Ao sul de lugar nenhum.

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Acordei com o som do meu despertador ecoando pelo quarto junto com o som da chuva batendo na minha janela. Que ótimo, meu primeiro dia em uma escola nova e pra melhorar ainda mais meu humor estava chovendo muito lá fora.
Enterrei a cabeça no meu travesseiro afim de abafar meus ouvidos e não ouvir o despertador mas infelizmente ouço minha mãe chamando pelo meu nome no andar de baixo. Juntei toda a animação e entusiasmo e arrastei minhas pernas para fora da cama tateando o botão soneca do despertador com uma das mãos.
- Ariane! - Minha mãe gritou de novo.
- Já estou descendo - gritei de volta me vestindo.
Desci as escadas do andar de baixo sentindo o cheiro do café vindo da cozinha. Meu irmão estava sentado junto a bancada com um pedaço de wafer na boca e os olhos fixos no livro que estava no seu colo.
Parei subitamente diante aquela cena.
- Certo, eu vou voltar pro meu quarto, descer as escadas e quando eu chegar aqui quero ter a certeza de que isso não é um sonho - Falei com a mão no peito como se eu acabasse de ter uma parada cardíaca.
Meu irmão desviou os olhos do livro inclinando a cadeira pra trás me avaliando.
- Alguém tem que ser o orgulho dessa família - Disse ele sorrindo convencido. Nós não somos muito parecidos, a não ser a pele clara, o cabelo escuro e o mesmo tipo de humor ninguém sequer imaginaria que somos irmãos. Ao contrário de mim meu irmão tem facilidade em se enturmar, é ótimo em natação, e tem um péssimo gosto pra música. Uma das poucas vantagens que eu tinha ao meu favor eram meus olhos azuis.
- Sinto muito, essa posição já é minha - falei dando uma piscadinha pegando uma caneca de chocolate quente da mesa.
- Não foi isso que dizia seu histórico - avisou-me minha mãe saindo da dispensa.
Me afoguei com o chocolate tossindo varias vezes tentando fazer o ar voltar aos meus pulmões.
- Tenho direito a um advogado? - Perguntei sentando ao lado do meu irmão que me deu alguns tapinhas nas costas.
Minha mae vestia um avental, seu cabelo castanho estava preso a um coque um pouco bagunçado com uma mecha insistindo em cair sobre seus óculos. Ela parecia estar procurando alguma coisa em meio a aquele monte de tigelas.
- Sabe... - Disse minha mãe virando-se na nossa direção agora segurando uma faca - Vocês só podem ter puxado esse lado do pai de vocês - Ela bufou fazendo a mecha sair da frente dos seus olhos azuis mas voltando em seguida - Na idade de vocês eu era a melhor da turma e tinha vários "pretendentes"- Contava ela orgulhosa e distraída gesticulando com a faca na nossa direção. Eu e meu irmão nós esquivávamos de um lado para o outro com medo da faca sair voando a qualquer momento. - Uma vez, um garoto...
-Okay mãe nós entendemos - interrompeu meu irmão levantando da cadeira indo em direção a ela com cuidado - Agora por favor, larga essa faca antes que acerte o olho da Ariane - Ela virou-se na direção dele fazendo-o desviar rapidamente - Ou o meu... - Disse ele pegando a faca de sua mao.
Ela sorriu.
- Eu não iria fazer uma coisa dessas, querido. Contratar uma empregada doméstica é muito caro.
- Mamãe e suas demonstrações de afeto. - Falei tentando parecer emocionada.
- Prometo que expressarei todo meu amor por vocês na escola. - Avisou ela.
Eu e a minha boca.

É sobre seu abraço - Lesbicas.Onde histórias criam vida. Descubra agora