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HAILEY HAMILTON

Ao sair do banheiro, enrolei meu corpo na toalha branca de algodão macio, voltando para o quarto, vesti uma blusa de manga comprida vermelha, calça jeans azul escura e botas pretas de cano alto. Escovei os dentes de novo e peguei minha maleta prateada. Espero que elas estejam recarregadas, não tive tempo de olhar isso quando peguei as chaves do chevrolet cinza e tranquei a porta do apartamento. Desci as escadas até o terceiro andar e usei o elevador para sair mais rápido do prédio.

Arranquei com o carro da vaga de estacionamento assim que cheguei lá. Estava com pressa para ver Cady e chegar na base. Passei por algumas ruas rurais da Califórnia e outras estruturas básicas antes que pudesse chegar diretamente no hospital. Parei em frente aos portões brancos de checagem e mostrei minha credencial de posto militar. Visitantes que trabalham em prol de qualquer agência que tenha a ver com o hospital precisam passar pela entrada de funcionários.

Estou acostumada com a jornada habituária pela qual passo desde os meus 19 anos. Depois que entrei para a marinha e também me formei em psicológia. Algumas soldados precisam se livrar das marcas que à guerra e as batalhas são capazes de deixar em pessoas desse nível. É um dever meio profilático, por assim dizer.

Necessário ter paciência e ser resistente algumas vezes em causas honestamente perplexas e desconexas que acabam nutrindo mais traumas e ocasionando na culpa da morte dos que foram sujeitos a morte certa. Dificilmente tenho de lidar com esses tipos, às vezes são apenas gente que precisa da minha atenção. Um percentual bem baixo prestando atenciosidade em minha escala.

Me sinto em um pódio volúvel ao saber que posso ajudar milhares de pessoas, porém, nem todas elas se sentem avontade com a verdade explícita, nua e crua. A realidade pode ser dura com todo mundo algumas vezes. Temos de ser compreensivos porquê é o que se espera dos profissionais em área psíquiatra.

Andei entre os corredores brancos, outrora ainda sendo limpos diante daquele horário da manhã, passei frente as portas duplas do quarto particular de Cady. Quando apliquei minha credencial na reta do aparelho escuro sobre a parede sólida de mármore para que ele me indentificasse como funcionária, as portas automáticas rapidamente se abriram, permitindo minha passagem, entrei no quarto lilás que eles haviam pintado para ela se sentir mais confortável como se fosse sua casa.

Ela acenou para mim e quando vi já tinha levantado da cama cheia de lençois bagunçados e brinquedos espalhados por todo o lugar, somente para poder me abraçar. Com dificuldade em dar alguns passos, ela pulou com uma perna até mim e me envolveu com carinho entre seus braços pequenos, finos e delicados alisando meus cabelos loiros. Ao me soltar, um sorriso animador apareceu em sua face infantil iniciando uma boa conversa entre tia e sobrinha. Me contou sobre suas amizades com as crianças doentes do hospital.

Saber que ela estava se enturmando e se sentindo melhor o possível me alegrou ainda mais do que o comum, todavia quando deu a hora e me encontrava plenamente atrasada para o treinamento dos alistados recentemente, pousei meus olhos em suas orbes azuis e fiz um breve cafuné em sua cabeça, sem ignorar o sorriso triste e confidente que ela me lançou. Parecia entender o meu lado quando soube que teria de ir embora.

── Vai voltar pra me buscar, né? ── sua voz era de curiosidade e súplica ── O médico disse que já posso ir pra casa. ── seus olhos cintilantes me fitaram com esperança e desolação.

Ela estava com saudade de sua casa. Era óbvio e compreensível que quisesse voltar para Aspen, porém, com a sua guarda permanente sobe minha custódia e meu trabalho na Califórnia, eu não poderia e nem teria coragem o bastante para abandonar tudo e me meter na família de novo, como se nunca tivesse ido para fora, desistido de tudo que me ofereceram, corrido atrás da independência pela qual sempre fui a favor de ter.

Meus pais eram controladores, ricos e tóxicos. Eu era a típica garota de 16 anos que sonhava em cair fora daquela família absorta em seus próprios desejos que só pensavam em suas próprias vontades ao invés da felicidade de seus filhos. Eu sinto saudade deles, mas não tanto aponto de me arrepender do que fiz para ter uma vida livre fora do alcance do controle absoluto que eles queriam obter sobre mim.

── Querida, quando você se recuperar...── me sentei ao seu lado na cama do quarto ── Não vai voltar à morar em Aspen novamente. ── mordi o lábio inferior informando-a ── Vai ficar na Califórnia comigo. ── estreitei meu olhar para o seu rosto pálido.

Para a minha surpresa, as portas duplas se abriram revelando a figura tanto dos médicos quanto de Michael Jackson entrando quarto adentro de Cady. Ela ficou tão perplexa quanto eu e, sabia que estava extasiada por ver seu ídolo musical de infância. Meus familiares escutavam suas músicas desde Jackson's Five. Me lembro de sua pele ser negra antes que ele descobrisse o vitiligo universal. Uma doença que destrói a melanina da pele deixando desprotegida, vulnerável e, sem a cor natural própria.

Ela sorriu enormemente quando ele me viu e depois esquivou seus olhos castanhos na direção dela. Alguns dos seus seguranças estavam logo atrás dele acompanhados por uma mulher que, creio eu, ser sua agente de eventos sociais. Ela estava vestida formalmente enquanto sorria para Cady da mesma forma carinhosa que ele a olhava. Avistei as sacolas gigantescas de brinquedos e as crianças pequenas de outras alas do hospital correndo em direção a porta para espiar a presença surpresa dele.

── Essa deve ser sua sobrinha, ── me surpreendeu mais ainda ele lembrar de tudo o que eu disse depois da nossa primeira sessão de terapia. Ele deve ter uma memória ótima ── Cady, certo? ── perguntou retirando uma boneca claramente recém-comprada da sacola enorme e entregando-a.

 Ele deve ter uma memória ótima ── Cady, certo? ── perguntou retirando uma boneca claramente recém-comprada da sacola enorme e entregando-a

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