04. Conhecendo-se II

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Não Revisado

Agosto, 1821

As telhas de barro são velhas e ásperas, algumas estão quebradas, algo normal considerando o quão antiga a construção parece ser. A jovem coloca um pé nu na superfície inclinada, impulsionando o corpo com o outro pé para que consiga passar pelo batente da janela, se segurando nas bordas. Uma sensação de alívio atravessa seu corpo quando percebe que, mesmo em um vestido irritantemente complicado e muita dificuldade, conseguiu atravessar o quadrado que estava no caminho entre ela e a almejada liberdade. Andrea ergue o tecido azul claro até a altura das coxas deixando as pernas torneadas a mostra, caminhando a passos lentos e leves pela extensão da cobertura da varanda, ouvidos atentos a qualquer barulho de dentro e de fora da estalagem, apenas as conversas altas dos homens bêbados sendo ouvidas, de vez em quando o barulho dos talheres batendo ou alguns arrotos indelicados, tão altos que nem as paredes são capazes de abafar o som. Uma pequena sinfonia embalando a fuga improvisada. Quando criança se considerava um pouco mais atlética em comparação a outras crianças de seu convívio, os considerava franzinos e se orgulhava de ser capaz de subir em uma árvore sem cair nos primeiros galhos causando inveja a eles, de escalada em escalada chegou à adolescência, sendo uma garota alta desengonçada, então a seus piores anos e quando simultaneamente descobriu que na verdade ela também era franzina, apenas menos que os outros franzinos, pelo menos não era raquítica, consolou-se. Braços fracos que aprenderam a se segurar no tronco de árvores fugindo da patrulha noturna e pernas que lutaram para conseguir subir nos muros irregulares da cidade após os feitos na feira, junto ao fato de ter pernas longas que alcançaram distâncias longas sem nem perceber, isso garantiu sua sobrevivência nos últimos anos. E também a sua escapada pela escuridão da quase meia noite, no meio do nada, não sabe onde seguir, se norte ou sul, leste ou oeste, a única certeza é como. Anexado a construção principal se tem o estábulo, grande o suficiente para no máximo dez cavalos, de tão fácil acesso que chega a ser ridículo e ela sabe muito bem disso, principalmente ao constatar que não há vigia, apenas um ajudante de pouca idade que de meia em meia hora verifica os animais, contando o número e lhes dando algo de comer, lembra-se de Mary ordenando que mais tarde também tirasse as selas. Ela observou o padrão entre copos de cerveja e garfadas, presumindo ter cerca de 20 minutos para poder colocar a segunda parte do plano em ação, o suficiente.

- Porra.. - assobia de dor ao sentir a mão roçar na madeira lascada e com um movimento levar farpas consigo, daquelas chatas que entram na pele sorrateiramente e custam a sair sem a ajuda de algum instrumento ou unhas grandes, por fim decide que depois lidará com isso e segue descendo pelo suporte das calhas rústicas - Já não me bastasse... - e antes que possa voltar a reclamar em sussurros irritadiços sente o pé escorregar faltando apenas alguns lances para alcançar o chão, a próxima coisa que sabe é que está estirada contra o chão de terra, uma dolorosa queda de peito e por pouco não comendo poeira.

Em questão de segundos está de pé novamente, sem se importar em limpar a sujeira do vestido novinho, principal vítima de sua façanha, e muito menos com os joelhos e cotovelos doloridos, provavelmente ralados ao serem usados como uma tentativa de amortecer o impacto. Pelo menos não fez barulho, foi uma queda rápida, seca e silenciosa. Rapidamente verifica se não chamou atenção de alguém ou há pessoas por perto, aliviada de não enxergar nada além da escuridão relativa, os campos iluminados apenas pelo azul da lua e a luz amarelada baixa proveniente das tochas no corredor do estábulo. Um dos cavalos relincha altp como se estivesse tentando a denunciar e haveria de ser logo um dos da cavalaria Priestly, o maior dos dois, um cavalo mouro de alguns anos e grande porte, o mais arisco e independente. Ou seja, o melhor. A passos rápidos e com sorte um pouco de furtividade entra no local, praguejando as dobradiças enferrujadas por fazerem um barulho irritante aos movimentos iniciais para abrir a portela, os animais a assistem com atenção e não fazem nenhum outro barulho, talvez abismados com a ousadia ou a julgando silenciosamente esperando o próximo passo.

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⏰ Última atualização: Jul 26 ⏰

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Priestly Curse - Mirandy G!POnde histórias criam vida. Descubra agora