Capital final

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Lalisa

Meu coração martelava tão fortemente que eu sabia que a qualquer segundo eu perderia o compasso nada perfeito no qual ele batia. As luzes não eram o suficiente para me fazer enxergar, passos rápidos ainda me faziam quase tropeçar, e os gritos de agonia me fazia chorar também. Eu sentia o suor escorrendo pela a minha testa, a cada porta dupla aberta, a cada ranger das rodinhas, e a cada "respira". Respira?! O que era respirar?!

Tudo, tudo aquilo, se juntando a sensação do aperto em meus dedos que ela dava, a dor era excruciante, só não era tão aguda quanto aos seus gritos. Céus, os seu gritos me faziam ir ao céu e ao inferno em menos de dois milésimos, meus olhos se enchiam de lágrimas e eu apenas segurava a sua mão, sussurrando que tudo ficaria bem, eu estava ali e que tudo ficaria bem logo.

Se afastar não era uma opção, ceder ou desmaiar não era a porra de uma opção naquele segundo, mas eu tive que fazer, apenas para colocar uma roupa especial junto a máscara, correndo desesperadamente até a minha mulher, me posicionando atrás dela, voltando a ser o seu saco de bancada, fechando os olhos e beijando a sua testa tão suada, que a sua pele brilhava em pura água.

A cada médico que se aproximava, Rosé soltava um grito apavorante em misericórdia, me fazendo chorar mais e mais, eu não a abandonei em nenhum segundo, segurando a sua mão, acariciando os seus fios encharcados, mesmo que não a confortasse, era uma forma de mostrar que eu estava ali, e que eu nunca, nunca iria sair dali, do seu lado.

- Ok, Roseanne, vamos lá, o primeiro bebê já está posicionado perfeitamente, pronto para vir ao mundo. Você precisa fazer força, está bem? Vamos lá, um, dois, três! Empurre, Roseanne, empurre!

As minhas pernas tremeram quando ela gritou, erguendo a sua cabeça e a jogando para trás novamente, ofegante, buscando por ar, acho que eu também buscava por ar, pois me sentia um pouco tonta, será que eu desmaiaria? Não, não, Lalisa, não, você precisa ser forte, você precisa, por ela, por eles.

- Ótimo, Roseanne, mais uma vez. Um, dois, três!

Mais um grito, mais dor em minhas mãos pela força, e mais vontade de cair no chão e chorar como uma criancinha medrosa, puta merda eu tinha trinta e três anos e ainda passaria mau com aquele tipo de coisa?!

É claro que sim!

Eu tive essa certeza quando o choro ensurdecedor ocupou a sala, as minhas vistas realmente ficaram turvas, e tudo, absolutamente tudo girou por cerca de um minuto, me fazendo voltar ao sentir ela me chamando.

Não morre agora, porra!

- Oi, minha rosie, eu estou aqui, você está indo bem! Você consegue, eu estou aqui.. eu estou aqui..

- Pronto, Roseanne, você ainda tem mais dois bebês para trazer a nós, vai dar tudo certo, ok? Vamos lá, mais uma vez. Um, dois, três!

Pressionei a minha testa contra a dela quando ela gemeu em dor, sentindo os nossos suor se conectarem, minha respiração se intercalando com a dela, tão ofegante quanto, meus olhos em apelo para que tudo aquilo cessasse, eu não aguentava vê-la com dor.

- Um, dois, três!

Mais um choro, mais um grito, mais uma vez me sentindo ir ao ápice do paraíso, voltando com força até ela, foi inevitável não sorrir, quando vi um pequeno nos braços de uma enfermeira, ele ou ela, ainda esgoelava fortemente, sendo limpo do sangue, tentando entender o que estava a acontecendo.

- Você já está quase no fim, Roseanne, falta apenas mais um, apenas mais um. Você irá conseguir, um, dois, três!

Dessa vez, mesmo se eu tentasse, eu não aguentei, cedendo e caindo de joelhos, soluçando com tanta força que era um pouco mais alto que o último choro, sentindo o leve alívio em minha mão quando ela parou de aperta-la, eu simplesmente não tinha mais forças para ficar de pé, naquele segundo as minhas pernas não funcionavam mais.

All these years | Chaelisa Onde histórias criam vida. Descubra agora