Frederick
No cais, de frente ao Silent Mary, Frederick contempla mais uma vez a bela visão. Não há outro nome. Bela. Simplesmente é a mulher mais bonita que ele já tinha visto. O rosto e o corpo são perfeitos e olhos que, sendo sincero, dão até medo em Frederick, de tão estrondosamente magníficos.
— Então, de onde a bela jovem veio? — ele pergunta, ansioso, olhando para ela. Ela não fala uma palavra sequer. Apenas continua andando, seguindo Hunter pelo píer. — Bom, eu mesmo vim daqui de Marcelle, mas meus ancestrais eram das Ilhas de Prata. É o que meu pai diz.
Ainda sem resposta. Ela apenas segue, acompanhando de perto os passos do capitão. Pelo jeito ela não gosta muito de falar.
— É aqui — Hunter anuncia, apontando para o Silent Mary.
— Partimos de imediato? — ela pergunta.
— Sim — o capitão concorda. — Vou acordar os marinheiros.
Frederick caminha com eles e, quando se aproximam da entrada do navio, ele estende a mão para ajudá-la a pular o vão entre o barco e a ponte do cais. No segundo em que ele quase encosta nela, ela o empurra para o lado com força, tocando a mão direita em sua camisa e o fazendo cair no chão, ao mesmo tempo em que pula para trás, como se estivesse assustada.
— O que você quer? — ela grita.
Frederick permanece imóvel, pasmo.
— Está tudo bem — Hunter diz. — Ele só ia te ajudar a entrar. Ele é inofensivo, garanto. — Ela encara Frederick e vira de costas, entrando no navio sozinha. O capitão se aproxima e o ajuda a levantar.
— O que foi isso? — Frederick pergunta.
— Eu não sei, mas quer parar de dar em cima dela? É óbvio que ela não está interessada.
— Óbvio? — Frederick diz, se levantando. — Agora você exagerou. Ela é um mistério total. Nada sobre essa mulher é óbvio.
— Pare com isso. Ela é bem mais nova que você — Hunter afirma enquanto os dois seguem para entrar no navio.
— Quantos anos acha que eu tenho, capitão? — O amigo parece ofendido.
— Não sei. Você nunca falou. Pensei que tinha uns vinte e sete — Hunter responde e, já dentro do navio, ele começa a pegar algumas cordas do chão e procurar pelos outros marinheiros.
— Ultrajante sua confusão — Frederick rebate. — Eu tenho vinte e seis.
Hunter balança a cabeça e ri.
— Bem, provável que ela tenha uns dezesseis. Então meu ponto é: deixa isso para lá — ele afirma.
O capitão bate palmas e então os homens começam a sair das cabines e de debaixo do convés para a ponte. A garota está parada numa extremidade oposta do barco, olhando para o mar.
— Dezesseis? Com aquele corpo? Duvido. Aposto que tem pelo menos dezoito. E aposto que consigo conquistá-la.
— Atenção, homens! — Hunter grita, ignorando sua colocação. Todos os homens presentes prestam atenção. Até mesmo a garota para de olhar para o mar e se volta para ele. — Nós vamos a Veronika entregar a carga do dono do banco, como todos já sabem. Logo depois, iremos às Ilhas de Prata levar essa senhorita, que irá nos recompensar muito bem e que tem muita pressa de chegar lá. — Murmúrios reinam pelo convés quando os homens olham para ela. — Ela é uma hóspede muito importante e não quero ninguém encostando nela. Ela nos pagará muito bem para apenas fazermos nosso trabalho, entenderam?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Canção das Profundezas
FantasyTodos nós já ouvimos falar sobre as lendas das sereias que habitavam o Mar Negro - contos de pescadores, terrores que a coroa espalha para amedrontar os marinheiros. Mas e se fossem reais, quais as chances que os humanos teriam? Depois de cem anos...