02. A Forca e a Ladra

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Não Revisado

Agosto, 1821

As cidades grandes são fétidas, escandalosamente mal arquitetadas e cheias de mequetrefes sem alma, é assim que Andrea enxerga Bexley, ao sul perto da capital. É tão diferente de onde veio, se fechar os olhos consegue enxergar os campos verde brilhante, as árvores coloridas decorando os caminhos de estradas, rios de água tão cristalinas que refletem o azul nobre do céu e dezenas de casas com jardins bem cuidados. Lembra-se da última vez que encarou a beleza da terra natal, prestes a fugir. Buscando no fundo da mente consegue ouvir as crianças rindo e as senhoras conversando, de repente ouve o irritante tilintar de uma caneca de metal contra as grades que a cercam, seu pequeno momento nostálgico é interrompido pelo guarda, muito impaciente, esperando para que possam partir o quanto antes para a praça pública. O sol da manhã está em seu auge, queimando a pele e fazendo os olhos arderem, seja pela exposição contínua ou o suor escorrendo pela testa. O adolescente ao seu lado suspira, esfregando o cabelo para trás para que não fique no rosto, ele bate no joelho dela a fazendo finalmente abrir os olhos, os dois se encaram por um milésimo de segundo, a dor estampada por saberem o que lhes resta assim que o cavalo começar a trotar pela rua da morte. Então a jovem é tomada pela raiva que supera a tristeza rapidamente, que tipo de pessoa doente sente alegria e contentamento com a morte de uma criança? E uma desconhecida que nunca lhes fez mal? Os dois só queriam se alimentar, uma das necessidades humanas primais para continuar vivos em um mundo tão difícil, principalmente para órfãos, como Simon. Apenas 14 anos, grande parte destes vivendo nos becos e florestas, lutando por um pedaço de pão, tentando sobreviver e tudo isso para ter o destino marcado pela forca. Um pedaço de corda amarrado em um palanque para que todos, de crianças de colo a idosos, assistam.

- Isso é humilhante. - ela resmunga e cospe no chão a lado, sente-se levemente tonta - E além de morta, terei uma insolação. Os porcos recebem mais dignidade do que nós. Lhes cortam a garganta antes que possam perceber o que acontece, é rápido e prático, não precisam assistir dezenas de ratos alegres com suas mortes...

- Se cale ou seu corpo será lavagem para os mesmos porcos que fala, mendiga. - o mesmo guarda rosna, próximo a eles.

- Só se você comer eles, estou cheia de vermes que irão te comer das entranhas até o peito. - mal pensa nas palavras, mas se contenta com elas ao perceber como isso o irritou, olhos vermelhos de ódio e frustração - Estou apenas brincando, mesmo suja sou mais limpa que você.

- Andy, pare de provocar o homem ou vamos morrer antes de chegar na praça. - o menino sussurra aterrorizado.

- É o trabalho dele nos manter vivos para morrer, assim criam o teatro dos pobres. - a garota dá os ombros e se ajeita no chão da cela - Cormick, seu superior disse que poderíamos ter uma última refeição antes do grande show. Eu quero um grande caneco de cerveja. O garoto também.

Ele revira os olhos e se vira para falar com o guarda chefe, sabendo muito bem que é uma verdade, apesar da pena de morte ser uma das punições há um ato de humanidade imposta pela rainha de que aqueles no caminho para o último suspiro, ela deseja que eles, sem exceções, tenham um tipo de senso de sociedade e momento para apreciar. Seus corpos logo partirão do mundano, irão encontrar a própria passagem e levarão consigo uma pequena parte da bondade humana. É assim que Miriam enxerga e alivia o peso dos ombros, mesmo com seu cargo, toda a sabedoria e poder que possui ainda não pode mudar o que seus antepassados impuseram. Não há prisões, lugar para os males que põem a vida de outros em risco e muito menos para os que nada acrescentam, neste último os dois se encaixam. Dois jovens selvagens e sem familiares, alguém que possa cuidar deles como pais cuidam de filhos.

- Meus dedos formigam, me sinto meio estranho. Acho que um pouco de sono. - Simon relata sua primeira experiência com o álcool, rosto corado e olhos pesados, um sorriso torto enquanto tenta lidar com as sensações estranhas - É engraçado, isso aqui é bom.

Priestly Curse - Mirandy G!POnde histórias criam vida. Descubra agora