7 - os filhos do mar

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Surya

O meu irmão sempre foi um garoto muito ativo, e ficar parado não é o seu forte. A tripulação do Tyrus haviam embarcado sem ele dessa vez, para que o mesmo pudesse tirar uns dias de folga.

O trabalho de um capitão nunca parava, mas o meu irmão conseguia passar uma boa temporada em descanso enquanto tivesse um substituto à altura — como o Dante.

Ele é o seu melhor amigo e braço direito, e com certeza ficou como o responsável pela liderança dos tripulantes. Afinal, o Dante é o único que obtinha a total confiança do meu irmão.

Mas o Tyrus não conseguia ficar parado por tanto tempo, e um mês inteiro seria quase um pesadelo para o garoto da alma livre. Ele me encarava com seus olhos verdes inquietos ao me ver se arrumar para mais um dia de trabalho, e eu não precisava esperar que o meu irmão fizesse a pergunta que eu já conseguia ver em seu semblante. Eu o conhecia bem demais para ler suas expressões e saber que telepaticamente, ele me perguntava o que fazer durante um dia inteiro.

Eu abrir um sorriso brincalhão para o mesmo assim que finalmente o encarei de volta.

— Sabia que tem muitas coisas que se pode fazer em uma casa?

Ele resmungou enquanto me lançava um olhar de tédio.

— Você sabe que tarefas domésticas não combinam comigo.

— É por isso que o seu barco vive igual a um chiqueiro?

Tyrus franziu o cenho em repreensão.

Ele sempre levou a ideia de ser o mais velho muito a sério, embora que sejam poucos os anos que nos diferenciam.

— Você não sabe de nada.

— Eu sei o suficiente para saber que vocês precisam de alguém que lide com a sujeira que vocês fazem. Um dia, vai ser impossível navegar com aquele monte de lixo.

Ele abriu um sorriso malicioso enquanto se colocava de pé, contente com o rumo que o assunto estava tomando.

— E por acaso você seria essa pessoa, irmãzinha?

Dei de ombros, fingindo não estar interessada com a isca que eu lancei.

— Se você está falando...

Tyrus soltou uma gargalhada sincera, me deixando feliz por ter conseguido distrair o mesmo. Embora eu realmente estivesse falando sério sobre viajar com ele na sua próxima missão.

Eu sempre quis conhecer outras cidades e outros reinos. Achava fascinante a ideia de ver outros lugares, mesmo que as missões do Tyrus fossem á trabalho e não para um mero lazer.

Em seguida, ele se aproximou de mim. Agora me encarando com um semblante sério, e eu sabia o que vinha em seguida.

— Eu sei que você quer sair de Claire, esse também era o meu pensamento quando eu comecei a trabalhar com contrabandistas. Mas escute, Surya. A vida naqueles reinos também não são as melhores para quem não tem sobrenome como nós. — ele colocou as mãos em meu rosto, para se certificar de que eu estivesse o ouvindo. — Não teríamos vida melhor só por conta de uma cidadania.

O Tyrus estava certo, nós não seríamos respeitados só por nos tornarmos cidadãos de Glessia ou Loockwood. Mas ao menos, poderíamos trabalhar honestamente e dormir sem temer que alguém possa invadir e roubar a nossa casa enquanto nos prendem, abusam ou matam.

Não teríamos respeito, mas finalmente encontráramos um pouco de paz.

— A vida melhor que eu desejo para nós não está nas condições financeiras, Tyrus. Está na dignidade. — tirei as mãos dele do meu rosto e segurei com firmeza. — Você sabe o que é dormir tranquilo sem temer que alguém possa cortar a sua garganta a troco de nada?

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