você engasgou, recuando contra a porta. Hallie conhecia Randy. Ele era seu contato de emergência e ela frequentemente ligava para ele em seu nome quando seus terrores noturnos ficavam especialmente graves. Na maioria dos fins de semana, quando ela voltava para casa para visitar os pais, você ficava com ele no apartamento que ele alugava sozinho no campus.

"Ele está na Teoria do Cinema até as dez" ela respondeu na hora, os olhos ainda grudados na tela da TV. Você lambeu os lábios em uma tentativa desesperada de recuperar a sensação em seu rosto. Sem se preocupar em terminar de se arrumar, você recuou até que seu ombro bateu na porta. O prédio do cinema ficava do outro lado do campus. Caminhar até lá demorava cerca de quinze minutos em um dia normal. Mas no seu estado, você poderia chegar em cinco.

"Eu preciso vê-lo" você engoliu em seco, os olhos lacrimejando de repente. Hallie assentiu, mas você não esperou para ouvir a resposta dela antes de girar a maçaneta da porta e desaparecer no corredor vazio.