Onde nem a luz poderia tocar, onde o sol nunca teria ousado se aventurar e onde as sombras reinavam, passos soaram.
Não havia luz, como citado. Então, quando a chuva de flechas veio, ninguém viu. Quando a chuva de flechas caiu, tudo ouviu.
Houve impacto de flecha negra e pedra preta. Houve encontro de pedra e madeira.
Passava o ser irreconhecível por corredores escuros e sem vida. Era uma bagunça. Cortes iam e vinham, ataques apareciam e sumiam. Mas o que quer que fosse que percorria ali, era imparável, indomável, incalculável...
Num solavanco, a porta não teve tempo para prantos. Pobre porta, quase arrancada, atropelada, estropiada...
Invadindo a câmara numa velocidade infalível, o ser fechou a porta com um estrondo extrañamente audível. Então, ele tropeçou serenamente para frente, tateando o ar frio com o que seriam suas mãos. Ele continuou procurou, e uma hora achou o que não esperou. Ele tocou, e ao mesmo tempo que um som melódico saiu, uma vibração pulsou de onde ele tocou. A corda dançou lentamente até se cansar, em profundo silêncio enquanto o eco percorria a sala e a luz invocada pela corda se apagava.
Ele testou novamente a corda. O mesmo aconteceu. Ousado, ele puxou a corda mais forte. Uma faísca intensa de luz o atingiu e ricocheteou na sala igual a vibração sonora invocada. O ser caiu pra trás, assustado com o estrondo sonoro e luminoso, enquanto a corda dançava e pulsava, lentamente até morrer.
Se levantando, desorientado, ele tocou levemente a corda, a provocando levianamente. A corda respondeu, como se renascesse ou acordasse, e igual seu toque, ela foi delicada e leviana. Uma faísca pequenina piscou e sobrevoou pela sala, flutuando harmonicamente.
A luz era muito intensa para si, e ele começou puxando levemente as cordas. Elas produziram o mesmo efeito anterior, se acendendo e florescendo e enchendo de calor.
Logo, os puxões se tornaram música, e as faíscas chamas. A música, que começou leve e fraca, se fortaleceu e ganhou desespero, força, ousadia... Ela se espalhou por todo lugar, inundou a sala e invadiu o corredor, disparou e circulou, sem olhar para trás, apenas para frente.
Não demorou muito e, com tanta intensidade da música, não havia mais escuridão. Luz, havia luz, e uma música que percorria todos os cantos e enchia de vida.
Logo, a falsidade já não existia, só havia a verdade e a pureza. Os dedos do ser — não mais um ser qualquer, um músico — não se cansavam, mas cada vez mais se excitavam, e o músico encontrou sua felicidade.
As cordas vibraram tanto, mas tanto, que deram vida ao coração que faziam parte. Ele pulsou, e compartilhou energia. Enquanto a música continuava, o coração pulsava, e assim continuou. Intenso, vívido e rico, era precioso e era a razão.
E mesmo quando o músico errou, ele continuou e aprendeu, e a vida continuou. Não mais trevas, não mais escuridão. Agora, somente havia a paz e o pulsante coração.
Nunca mais o coração de cordas foi o mesmo.
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Coração de Cordas
Fantasi"Nunca mais o coração de cordas foi o mesmo." One-shot sem fandom, apenas escrevi algo das profundezas da minha mente, onde se perde a diferença entre o coração e a razão.