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HAILEY HAMILTON

Eu poderia simplesmente abdicar do direito de perguntar ou lhe oferecer o benefício da dúvida, porém, não queria parecer indecente diante da ocasião em que nos encontravámos. Seria inconveniente da minha parte interromper aquele momento lindo entre ídolo e fã. Percebi que ele tinha realmente gostado de Cady e, estava adorando a ideia vê-los brincando juntos, contudo eu tinha de literalmente correr para o meu trabalho. Estava mais do que atrasada e provavelmente levaria uma bronca do meu chefe por isso.

Michael se virou pra mim por um instante e eu soube que ele pode enxergar o meu desespero estampado em meu rosto. Se levantou, parou ao meu lado, respirou fundo e me puxou pelo braço para fora do quarto de Cady na intenção de obviamente conversar comigo sobre as minhas reações nítidas.

── Eu sei que você está atrasada para o seu trabalho, então...── escorou na parede em nossa frente e me encarou em silêncio até voltar a falar ── Que tal eu levá-la para Neverland? Hoje nós teremos visitação de várias crianças no rancho. Ela pode se enturmar e ficar brincando. Vai ser um bom exercício físico para Cady correr e pular solta por todos os lugares do vale.

Foquei em seus olhos castanho escuro. Sorri amigavelmente para ele e fui retribuida. Seus dentes brancos se mostraram extravagantes e seu sorriso encantador me convenceu por fim conquistando a ideia de que ela poderia ficar em Neverland até eu voltar do trabalho e se divertir bastante.

── Muito bem. Eu dou a notícia, você já fez muito por mim agora, Michael. Obrigada. ── agradeci atentamente.

Ele assentiu de cabeça, voltei para dentro do quarto e o deixei esperando a minha permissão para levá-la até o rancho. Me sentei na cama de Cady e retirei os fios médios que cobriam metade de seu rosto pequeno. Deslizei meus dedos por seu queixo e puxei suas bochechas rosadas entre minhas digitais para apertá-las. Ela riu da careta que fiz e mudou sua feição para algo mais alegre e feliz.

── Eu sei que você tem que ir embora. ── sua voz baixa me deixou ansiosa ── Tá tudo bem tia. Eu vou me comportar em Neverland, prometo. ── arregalei os olhos em surpresa.

── Por que eu ainda não me surpreendo com a sua capacidade? ── ela deu de ombros ── Crianças escutam tudo...── concordou de relance. Fiz cosquinha em sua barriga antes de encher ela de beijos e abraços.

Acenei para ela após fechar as portas de seu quarto. Ela vai socializar com mais crianças aqui, quem sabe não faça novas amizades? Isso vai garantir uma melhora extrema em sua saúde. Se ela arranjar alguém por perto para conversar e compartilhar o seu dia a dia além de mim, isso vai ser ótimo para nós duas.

Me despedi de Michael com receio de deixá-los sozinhos. Estava preocupada com ambos e não estava acostumada a dividir o mesmo sentimento em relação a Cady para com outra pessoa mais importante que não fosse da nossa família. Porém, ele estava lá. Na hora certa, no lugar certo. Um milagre talvez. Mas, no momento, eu não podia pensar em um motivo melhor para fazê-la sair da cama de hospital e voltar a caminhar novamente. Michael não precisava ser da família para dar atenção a gente que ele não conhecia. Era natureza dele ser dessa forma tão rara e carinhosa.

Eu tinha sorte, como a de quem encontra um baú do tesouro. Ele era uma joia rara que eu não deveria deixar passar despercebido. Talvez eu deva dar uma chance a suas investidas. Quem sabe nós não chegamos a um acordo entre duas pessoas civilizadas que se conhecem profissionalmente por meios de trabalho e intimamente por conta da nossa ligação em comum com Cady.

Entrei no carro e fechei a porta, arranquei com rapidez do centro hospitalar. Estava tão atrasada quanto ferrada com o meu chefe. Mas, vou dar uma desculpa qualquer. Nenhum homem brutamonte da Interpol vai vir me dar lição de moral só porquê estava cuidando da minha sobrinha. É o minimo que tenho que fazer como a minha obrigação de guardiã responsável.

Vamos ver se Damian vai ter coragem de se meter na minha vida depois de ouvir o que eu tenho a dizer. Tô cansada e exausta, só queria tirar as minhas férias logo, mas para isso preciso pagar de competente na frente dele só para arranjar a minha licença à folgas. Sou praticamente forçada a servir a base durante 24 horas do meu dia e, não, eu não pensei que entrando para Interpol seria tão díficil lidar com gente desse tipo como era minha rotina diária responder aos comandos severos dele.

Mas, todo mundo tem limites, inclusive uma vida particular fora da base. Ele não deveria ter o direito ao poder de achar que pode atormentar a vida de quem bem quiser só por que tem vontade. Isso é tão errado quanto injusto. Posso não ser rica, mas minha renda financeira não é nenhum pouco baixa. Posso me virar sozinha e cuidar da minha sobrinha sem ter que passar cada 24 horas longe dela.

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⏰ Última atualização: Oct 01, 2023 ⏰

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