03. Conhecendo-se I

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Não Revisado

Agosto, 1821

A jovem suspira em frustração, se jogando contra o banco acolchoado, as pernas balançam tentando se distrair, já se passaram horas desde que a viagem iniciou e não há nada para fazer além de conversar com a mulher ao seu lado, algo que nem cogita tentar. Apenas estar na presença dela é irritante. Como se isso não fosse o suficiente, também se sente levemente enjoada com o vai e vem da carruagem, o caminho para onde quer que estejam indo é cheio de pequenas pedras e em linha reta, tentou adivinhar qual rota estariam seguindo, mas sempre que abre as cortinas não vê nada além de árvores e pedras, nenhuma alma viva ou ponto de referência. Isso a frustra até o osso, sentindo-se prisioneira novamente, dessa vez sem cordas amarradas aos pulsos e sim um anel inexistente ao dedo, afinal, está casada. Nem em uma centena de anos poderia imaginar casando-se dessa forma, nem sequer mais sonhava com o dia que isso aconteceria, os sonhos que um dia tivera morreram pouco a pouco com o passar dos dias vivendo nas vielas e ao redor de Bexley. Quando adolescente se imaginava conhecendo o futuro amor de sua vida, talvez em um baile ou um encontro do acaso como nos livros, poeticamente mágico, tragicamente profundo como os escritos de Sheakespeare, aqueles que lhe tiraram o sono tarde da noite. Então haveria uma cerimônia qual ela vestiria branco em sedas e rendas, não o pano que lhe deram na prisão, esfarrapado e não lavado há semanas. Depois se entregaria para a pessoa que deveria ser o amor de sua vida, a ela quem jurou e jurou por ela. Mas aqui está, ao lado de uma Priestly, uma brutamontes em pele de um tipo de galã literária, a forma como se veste não condiz com suas ações que a confundem em demasiado.

Discretamente a encara com o canto dos olhos, ela parece distraída em seus próprios pensamentos, lábios curvados em um biquinho, o nariz torce de vez em quando e o azul gélido de seu olhar é distante, quase opaco. Também repara na pele pálida e macia, ainda a sente contra a própria depois de ser segurada, o cabelo levemente bagunçado jogado para um lado só e o nariz é charmoso, fino assim como todos os outros traços faciais. Se não fosse tê-la tocado e suas cores vividas, poderia achar que é uma escultura. Daquelas que levam anos para chegar a perfeição. Límpida e magnificente. Intocável. Irritante.

- Encarar é falta de educação, teus pais não te ensinaram, não?! - Miranda a repreende, sem se mover ou fazer questão de a encarar enquanto fala.

- Não tive pais. - a resposta é rápida e finalmente a faz se virar um pouco desconcertada, se sentindo culpada imediatamente, a morena sorri com a reação que causou - Estou brincando, duquesa. Tão ingênua...

- Ingênua é você por agir dessa forma comigo. - a raiva toma conta dela, mas controla-se sabendo que não vale a pena se irritar por picuinhas de uma jovem rebelde, ela era parecida na mesma idade - Se teve pais, onde estão? Eram selvagens como você?

- Perto deles, você seria a selvagem.

- Cuidado com as palavras, Andrea. Apenas quero te conhecer. Se não eram selvagens, quem eram? - o tom de voz dela é baixo, meio impaciente, isso lhe dá um arrepio na espinha e se encolhe contra o acolchoado.

- Minha mãe morreu no parto, fui criada por meu pai. Não nasceram em Bexley. - Andy responde, sem se aprofundar na própria história - E nem eu.

- E de onde você é?

As palavras se prendem no fundo da garganta enquanto ela pondera se deveria dizer ou não, as sobrancelhas se juntam e se irrita rapidamente com os questionamentos. Tudo nela a irrita profundamente. E pela segunda vez é salva pelo gongo, a carruagem para de repente e os cavalos relincham, suas ferraduras fazem barulho contra o chão de pedras. Segundos depois a porta ao seu lado é aberta pelo cocheiro, quem tem um sorriso caloroso e o suor escorre debaixo da cartola de tecido grosso, as roupas dele são igualmente pomposas e pesadas. Sentiu pena dele, depois repulsa por sua situação imposta pela patroa, então virou-se para a agora sua esposa e mostrou a língua, já que não pode usar palavras afiadas irá demonstrar seu descontentamento de outras maneiras. É encarada com confusão e logo sente ser empurrada para fora do veículo, quase caindo do pequeno lance de escadas apenas para ser segurada pelo homem, mãos grandes em volta de sua estrutura fragilizada e ele a coloca de pé ao seu lado antes de estender a mão para ajudar a duquesa a sair, ela recusa, graciosamente descendo até os pés alcançarem o chão de pedras lisas bem estruturado.

Priestly Curse - Mirandy G!POnde histórias criam vida. Descubra agora