All these years | Chaelisa

11

Roseanne

O cabelo dela estava um pouco mais longo, claro que estaria, havia se passado treze anos, ela estava maior, mais forte, com os braços mais fortes e sem aquela aparência de garota que estava se formando na vida adulta. Seus fios estavam pretos, quando ela se foi, seus fios estavam em um laranja, vivido, e agora, seus olhos eram de um verde um pouco acizentados, como castanhos, mas o seu perfume, ele sempre continuaria o mesmo.

Meu corpo travou, não consegui me mover, era como uma corrente elétrica, pegando cada pedaço do meu corpo, não me permitindo anunciar uma única palavra a não ser o seu nome.

Ela estava culta, não usava mais as suas calças moletons e as suas camisetas largas, não usava mais all-star, Lalisa não era mais a adolescente de dezoito anos. Claro que não. Havia se passado treze anos.

Me levantei, minhas pernas fraquejaram e eu pensei que cairia, mas isso não aconteceu, andar sobre os meus saltos parecia difícil, e foi, até me colocar na frente da minha mesa, sem tirar os meus olhos dela, ela fez a mesma coisa, com aquela calça jeans preta junto a uma camisa social, mordi a parede da minha bochecha e senti o gosto de sangue, ela estava de volta.

- Quem é vivo sempre aparece não é?

- É, estou de volta.

- Sério? Eu não percebi - respondi, cruzando os braços, mas contendo as lágrimas que queriam vir a tona, mas não, ela não teria aquele gosto de me ver chorar, não de novo - O que você quer?

- É bom te ver de novo, Rosé.

- Não digo o mesmo. A sua vida na Europa não deu certo? A sua amante te largou?

- Isso não importa.

- Algo deve importar, pra você voltar assim do nada.

- Importa pra você, não é?

- Deveria?

- Parece que sim, parece que está sentida sobre isso.

Eu dei uma risada jogando a minha cabeça para trás juntamente, fingi secar uma lágrima e ofereci um sorriso sarcástico a mulher.

- Sim, Lalisa, o mundo gira entorno de você, tudo é sobre você, e é claro que estou sentida sobre sua volta, não está vendo as minhas lágrimas?

- Uau, continua a mesma Roseanne sarcástica de sempre, as coisas não mudaram tanto pelo o que parece - respondeu, se sentando no sofá a minha frente - Vamos ao assunto em pauta, Laila e Lohan.

- Ah sim, os meus filhos, o que você quer com eles?

- Os nossos filhos, Rosé.

- Nossos? Você quer mesmo falar que eles são os nossos filhos, Lalisa? Pelo o que eu saiba, você não é mãe só por ter ajudado a fecundar o seu espermatozoide com o meu óvulo. Que eu saiba, mãe, ou pai, é quem passa noites acordados, quem trabalha para dar o melhor, a melhor casa, a melhor comida, a melhor educação. Que eu saiba, mãe, ou pai, são aqueles que dão carinho, colo, proteção, são aqueles que amam, e que não abandonam assim que tem a oportunidade. Então você realmente acha que é a mãe deles? Reveja o seu conceito de maternidade, Lalisa, porque realmente você ainda não o conhece.

- Quem é Zach?

- Meu namorado, pai dos meus filhos - Lalisa riu, respirou fundo e me olhou de cima abaixo, seu olhar me fez tremer.

- Você sabe que está errada, não sabe?

- Em que parte?

- Por não ter falado de mim para os dois.

- Ah sim, claro, e o que eu falaria? Olha, essa é a mãe de vocês, a mãe que correu e se escondeu nas asas dos seus avós quando descobriu que ter responsabilidade não era algo que se comprava e sim que se adquiria. Olha, Lohan, essa é a sua mãe, você sabia que ela foi embora quando você estava completando dois meses? E que nesses dois meses ela nunca, NUNCA, te pegou no colo? Olha, Laila, essa é a sua mãe, a que sempre esquecia de te dar mamadeira quando eu estava trabalhado, porque estava ocupada demais jogando videogame, tão ocupada jogando que não tinha tempo PRA ALIMENTAR A PRÓPRIA FILHA! É isso que você quer que eu fale? Ok, eu posso falar isso bem agora.

- Não faça isso.

- Zach segurou na nossa mão quando você decidiu soltar. Zach assumiu duas crianças que não são do sangue dele, ele ajudou, ele trabalhou, ele educou Laila e Lohan para serem as crianças maravilhosas que são hoje. Zach foi o príncipe de Laila, foi o que se sentava com ela para brincarem de tomar chá, pintar as unhas, qualquer porra que VOCÊ deveria estar fazendo. Zach é o super herói de Lohan, foi ele que o aplaudiu de pé quando ganhou o primeiro prêmio de artes, foi ele que leu histórias e que sempre verificou os armários e atrás das portas por conta de monstros idiotas, coisa que VOCÊ deveria ter feito. Então não venha me dizer que você é mãe dos meus filhos, quando você não é.

Lalisa ficou calada, olhando para as suas mãos que estavam em seu colo, ela mordeu o lábio inferior e suspirou, um suspiro forte. Me controlei, chutei as lágrimas para dentro, tentei me desfazer do nó que bloqueava a minha garganta, prestei atenção em qualquer coisa, e parei de focar em querer gritar o quando a odiava por ter criado um mundo fantasioso na minha cabeça e depois o desfazê-lo sem dó algum.

Ela um dia foi tudo pra mim, e no outro, não era absolutamente nada.

- Você deixou de ser mãe no momento que abandonou os seus filhos, Lalisa, e você sabe disso.

- Rosé, éramos adolescentes! Você só tinha quinze anos! Você queria que eu fizesse o que?

- ESPERASSE! - gritei, relembrando cada segundo - Eu falei, uma, duas, três, quatro, cinco vezes! Eu falei que não estava pronta para fazer aquilo! E mesmo assim você fez! Você me manipulou para transarmos quando eu tinha QUATORZE ANOS, LALISA! Quem tem a porra de um pau é você e não eu! Quem não usou camisinha foi você! Mesmo eu implorando inúmeras vezes para que você a usasse!

- Eu sei.

- É você sabe?! Você sabe também que depois que foi embora, minha mãe me expulsou de casa com duas crianças de colo? Você sabe que eu e eles dormimos na rua? Você sabe que passamos fome durante um bom tempo?! Você sabe de tudo isso? E sabe aonde você estava? Você estava na porra da Europa na mansão dos seus pais enquanto a sua namorada e os seus filhos passavam frio e fome no meio da rua! Eu tive que parar de estudar, Lalisa, tive que parar de viver pra poder viver para Laila e Lohan! Então você agradeça que Zach tenha aparecido em minha vida, em nossas vidas, porque se ele não estivesse aqui, provavelmente os "seus" filhos também não estariam vivos.

Mais uma vez, respirei fundo, afogando as lágrimas para dentro de mim, eu não choraria na frente dela, não igual quando ela me deixou, eu não faria isso, nunca mais.

- Eu posso pelo menos ver os dois?

- Me de um motivo para que eu deixe esse evento acontecer.

- Eu já os vi - me encarou - A sua melhor amiga vem me ajudando com isso des que cheguei. Foi eu que os levei na Celine, eu que dei o presente aos dois, sou eu a pessoa que a Laila acha tão parecida com ela. Então facilite as coisas, por favor.

- Facilitar as coisas? Facilitar as coisas?! Por um acaso alguém facilitou as coisas pra mim? Me responde isso. Você chega agora e acha que tem algum poder, Lalisa? Me faça rir, por favor.

- Acho melhor fazermos isso perante a lei, já que conversando com você, será mais difícil.

Eu gargalhei naquele segundo.

- Isso, faça isso, acho que no mínimo você será presa, pois se bem me lembro, eu tinha quatorze e você estava pra completar dezenove, você usou manipulação para me levar para cama e de acordo com a lei, isso pode ser interpretado como estupro. Bom, você sabe, eu sou advogada, eu entendo bem sobre esse assunto. Então pense, pense muito no que irá fazer em relação aos meus filhos, Lalisa, por qualquer passo seu, pode te levar para a cadeia. Você precisa de mais alguma coisa? Tenho listas e listas para jogar na sua cara de o quão medíocre você foi, e posso lista-las sem pressa alguma.

- Eles irão embora comigo, Roseanne, e não vai ser você que irá impedir - ela rugiu, se aproximando de mim, eu ergui o meu corpo e levantei a minha cabeça a sua altura, podendo sentir a sua respiração contra o meu rosto.

- Tente algo com os meus filhos, apenas tente, que eu juro que não serei tão paciente com você, Lalisa. Agora de meia volta, saia do meu escritório e volte para as asas dos seus pais.

Ela me olhou com raiva, se afastou e saiu, batendo a porta com tanta força que pude sentir as paredes do escritório tremer. Relaxei naquele segundo.

Mau sabendo o inferno que viria pela frente.